Giuseppe é socorrido às
pressas em sua casa nos arredores de Milão. Estava bastante febril, era como se
o seu corpo estivesse literalmente pegando fogo. As tosses aumentaram e uma
inquietação tomava-lhe a mente e as emoções. A suspeita de estar com o Coronavírus
era concreta, não apenas pelos sintomas, mas porque seus pais, octogenários que
residiam com ele, estavam afastados do convívio familiar há alguns dias. Foram
igualmente socorridos e, desde então, não tinha mais notícia deles.
Estava apreensivo com toda
esta situação. Desempregado, recentemente separado da sua esposa, Giuseppe
vivia um drama familiar e particular. Isto fez com que diminuísse grandemente
as suas resistências imunológicas. E foi num bar que Giuseppe teve contato com
o vírus que devora vidas de modo selvagem.
Teria sido ele o agente
transmissor para seus pais? Esta pergunta inquietava sobremaneira a sua
consciência.
Ao chegar a uma espécie de
hospital da campanha, procurou saber sobre o paradeiro de seus pais. Logo soube
que eles haviam morrido. Os responsáveis em dar o atestado de falecimento e
fazer a comunicação estavam tão assoberbados de trabalho que a notícia estava
sendo dada, de modo geral, com algum período de atraso.
Queixou-se intimamente. Era
ele o culpado por aquela situação. Isto fez com que a sua saúde debilitada
piorasse mais. Chorava copiosamente naquele isolamento. Era bem atendido, à
medida das possibilidades, mas o remorso era gritante dentro de si. Não
conseguia se perdoar.
O que faria desde então? Que
providência tomar? Tudo era muito confuso na sua mente. Incomunicável a partir
de agora, nada poderia falar aos familiares também acometidos com o Coronavírus
ou na defensiva para não recebê-lo em seu organismo.
Só, Giuseppe começou a pensar
na vida. O que fez e o que deixara de fazer. Sua culpa aumentava quando
identificava que poderia ter agido de outra maneira com muita gente, inclusive
com seus pais.
Remorso e culpa se misturavam
num embate interior que somente lhe destruía as resistências mínimas que ainda
possuía.
Foi neste momento que,
divagando em seus pensamentos, imaginou que estaria no céu e o que diria a
Deus?
Pedira, antecipadamente,
perdão por tudo que cometera impensadamente. Fora um tolo em boa parte da vida.
Um orgulhoso inveterado. Alguém que somente pensava nele e em ninguém mais.
Todos os outros existiam apenas para servi-lo em suas necessidades.
Perdão, perdão, perdão...
Foi então que começou a
dormir depois de muito tempo em vigília.
O que está por trás da
história de Giuseppe representa, guardadas as proporções e finalidades, o mesmo
bastidor de milhares de histórias dos que estão sendo acometidos pela ação
nefasta do Coronavírus.
Giuseppe, na sua encarnação
transata, fora um beberrão contumaz. Vivia na noite e o pouco que amealhava,
fruto de seu trabalho, gastava com mulheres e bebidas.
Num desses encontros,
conheceu Belinda. Uma mulher atraente com a qual se encantou fortemente.
Belinda passou a ser a razão da sua vida. Com ela teve dois filhos. Parecia que
Belinda finalmente tinha conseguido aquietar os impulsos materialistas de
Giuseppe.
Passado algum tempo do
casamento, Giuseppe volta a frequentar novamente os bares e a noite. Num desses
dias memoráveis na vida de um homem preso aos prazeres carnais, conhece uma
bailarina de cabaré que lhe entorta a cabeça.
Sentindo ser correspondido,
Giuseppe abandona a família e parte para outra cidade com a bela bailarina.
Cheio de paixão e volúpia, Giuseppe começa outra vida, distante do seu lar
original, e sem nenhum tipo de constrangimento ou sentimento de culpa.
O tempo passa. Giuseppe
desencarna e reencontra a sua antiga família. Chega o momento do ajuste de
contas com a sua consciência. Irascível, acha que nada fizera de mal para
aquelas pessoas. Compreendia a situação criada à sua maneira e conveniência.
Ora, por que atrapalhar a vida deles se agora amava outra mulher e desejava
seguir outro caminho? Pensou que mais cedo ou mais tarde, Belinda encontraria
outro homem e que cuidaria de tudo.
Um egoísta por tendência não
consegue enxergar a dor do outro, até porque ela não existe, dada a sua
incapacidade de exercitar a empatia.
Pois bem, Giuseppe volta ao
corpo físico. Seus dois filhos seriam seus pais nesta nova encarnação. Sua mãe
aceitou ser sua filha no novo relacionamento que teria com sua antiga bailarina
que, como da outra vez, o abandonaria.
Sua filha, com a qual nutria
grande sentimento sem saber o porquê, tratou de dar a ele conselhos para o bem
e o incentivava, o tempo todo, para mudar seus pensamentos e o modo de agir.
Sua esposa novamente o
abandonou indo morar com outro e levando a filha querida. Desde então, ficara
na casa dos pais e remoía-se interiormente de saudade da filha que,
efetivamente, o amava e pedia por ele a Deus nas suas orações diárias.
Foi este remorso e culpa do
passado que vinha-lhe agora à mente e ele não conseguia explicar a intensidade
daquele sentimento transbordante nas lágrimas que solvia.
Giuseppe fazia, enfim, o seu
ajuste de contas. O Coronavírus representava, tão-somente, um subterfúgio para
que ele pudesse encarar a sua verdade interior frente a frente.
Giuseppe, até este momento,
estava moribundo no hospital de campanha, mas seu destino, como o dos outros em
penitência interior, será o de exílio do corpo físico e, em momento vindouro e
propício, reencontrar-se com a sua própria consciência e proceder a mudança de
comportamento que a reencarnação sempre proporciona na vida das pessoas.
A vida de Giuseppe, como a
sua, está nas suas mãos.
Combata o vírus do egoísmo e
da indiferença.
Seja solidário com a dor do
outro. Promova a mudança inadiável dos seus pensamentos e atos.
O mundo será melhor quando
cada ser humano provocar a sua mudança particular.
Seja você com Deus!
Ariosto – Blog de Carlos
Pereira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário