14.5.17

A Nova Abolição

Os últimos anos que vivemos no País foram anos absolutamente de virada de página de um pedaço da história. Mudanças ocorreram para que pudéssemos, todos nós, pensar melhor sobre as estruturas de poder vigentes e o modelo político brasileiro.
Tudo isso, portanto, tem uma finalidade: o aperfeiçoamento do sistema representativo político brasileiro e o desenhar paulatino de uma nova face para a política em nossas terras.
A podridão que nos vestimos em nome da democracia é escandalosamente nociva e distorce no seu âmago o propósito do regime de liberdade dos povos.
Não soubemos conjugar a democracia com igualdade racial, por exemplo. Poucos foram os negros que superaram a barreira social que existia no início do século passado.
Os pobres não conseguem se livrar das altas taxações embutidas que lhe subtraem um pedaço do seu mísero salário.
Continuamos com uma sociedade desigual que luta para ter acesso aos serviços mínimos e não consegue ascender na escala social porque a educação que usufrui é imperfeita. As faculdades não dão a formação de qualidade que o povo mais simples precisa receber para se tornar mais ativo e superar as dificuldades da existência.
Não conseguimos conjugar a democracia com uma economia pujante e sustentável em que todos pudessem gozar da prosperidade gerada. O crescimento dificilmente se traduz em desenvolvimento para o conjunto da sociedade. Os mesmos continuaram dominando terras, fábricas e outros empreendimentos do capital. O pobre continuou pobre.
Este modelo, portanto, falhou e não deseja mais remendo, sutura, pede renovação total, reinvenção, recriação orgânica.
Não ignoro progressos obtidos, seria miopia e sectarismo deixar de reconhecer enormes avanços que conquistamos, tal que a sociedade de hoje não é mais a mesma dos tempos das indústrias iniciais, mas está bastante longe de ser uma sociedade aberta ao capital e inclusiva aos menos favorecidos.
A política corroeu a esperança do brasileiro quando não deu respostas adequadas as demandas que chegavam até ela. Velhos hábitos foram reproduzidos e os erros, muitos, continuaram sendo cometidos e o benefício dado a uma minoria se manteve e se cristalizou.
Hoje, tempos novos, pede-se ideias novas, ações novas, motivação nova.
Que dizer do avanço tecnológico que não bate as nossas portas, mas simplesmente invade as nossas vidas, fixa suas normas e muda completamente a economia?
Que dizer da nova geração de costumes novos, cabeça leve e que modela um novo arranjo produtivo que ainda não é contabilizado no cerne da nossa economia?
Que dizer da mudança dos costumes e das mentalidades que exige que tenhamos novos ares permanentemente e flexibilidade para criar urgentemente o novo?
Se os tempos são outros, se a economia deve mudar, se a sociedade muda, o que fazer com nosso modelo político vigente?
Transfigurá-lo é pouco. Ressignificá-lo completamente, pois se tornou anacrônico. Não funciona mais. Não representa mais o povo. Cito o Brasil, mas os exemplos que teço servem perfeitamente para todas as esferas sociais e políticas de outros países.
Chega!
A nova libertação que devemos criar nos tempos novos é aquela que nos libera das algemas mentais. Estamos presos a padrões velhos e ultrapassados. Somos escravos de um mundo que está esgotado nos seus princípios.
Felicidade por acolher novas ideias que estão nascendo com a nova geração que parte dela já está aí.
Criemos a coragem de experimentar o novo, de promovermos a revolução da liberdade de expressão das novas ideias sociais. O mundo pede-nos ousadia nestes tempos novos, senão continuaremos presos a um passado que já deveria ter sido sepultado e ainda não foi.
A espiritualidade age, mas deve encontrar eco na geração atual que flui para que as mudanças inadiáveis aconteçam mais celeremente.
Avante, irmãos!
Libertemo-nos já das amarras dos velhos costumes e deixemo-nos ser absorvidos por novos ideais que sustentarão as gerações futuras.
Eis o grito presente de libertação!
Eis a nova abolição!


Joaquim Nabuco – Blog Reflexões de um Imortal.

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