8.9.15

O MAL QUE SE FAZ AO ESPIRITISMO

Não acredito no mal praticado conscientemente, porque quanto maior a consciência que se tem do mal que se pratica, maior a inconsciência das consequências que ele acarretará para o seu autor, ou autores.
Todavia, não se há negar que muitos irmãos de Ideal têm feito um superlativo mal ao Espiritismo, a partir do que se lhe entende por Movimento.
E na imensa lista que, neste sentido, aqui poderia ser grafada, sem dúvida, destaca-se, em primeiro plano, a insofismável tendência ao engessamento de sua evolução, como Doutrina, impedindo, ou, pelo menos, tentando impedir o esclarecimento de quantos desejam mais saber, para melhor compreender.
Dezenas, talvez centenas, de confrades e confreiras, presentemente corporificados no Plano Físico, a pretexto de defender a tão decantada pureza doutrinária, entronizam-se na condição de seus chefes, ou pretensos líderes, para impor aos adeptos do Espiritismo as suas interpretações pessoais.
Postam-se ao lado de Kardec como se fossem os seus mais zelosos defensores, erigindo-se, no entanto, por seus ferrenhos adversários, por não consentirem que se vejam ultrapassados nos arcaicos conceitos em que eles próprios se estribam, qual se o Espiritismo, sendo uma doutrina do século XIX, única e tão somente ao século XIX devesse continuar pertencendo.
Falam em fraternidade, abraçam e osculam mãos em seus redutos doutrinários, onde fincam o seu trono, e têm frequentadores por vassalos de seu reino particular, mas articulam contra aqueles que, na maioria das vezes, os ignoram na mediocridade em que se escondem e que se negam a lhes submeter à autoridade que não possuem.
De minha parte, creio, não seria demasiado reafirmar a minha condição de espírito comum, muito longe ainda de sua limitada condição humana, que, uma vez mais, venho dizer-lhes que essa história de médium só trabalhar com espírito mentor a lhe controlar as faculdades é pura desinformação – o que, igualmente, não significa que esse ou aquele medianeiro esteja padecendo a influência perniciosa de um espírito que, por exemplo, qual eu mesmo, esteja habituado ir direto ao assunto, dizendo às claras o que pensa.
Ora, meus caros, eu nunca os induzi a crer que eu fosse o que não sou, e estou plenamente consciente disto – e, justamente, por este motivo, porque me sinto qual encarnado ainda estivesse, sinto-me, no direito de me manifestar livremente onde quer que esteja, e não será, digo-lhes, um simples bater de pé que me fará correr.
Eu tenho bastante experiência com fogueiras para me deixar intimidar por suas labaredas!
Mal maior que nos possa ser imposto não é a morte, mas sim o silêncio em torno da Verdade, pela qual, mais cedo ou tarde, todos nós necessitaremos aprender a morrer.
Por isto, sem que me desvie do assunto, aqui deste Portugal, abençoada terra na qual, vezes sem conta, confiei os meus despojos e que guarda em seu ventre de mãe os meus ossos, venho lhes dizer que não se deixem enganar pelos lobos em pele de ovelhas que, desde muito, lhes andam espreitando o redil!
Se o Espiritismo não reviver o Evangelho do Cristo, ele desaparecerá. E, então, todos nós seremos partícipes de mais essa tragédia espiritual para a Humanidade – pela nossa simples omissão em deixar as coisas a correrem como estão a correr, haveremos de responder perante o implacável tribunal da consciência, que, à semelhança ao homem da Parábola, nos tomará contas de um único talento enterrado.
Eu não sou contra a Unificação – sou a favor da União.
Não sou contra o Centro – sou a favor da Periferia.
Não sou contra a Elite – sou a favor Deselitização.
Nesta hora, o Movimento Espírita está a viver um impasse sem precedentes: ou toma, com o Cristo, o rumo que deve tomar, ou, então – dou-lhe aqui um conselho –, não participe da escolha que haverá, simplesmente, de transformar a Doutrina em mais um ismo a concorrer com tantos outros pela opressão dos espíritos.
O Espiritismo, já no-lo dizia o grande Chico Xavier, “nasceu livre, é uma doutrina livre e precisa continuar livre, e o dia em que eu, para ser espírita, precisar prestar obediência a alguém, ou a algum Órgão, eu deixo de ser espírita e vou tentar ser cristão”!
Libertemos, pois, o Espiritismo de nós mesmos – de nossa vaidade e personalismo, de nossa ambição de poder e de nossa secular miopia espiritual.
INÁCIO FERREIRA

Lisboa, Portugal, 7 de setembro de 2015.

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