A
providência Divina vale-se precisamente dos imperfeitos para ajudar os mais
imperfeitos. Quem poderia alcançar estes, senão aqueles que ainda estão a
caminho com eles? A distância entre nós e os que já se redimiram é tão grande,
em termos vibratórios - para usar uma palavra mais ou menos aceita - que
dificilmente conseguem eles alcançar-nos, para um trabalho direto, junto ao
nosso espírito.
Como seres
imperfeitos, temos, pois de viver com o semelhante, também imperfeito. Não há
como fugir de ninguém e isolar-se em torres de marfim, mosteiros inacessíveis,
grutas perdidas na solidão. Nosso trabalho é aqui mesmo, com o homem, a mulher,
o velho, a criança, seres humanos como nós mesmos, com as mesmas angústias,
inquietações, mazelas e imperfeições. O que enxerga um pouco mais ajuda o cego,
mas talvez este disponha de pernas para caminhar e pode, assim, amparar o coxo.
E quem sabe se o aleijado dispõe de conhecimento construtivo que possa
transmitir ao mundo? Este, um dia, no futuro, voltará a falar, para ensinar e
construir. Somos, pois, uma tremenda multidão de estropiados espirituais, e a
diferença evolutiva entre nós, aqui na Terra, não é lá grande coisa. Vivemos
num universo inteiramente solitário, no qual uns devem suportar e amparar os
outros, ou, na linguagem evangélica: amar-nos uns aos outros. Não é difícil. E
é necessário. E como!...
Daí a
recomendação de vigilância. Não é que tenhamos que nos isolar, numa redoma ou
numa couraça, para nos defender dos párias, que nos cercam por toda parte. Será
que ainda não descobrimos que somos párias também? A vigilância é para que
fiquemos, apenas com os males que nos afligem intimamente, e façamos um esforço
muito grande para nos livrarmos deles. Ai de nós, porém, se, às deficiências
que carregamos, somarmos as que recebemos por "contágio espiritual".
Isto se dará, certamente, se, em vez de cuidarmos, por exemplo, de aniquilar a
nossa arrogância, passarmos a imitar a avareza do irmão que segue ao nosso
lado, ou a irresponsabilidade de outro, ou o egoísmo de um terceiro. É nesse
sentido que deve funcionar o mecanismo de advertência. Já bastam as nossas
mazelas. Para que captar outras que infelicitam os companheiros de jornada?
Livro: Diálogo com as Sombras
Hermínio
C Miranda
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