Temos repetido, à saciedade,
que a Obra Mediúnica de Chico Xavier complementa a Obra de Allan Kardec,
todavia, carecemos de melhor refletir sobre o significado do verbo
complementar.
Alguns dicionaristas atribuem
ao termo complementar o significado de “completar”, “concluir”, e, neste
sentido, cremos que, em se tratando de Doutrina Espírita, ele não esteja bem
posto, quando, com ele, se pretende dizer que Chico completa Kardec, porque, em
verdade, a Obra Xavieriana, se é o legítimo desdobrar da Codificação, não a
conclui.
Sendo o Espiritismo, como
escreveu o Codificador, “a ciência do infinito” (“Introdução ao Estudo da
Doutrina Espírita”, em “O Livro dos Espíritos”, item XIII), ele nunca poderá
ser complementado, ou completado.
A extraordinária Obra Mediúnica
devido à lavra de Chico Xavier representa, pois, com mais propriedade, um
acréscimo ao conteúdo do Pentateuco, que, em seus Postulados, há de sempre
ampliar-se.
Efetuamos semelhante reflexão
porquanto, igualmente, não podemos, em termos de Revelação, considerar qualquer
obra espírita, de autor encarnado ou não, como sendo definitiva.
Em louvor à Verdade,
carecemos dizer que nós, os desencarnados, apenas nos situamos no “andar de
cima” do edifício habitado pelas criaturas humanas em suas diversas condições
evolutivas, sendo que o fato de sermos inquilinos do “andar de cima” não nos
habilita a tudo saber, por vezes, nem do próprio pavimento em que nos
encontramos alojados.
Se, em relação aos
encarnados, alguma visão mais ampla nós possuímos da paisagem que quase nos é
comum, ela ainda se nos mostra extremamente limitada, num permanente convite à
exploração de seus vastos horizontes.
Assim, precisamos dizer que,
embora esteja em a Natureza, conforme os Espíritos Superiores disseram a
Kardec, e, portanto, seja tão antigo quanto à própria Criação Divina, o
Espiritismo, em termos de Conhecimento possui característica dinâmica,
progressista, que se remete ao Futuro. Aliás, quando se refere ao Advento do
Consolador, que é o Espiritismo, Jesus utiliza o verbo “conhecer” no Pretérito
mais-que-perfeito: “Conhecereis a Verdade...”, ou seja: vós conhecereis...
Ele, o Cristo, nos disse que
conheceríamos a Verdade, sendo que, com certeza, estava se referindo à Verdade
relativa, e não Absoluta, que somente a Deus pode pertencer. Não obstante, pelo
que se depreende mesmo o conhecimento relativo da Verdade seria capaz, qual o
é, de promover a nossa libertação da ignorância.
Conhecimento algum, em
qualquer campo do Saber, deve ser considerado definitivo.
Em termos de Conhecimento
Espírita, a Obra Mediúnica que os Espíritos escreveram através de Chico Xavier,
representa um “passo adiante”, definindo, em seus contornos doutrinários, o
Espiritismo como sendo a Restauração do Cristianismo. Contudo, a jornada
evolutiva a ser empreendida pelo espírito é extremamente longa e laboriosa, e
perante o vertiginoso avanço da Ciência, o campo do Conhecimento Espírita, a
partir de Allan Kardec e Chico Xavier, permanece aberto aos estudiosos.
O Pentateuco não se
complementa com a Obra Xavieriana, ou Emmanuelina, mas, sem dúvida que se
atualiza e se enriquece com ela, de vez que, a ficarmos apenas e tão somente
com o Pentateuco, adotaríamos a mesma postura dos religiosos ortodoxos, em seu
fanatismo, ou mesmo dos cientistas não adeptos da tese evolucionista de Darwin,
ou de quem se queira atribuí-la que não ao célebre autor de “A Origem das
Espécies”.
Sinceramente, repugna-me ao
espírito o enfatizar-se ser o Espiritismo uma doutrina pronta e acabada e que
nós, os espíritas, no corpo ou fora do corpo, sejamos criaturas, que já tudo
saibamos a respeito da Vida além da morte, da qual, praticamente, ainda somos
quase todos analfabetos.
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 29 de agosto de
2016.
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