Eu já construí versos. Já
compus poemas. Já fiz gato e sapato por aí. Mas, o que me faz realmente feliz?
Aprontei tanta coisa na vida.
Escrevi coisas que nunca pensei. Fui onde jamais imaginei. Conversei com gente
que me fez alegre o existir. A pergunta, porém, insiste: o que me faz, de fato,
feliz?
Orei, cantei, beijei. Quantos
amores tive e quantos eu não vivi. Fui objeto de admiração de muitos e outros
me viram como um gênio que eu nunca fui. Aquilo que me indago hoje é o que me
faz feliz?
Agora, morando no mundo dos
mortos, com gente tanta que eu nunca conheci. Vendo coisas que a mente não me
permitia atingir, fico somente a perguntar: ora, o que me faz efetivamente
feliz?
Não sei responder à pergunta
matriz. Ela é tão cheia de vozes, possibilidades, respostas, que me aventurar
em uma delas poderia me fazer trair.
Eu sei que a vida sobrevive
além do monte de matéria que fui e isso me deixa realmente muito feliz, saber,
sobretudo, que não morri, mas não sei se é somente isso que me deixa realmente
feliz.
A vida, talvez, seja a razão
primeira da felicidade. Viver por viver. Aprender a viver. Eis a razão possível
de ser feliz, será, porém, que isso basta para ser eternamente feliz?
Ao me perguntar o que é
felicidade, tenho que reconhecer que já pensei que ela se resumia a estar
intacto e agasalhado num colo quentinho de uma mulher.
Outras vezes, me peguei em
felicidade ao saber que a vida se renovava nos parentes dos meus parentes, nos
filhos que nunca tive, mas que adotei pela vida.
Peguei-me feliz ao ler livros
deliciosos. Construções magníficas de autores geniosos. Livros de pura alegria
do viver.
Ah! Sentia-me feliz ao
concluir mais uma obra, algo que pari de meus sentimentos e pensamentos febris.
Se bem que as deixava ir para outras poderem surgir.
Pego-me agora, novamente, sem
dar-me conta, que não sei de verdade o que é ser feliz.
Quando acordei nesta vida,
quando me percebi mais vivo do que nunca, um estranho sentimento invadiu-me a
alma. E agora, o que será que esta nova vida me reserva?
De lá pra cá, tanto e tanto
já fiz e ainda me pergunto: o que, meu Deus, me faz feliz?
Mário Quintana – Blog Baú de
Quintana
Nenhum comentário:
Postar um comentário