13.12.19

O que me faz feliz?


Eu já construí versos. Já compus poemas. Já fiz gato e sapato por aí. Mas, o que me faz realmente feliz?
Aprontei tanta coisa na vida. Escrevi coisas que nunca pensei. Fui onde jamais imaginei. Conversei com gente que me fez alegre o existir. A pergunta, porém, insiste: o que me faz, de fato, feliz?
Orei, cantei, beijei. Quantos amores tive e quantos eu não vivi. Fui objeto de admiração de muitos e outros me viram como um gênio que eu nunca fui. Aquilo que me indago hoje é o que me faz feliz?
Agora, morando no mundo dos mortos, com gente tanta que eu nunca conheci. Vendo coisas que a mente não me permitia atingir, fico somente a perguntar: ora, o que me faz efetivamente feliz?
Não sei responder à pergunta matriz. Ela é tão cheia de vozes, possibilidades, respostas, que me aventurar em uma delas poderia me fazer trair.
Eu sei que a vida sobrevive além do monte de matéria que fui e isso me deixa realmente muito feliz, saber, sobretudo, que não morri, mas não sei se é somente isso que me deixa realmente feliz.
A vida, talvez, seja a razão primeira da felicidade. Viver por viver. Aprender a viver. Eis a razão possível de ser feliz, será, porém, que isso basta para ser eternamente feliz?
Ao me perguntar o que é felicidade, tenho que reconhecer que já pensei que ela se resumia a estar intacto e agasalhado num colo quentinho de uma mulher.
Outras vezes, me peguei em felicidade ao saber que a vida se renovava nos parentes dos meus parentes, nos filhos que nunca tive, mas que adotei pela vida.
Peguei-me feliz ao ler livros deliciosos. Construções magníficas de autores geniosos. Livros de pura alegria do viver.
Ah! Sentia-me feliz ao concluir mais uma obra, algo que pari de meus sentimentos e pensamentos febris. Se bem que as deixava ir para outras poderem surgir.
Pego-me agora, novamente, sem dar-me conta, que não sei de verdade o que é ser feliz.
Quando acordei nesta vida, quando me percebi mais vivo do que nunca, um estranho sentimento invadiu-me a alma. E agora, o que será que esta nova vida me reserva?
De lá pra cá, tanto e tanto já fiz e ainda me pergunto: o que, meu Deus, me faz feliz?

Mário Quintana – Blog Baú de Quintana

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