4.9.12


DOENÇA DE MÉDICO
  Amigo: Jesus nos abençoe.
   Agradeço as palavras gentis que você me escreveu, aproveitando a oportunidade para pedir a todos, mas principalmente a você que se revelou tão preocupado com a minha saúde, que me desculpe pela minha doença de médico, da qual, infelizmente, embora desencarnado, ainda não consegui me livrar.
  Estou sob severo tratamento e, dentro em breve, para gáudio de meus amigos, espero estar plenamente restabelecido.
  Eu não sei se vocês já ouviram falar em doença de médico?... Claro, dentre as muitas enfermidades que o podem acometer, como a qualquer mortal, esta é das mais graves, porque, infelizmente, costuma sobreviver inclusive à sua própria morte.
  Desde o meu primeiro dia de Universidade, na cidade do Rio de Janeiro, então Capital da República, e isto em 1924 – quanto tempo faz! –, eu me vi acometido por esta febre que nunca mais me deixou. Especializando-me em Psiquiatria, tentei fugir dela o máximo que pude, todavia, ela se me entranhou de tal modo na alma que, em verdade, o que era agudo ficou crônico.
  Vocês, a esta altura, devem estar curiosos do meu diagnóstico, na doença que, de tanto extrapolar em mim, passou a ser facilmente identificada por todo aquele que conseguisse saber que uma simples “guaraína” seria bom remédio para a dor, embora nem sempre pudesse tê-la em sua casa de pobre.
  Não vou judiar de vocês, não... Como me considero uma pessoa sem preconceito, mesmo quando se trata de confessar publicamente as suas mazelas, sejam eles físicas ou morais, eu vou revelar a vocês a doença de que sou portador – porém, cuidado, porque ela possui certo grau de contagiosidade!
   Portanto, confessá-la-ei sem maiores pudores: eu não posso ver ninguém em minha frente sem que, logo, não comece a procurar nele um micro-organismo patogênico, que, proliferando, possa induzi-lo a óbito! Vocês sabem: antigamente, não dispúnhamos de tantos exames laboratoriais como hoje – o diagnóstico era feito no olhômetro! A gente observava, auscultava, apalpava – não demais, porque se tinha doente que gostava muito, outro gostava menos...
  É por isto, meu amigo, que, de tanto observar e auscultar o corpo do Movimento Espírita, e apalpá-lo, desde 1931 identificado com ele, eu tenho me mostrado, talvez, excessivamente zeloso de sua saúde, que entendo estar comprometida por perigosos focos infecciosos.
  Não me julgue autossuficiente, ou algo que o valha! Sei que não sou o portador da cura para doente tão ilustre, mas enquanto aguardamos a intervenção do Divino Médico, permita-me, pelo menos, oferecer uma“guaraína” para a febre que lhe tem suscitado tantos delírios!...
  Com o meu carinho, contando com as suas preces em meu benefício, sempre o seu – 
  INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 3 de setembro de 2012. 

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