Se a vida estivesse
circunscrita ao período que vai do berço à tumba, se as perspectivas da
imortalidade não viessem esclarecer sua existência, o homem não teria outra lei
senão a de seus instintos, apetites e gozos. Pouco importaria que amasse o bem
e a equidade. Se não faz senão aparecer e desaparecer nesse mundo, se traz
consigo o esquecimento de suas esperanças e afeições sofreriam tanto mais
quanto mais puras e mais elevadas fossem suas aspirações; amando a justiça,
soldado do direito, acreditar-se-ia condenado a quase nunca ver sua realização;
apaixonado pelo progresso, sensível aos males de seus semelhantes, imaginaria
que se extinguiria antes de ver triunfar seus princípios.
Com a perspectiva do nada,
quanto mais tivesse praticado o devotamento e a justiça, mais sua vida seria
fértil em amarguras e decepções. O egoísmo, bem compreendido, seria a suprema
sabedoria; a existência perderia toda sua grandeza e dignidade. As mais nobres
faculdades e as mais generosas tendências do espírito humano terminariam por se
dobrar e extinguir inteiramente.
A negação da vida futura
suprime também toda sanção moral. Com ela, quer sejam bons ou maus, criminosos
ou sublimes, todos os atos levariam aos mesmos resultados. Não haveria
compensações às existências miseráveis, à obscuridade, à opressão, à dor; não
haveria consolação nas provas, esperança para os aflitos. Nenhuma diferença se
poderia esperar, no porvir, entre o egoísta, que viveu somente para si, e frequentemente
na dependência de seus semelhantes, e o mártir ou o apóstolo que sofreu que
sucumbiu em combate para a emancipação e o progresso da raça humana. A mesma
treva lhes serviria de mortalha.
Se tudo terminasse com a
morte o ser não teria nenhuma razão de se constranger, de conter seus instintos
e seus gostos. Fora das leis terrestres, ninguém o poderia deter. O bem e o
mal, o justo e o injusto se confundiriam igualmente e se misturariam no nada. E
o suicídio seria sempre um meio de escapar aos rigores das leis humanas.
A crença no nada, ao mesmo
tempo em que arruína toda sanção moral, deixa sem solução o problema da
desigualdade das existências, naquilo que toca à diversidade das faculdades,
das aptidões, das situações e dos méritos. Com efeito, por que a uns todos os
dons de espírito e do coração e os favores da fortuna, enquanto que tantos
outros não têm compartilhado senão a pobreza intelectual, os vícios e a
miséria? Por que, na mesma família, parentes e irmãos, saídos da mesma carne e
do mesmo sangue, diferem essencialmente sobre tantos pontos? Tantas questões
insolúveis para os materialistas e que podem ser respondidas tão bem pelos
crentes. Essas questões, nós iremos examinar brevemente à luz da razão.
Trecho do livro "O
Porquê da Vida" de Léon Denis
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