10.5.17

AOS ESPÍRITOS CONSOLADORES

Donde éreis vós, ó formas imprecisas
De arcanjos tutelares,
Cujas vozes suaves como brisas
Trouxeram-me nas dores,
No auge do meu sofrer, nos meus penares,
A irradiação de brando refrigério?!...

Frontes aureoladas de esplendores,
Seres cheios de amor e de mistério,
Cujas mãos compassivas
Ungiram meu coração resignado
Com o bálsamo do olvido do passado,
E com os místicos olores
Das meigas sempre-vivas
Da fé mais luminosa e mais ardente...

Seríeis o fantasma imaginário
Da mórbida exaltação dalma do crente?
Não, porque sois os cireneus piedosos
Dos que vão em demanda do Calvário
Da Redenção, nos sofrimentos rudes;
Vindes das mais remotas altitudes
De sublimados mundos luminosos!...

Seres do Amor, jamais traduziria
O cântico de luz
Que trouxestes ao leito da agonia
Que eu transpus,
Cheia de desenganos e gemidos!...
Verto ainda os meus prantos comovidos
Lembrando-me do vosso Stradivárius,
Repetindo as cadências dos hinários
Dos orbes da Ventura e da Harmonia,
Onde habitais, glorificando o Amor
Que dalma faz um ninho de alegria
E um foco de esplendor!

Em que sol deslumbrante, em qual esfera
Viveis a vossa eterna primavera'?
Ó irmãos consoladores,
Que vindes confortar os pecadores
Penitentes da vida transitória,

Dai-me um pouco de luz da vossa glória,
Estendei-me urna única migalha
Da vossa paz, que nutre e que agasalha
Os corações iguais ao meu!...

Tenho sede do amor que enfeita o Céu!
Espíritos da luz radiosa e infinda,
Minhalma é fraca e pobre ainda;
Todavia, imortal,
Quero ter dessa luz resplandecente,
E quero embriagar-me inteiramente
Com os vinhos da alegria celestial.


Livro: Parnaso de Além-Túmulo - Francisco C Xavier - CARMEN  CINIRA

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