A maneira mais fácil de
acertar é errando.
Claro, à medida que tento
acertar e não consigo, sei, por dedução, que este não é o caminho que devo
perseguir.
Como não temos a sapiência
total, o erro passa a ser o nosso degrau para o acerto. Isto só é possível,
porém, para quem tem a vontade de acertar, pois há aqueles que simplesmente
passam pela vida e nem sabem a razão direita porque estão por aqui.
Quando eu era rapaz, muito
envolvido com as coisas da religião, tinha uma vontade muito grande de acertar
na minha escolha sacerdotal. Não podia errar, afinal, fui eu quem escolhi esse
caminho.
Essa vontade de acertar
fez-me, muitas vezes, cometer equívocos. Como estava inclinado ao acerto foi
positivo verificar – é certo com algum nível de frustração – que aquela decisão
estava equivocada.
A minha vida inteira foi um
revezamento natural de erros e acertos, o que não quer dizer que errei mais do
que acertei. Na verdade, a idade vai nos ensinando coisas que não repetimos
mais se estamos devidamente atentos.
Um desses erros com o intento
de acertar foi minha ida para o Integralismo. Minha vontade era mudar o mundo,
estava cheio de entusiasmo e aquela proposta pareceu-me libertadora,
patriótica, cristã. Não era de todo assim e fui, aos poucos, me deixando levar
pela razão dos fatos e, do mesmo jeito que entrei, sai.
Esta constatação doeu-me um
pouco a mente e alma. Parecia tudo certo, tudo fazia sentido. Quando colocado
em prática, determinadas teorias não se encaixavam bem, mostravam-se
inconsistentes. O que temos que fazer é não nos agarrarmos a ela como tábua de
salvação, nem querer justificar o injustificado, mas se desapegar com
consciência e ponderação.
Esse comportamento vejo hoje
em muitos jovens e adultos. Não os condeno, nem os absorvo da análise, pois que
o entusiasmo como que cega os nossos sentidos. É necessário, no entanto,
estarmos abertos para as críticas, para o pensamento adverso, para aqueles
argumentos que nos impacienta.
Se tais argumentos forem
fervorosamente fieis à realidade, o que fazer se não os admitir?
Se, porém, demonstrarem
fragilidade, mantenhamos os nossos pontos de vista.
A opinião contrária à nossa
nos ensina mais do que aquela que apenas confirma o nosso modo de ver as
coisas.
Se diverges do meu pensamento
originário, se mostras argumentos mais sólidos que os meus, se tens uma lógica
mais consistente que a minha, por que não as aceitar e incorpora-las às minhas
novas crenças desse momento em diante?
A admissão do erro mostra o
seu compromisso com a verdade.
Isto se dá em todos os campos
do saber e de atuação do homem. A realidade de hoje pode perfeitamente se
constituir na ilusão do amanhã. Não é assim que vive a ciência?
Apegar-se demasiadamente a
pontos que não mais aderem à realidade é perda de tempo e demonstração de
orgulho.
Por que, então, não aceitar a
verdade nova até outra melhor tomar o lugar dela?
Eu sempre fiz isso, por mais
que doesse a alma.
Muitas coisas parecem a
expressão genuína da verdade, mas escondem sementes de imperfeição. O mesmo se
dá naquilo que está em erro e pode conter conteúdos aproveitáveis. É bom apenas
tomar cuidado para não cair nas armadilhas dos sofismas.
Aqui no plano espiritual da
vida vejo muito isso.
Ao apegar-se demasiadamente a
pontos de vista materialistas, o ser humano abraça-se com a ilusão e a
fantasia. Teima em aventurar-se numa falsa realidade e depois tem como
consequência a desilusão.
O peso de sair da ilusão deve
ser enfrentado com altivez e sem vergonha alguma de reconhecer que aquele não é
o melhor caminho indicado, embora aos seus olhos momentaneamente assim
parecesse, sobretudo nestes tempos espetaculares que vivemos.
Jesus, a esse propósito,
adiantou-nos que ao conhecer a verdade ela nos tornaria livres. Livres,
sobremodo, da ilusão e da ignorância.
Se alguém me abre os olhos,
em vez de condená-lo, devo agradecer a ele. Foi esse alguém que me fez ganhar
tempo e fugir da minha obscuridade.
Meus amigos, a vida é assim,
não tem como fugir. O erro de hoje pode ser o caminho do acerto do amanhã. E a
vida prossegue a nos ensinar sempre, mas é imprescindível que estejamos abertos
para aprender.
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