29.8.16

CHICO COMPLEMENTA KARDEC?!

Temos repetido, à saciedade, que a Obra Mediúnica de Chico Xavier complementa a Obra de Allan Kardec, todavia, carecemos de melhor refletir sobre o significado do verbo complementar.
Alguns dicionaristas atribuem ao termo complementar o significado de “completar”, “concluir”, e, neste sentido, cremos que, em se tratando de Doutrina Espírita, ele não esteja bem posto, quando, com ele, se pretende dizer que Chico completa Kardec, porque, em verdade, a Obra Xavieriana, se é o legítimo desdobrar da Codificação, não a conclui.
Sendo o Espiritismo, como escreveu o Codificador, “a ciência do infinito” (“Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita”, em “O Livro dos Espíritos”, item XIII), ele nunca poderá ser complementado, ou completado.
A extraordinária Obra Mediúnica devido à lavra de Chico Xavier representa, pois, com mais propriedade, um acréscimo ao conteúdo do Pentateuco, que, em seus Postulados, há de sempre ampliar-se.
Efetuamos semelhante reflexão porquanto, igualmente, não podemos, em termos de Revelação, considerar qualquer obra espírita, de autor encarnado ou não, como sendo definitiva.
Em louvor à Verdade, carecemos dizer que nós, os desencarnados, apenas nos situamos no “andar de cima” do edifício habitado pelas criaturas humanas em suas diversas condições evolutivas, sendo que o fato de sermos inquilinos do “andar de cima” não nos habilita a tudo saber, por vezes, nem do próprio pavimento em que nos encontramos alojados.
Se, em relação aos encarnados, alguma visão mais ampla nós possuímos da paisagem que quase nos é comum, ela ainda se nos mostra extremamente limitada, num permanente convite à exploração de seus vastos horizontes.
Assim, precisamos dizer que, embora esteja em a Natureza, conforme os Espíritos Superiores disseram a Kardec, e, portanto, seja tão antigo quanto à própria Criação Divina, o Espiritismo, em termos de Conhecimento possui característica dinâmica, progressista, que se remete ao Futuro. Aliás, quando se refere ao Advento do Consolador, que é o Espiritismo, Jesus utiliza o verbo “conhecer” no Pretérito mais-que-perfeito: “Conhecereis a Verdade...”, ou seja: vós conhecereis...
Ele, o Cristo, nos disse que conheceríamos a Verdade, sendo que, com certeza, estava se referindo à Verdade relativa, e não Absoluta, que somente a Deus pode pertencer. Não obstante, pelo que se depreende mesmo o conhecimento relativo da Verdade seria capaz, qual o é, de promover a nossa libertação da ignorância.
Conhecimento algum, em qualquer campo do Saber, deve ser considerado definitivo.
Em termos de Conhecimento Espírita, a Obra Mediúnica que os Espíritos escreveram através de Chico Xavier, representa um “passo adiante”, definindo, em seus contornos doutrinários, o Espiritismo como sendo a Restauração do Cristianismo. Contudo, a jornada evolutiva a ser empreendida pelo espírito é extremamente longa e laboriosa, e perante o vertiginoso avanço da Ciência, o campo do Conhecimento Espírita, a partir de Allan Kardec e Chico Xavier, permanece aberto aos estudiosos.
O Pentateuco não se complementa com a Obra Xavieriana, ou Emmanuelina, mas, sem dúvida que se atualiza e se enriquece com ela, de vez que, a ficarmos apenas e tão somente com o Pentateuco, adotaríamos a mesma postura dos religiosos ortodoxos, em seu fanatismo, ou mesmo dos cientistas não adeptos da tese evolucionista de Darwin, ou de quem se queira atribuí-la que não ao célebre autor de “A Origem das Espécies”.
Sinceramente, repugna-me ao espírito o enfatizar-se ser o Espiritismo uma doutrina pronta e acabada e que nós, os espíritas, no corpo ou fora do corpo, sejamos criaturas, que já tudo saibamos a respeito da Vida além da morte, da qual, praticamente, ainda somos quase todos analfabetos.

INÁCIO FERREIRA

Uberaba – MG, 29 de agosto de 2016.

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