6.9.19

Erros e Acertos

A maneira mais fácil de acertar é errando.
Claro, à medida que tento acertar e não consigo, sei, por dedução, que este não é o caminho que devo perseguir.
Como não temos a sapiência total, o erro passa a ser o nosso degrau para o acerto. Isto só é possível, porém, para quem tem a vontade de acertar, pois há aqueles que simplesmente passam pela vida e nem sabem a razão direita porque estão por aqui.
Quando eu era rapaz, muito envolvido com as coisas da religião, tinha uma vontade muito grande de acertar na minha escolha sacerdotal. Não podia errar, afinal, fui eu quem escolhi esse caminho.
Essa vontade de acertar fez-me, muitas vezes, cometer equívocos. Como estava inclinado ao acerto foi positivo verificar – é certo com algum nível de frustração – que aquela decisão estava equivocada.
A minha vida inteira foi um revezamento natural de erros e acertos, o que não quer dizer que errei mais do que acertei. Na verdade, a idade vai nos ensinando coisas que não repetimos mais se estamos devidamente atentos.
Um desses erros com o intento de acertar foi minha ida para o Integralismo. Minha vontade era mudar o mundo, estava cheio de entusiasmo e aquela proposta pareceu-me libertadora, patriótica, cristã. Não era de todo assim e fui, aos poucos, me deixando levar pela razão dos fatos e, do mesmo jeito que entrei, sai.
Esta constatação doeu-me um pouco a mente e alma. Parecia tudo certo, tudo fazia sentido. Quando colocado em prática, determinadas teorias não se encaixavam bem, mostravam-se inconsistentes. O que temos que fazer é não nos agarrarmos a ela como tábua de salvação, nem querer justificar o injustificado, mas se desapegar com consciência e ponderação.
Esse comportamento vejo hoje em muitos jovens e adultos. Não os condeno, nem os absorvo da análise, pois que o entusiasmo como que cega os nossos sentidos. É necessário, no entanto, estarmos abertos para as críticas, para o pensamento adverso, para aqueles argumentos que nos impacienta.
Se tais argumentos forem fervorosamente fieis à realidade, o que fazer se não os admitir?
Se, porém, demonstrarem fragilidade, mantenhamos os nossos pontos de vista.
A opinião contrária à nossa nos ensina mais do que aquela que apenas confirma o nosso modo de ver as coisas.
Se diverges do meu pensamento originário, se mostras argumentos mais sólidos que os meus, se tens uma lógica mais consistente que a minha, por que não as aceitar e incorpora-las às minhas novas crenças desse momento em diante?
A admissão do erro mostra o seu compromisso com a verdade.
Isto se dá em todos os campos do saber e de atuação do homem. A realidade de hoje pode perfeitamente se constituir na ilusão do amanhã. Não é assim que vive a ciência?
Apegar-se demasiadamente a pontos que não mais aderem à realidade é perda de tempo e demonstração de orgulho.
Por que, então, não aceitar a verdade nova até outra melhor tomar o lugar dela?
Eu sempre fiz isso, por mais que doesse a alma.
Muitas coisas parecem a expressão genuína da verdade, mas escondem sementes de imperfeição. O mesmo se dá naquilo que está em erro e pode conter conteúdos aproveitáveis. É bom apenas tomar cuidado para não cair nas armadilhas dos sofismas.
Aqui no plano espiritual da vida vejo muito isso.
Ao apegar-se demasiadamente a pontos de vista materialistas, o ser humano abraça-se com a ilusão e a fantasia. Teima em aventurar-se numa falsa realidade e depois tem como consequência a desilusão.
O peso de sair da ilusão deve ser enfrentado com altivez e sem vergonha alguma de reconhecer que aquele não é o melhor caminho indicado, embora aos seus olhos momentaneamente assim parecesse, sobretudo nestes tempos espetaculares que vivemos.
Jesus, a esse propósito, adiantou-nos que ao conhecer a verdade ela nos tornaria livres. Livres, sobremodo, da ilusão e da ignorância.
Se alguém me abre os olhos, em vez de condená-lo, devo agradecer a ele. Foi esse alguém que me fez ganhar tempo e fugir da minha obscuridade.
Meus amigos, a vida é assim, não tem como fugir. O erro de hoje pode ser o caminho do acerto do amanhã. E a vida prossegue a nos ensinar sempre, mas é imprescindível que estejamos abertos para aprender.

Helder Camara – Blog Novas Utopias

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