O discurso do Papa Francisco na abertura da
Assembleia Geral da ONU esta semana foi profundamente libertador. Por que?
Porque inseriu temas que devem ser discutidos numa pauta mundial e sem os quais
a humanidade vai perecer em tempo muito breve.
A questão ambiental foi importante porque
marca um divisor de águas da Igreja no sentido de tentar conciliar os ganhos
dos investimentos de capital em consonância com o equilíbrio do meio ambiente e
o ser humano. Não deve ser o meio ambiente que sirva aos interesses do capital,
mas que o capital se adapte as disponibilidades e exigências do meio ambiente.
Esta equação tem sido desrespeitada há séculos, o momento atual, porém, exige
uma redefinição desta orientação sob pena de alimentarmos um enorme prejuízo
global. A consciência já desenvolvida sobre o tema é importante, mas não é
suficiente para estancar a ganância dos detentores do poder em extrair ao
máximo aquilo que a terra pode lhes oferecer. A voz do papa em alertar esta
situação de desconforto torna-se, portanto, imprescindível para que se pense e
se aja com outros olhos diante desta questão.
Não parou por aí o seu brado corajoso.
Inseriu na discussão a guerra contra o narcotráfico. Esta situação é igualmente
vexaminosa para a humanidade. A droga tem ditado o ritmo de muitas economias e
funciona como um sistema a parte que controla tudo e que possui regras
próprias. A pior consequência é que a droga vai, pouco a pouco, destruindo a
sociedade. Invisivelmente vai de encontro à paz social. Será que ninguém percebe
o drama que o comércio e o consumo de drogas promovem no mundo como um todo?
Esta situação tem que mudar e o papa foi eloquente em pedir que se instale
outra política para lidar com o assunto.
A voz do papa contra as minorias religiosas
que atingem parte do mundo e destroem vidas e locais sagrados foi oportuno para
que não se cruzem os braços vendo-se tudo ser colocado abaixo, sonhos e vidas,
sem nada fazer. Nem mesmo a tentativa do diálogo é feita. Lutemos para um mundo
melhor, principalmente com aqueles que querem atrasar este desenvolvimento da
paz.
Outra afirmativa importante do Papa
Francisco vai ao encontro dos que sentem os seus direitos desrespeitados como
os nossos irmãos que assumem a sua homossexualidade, que desejam o casamento
entre iguais e sobre a questão dos transgêneros. Tudo isso merece uma discussão
maior porque não é simplesmente uma questão de aprovar ou rejeitar. Há muitos
elementos em jogo, inclusive e principalmente de ordem espiritual, que devem
ser levados em consideração. Talvez a ótica material não seja suficiente para
fixar parâmetros do debate, mas se estabelecermos parte desta conversa em
enaltecer os direitos humanos e a humanidade possivelmente representem um bom
início para se chegar a lugar seguro.
A visão espiritual do mundo nos põe noutro
patamar de análise tornando o elemento global mais importante do que, muitas
vezes, a questão meramente local. Há problemas e assuntos que a abrangência
deles possui repercussões mais amplas do que se pode imaginar. Há uma teia em
construção para a implantação definitiva do bem no planeta, mas paralelamente
existem forças contrárias que atuam na desorganização completa e agem não
somente na economia, mas na confusão de princípios morais, na derrocada das
negociações entre as nações, na destruição de relacionamentos pacíficos e muito
mais. Jogam muito pesado, pois não têm escrúpulos diante dos desígnios do Pai.
Por isso, a nossa preocupação, dos dois lados da vida, em instalar uma visão
espiritual e humana dos fatos. Não fiquemos, por favor, centralizados em
discussões exclusivistas, mas tentemos impor um diálogo aberto e inclusivo.
Foi exatamente a inclusão outro elemento
primordial do discurso do Papa Francisco na ONU ao lembrar que as economias e
os pensamentos, quaisquer que sejam as decisões de âmbito global, devem ir ao
encontro de tornar um planeta mais respirável e utilizável por todos.
Independentemente de ser rico ou pobre, cada um dos seus moradores possui o
mesmo direito que o outro tem. Políticas, portanto, de inclusão são fundamentais
para que a terra seja, de fato e não apenas em princípio, de uso de todos, nos
seus benefícios e nos aspectos decisórios que dizem respeito a ela.
Amemos e tudo o mais ficará mais fácil de
conhecer e aprender.
Amemos e tudo o mais ficará mais fácil para
decidir e resolver.
É o amor, no fundo, que esteve presente em
toda a fala do pontífice e deve ser ele que deva estar na essência de todas as
decisões.
Será assim que viveremos o Cristo e o seu
Evangelho libertador.
Paz,
Helder Camara
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