31.12.19

As Manias


Cada um com as suas, eu também tive as minhas manias.
Não são absolutamente ruins quando elas estão incorporadas de trazerem bons hábitos de vivência. Elas se tornam tóxicas quando são hábitos que provocam desconfortos a si e aos outros.
Minha mania de ler, por exemplo, era uma boa mania – aliás ainda o é até hoje. Os livros foram as minhas companhias permanentes, sobretudo nas vigílias que fazia. Se não tivesse cuidado, passaria a vida a ler, tamanho o prazer que esta mania sempre me deu.
Outro costume prático nas minhas andanças diárias era sempre orar. Sim, orava o tempo todo. Era uma mania que tinha – e tenho – para não cair na tentação dos estímulos mundanos que nos tiram do foco que temos. Ao mesmo tempo que me ajudava na manutenção de foco me aproximava de Deus. Então, também era um bom hábito.
As minhas vigílias diárias, incompreendidas por muitos, era uma mania deverasmente prazerosa para o espírito. Na solidão da igreja, junto com os meus livros, nas minha erudições e escritos, fazia um pacto diário com Deus. Orava, meditava, dizia-me coisas para lembrar-me sempre. Um hábito do bem.
A mania de ajudar os outros foi uma conquista da vida. Impacientava-me ver outros sofrerem. Queria dar um jeito de qualquer forma para amenizar a dor do meu irmão. Às vezes, conseguia, outras vezes, não. Orava, era o que eu podia fazer em muitas ocasiões. Este é o hábito dos hábitos, aquele que jamais devemos deixar de tê-lo.
Outro hábito boníssimo era conversar com as pessoas. Como era gostoso poder trocar ideias, conhecer a maneira como as pessoas pensam e sentem as coisas da vida. Era extremamente gostoso estar entre amigos ou mesmo o público em geral que me procurava. Uma fonte permanente de aprendizagem e renovação do espírito. Maravilha é uma boa conversa.
Os maus hábitos...sim, tinha uns montes, mas eu disfarçava bem. Policiava-me para não roer as unhas, por exemplo. Um pouco de ansiedade, vez em quando, invadia-me o espírito. A mania de querer colocar algo à boca era tremenda. Veio daí a ideia de colocar balas no bolso da batina. Tinha múltiplas possibilidades e uma delas era conter a minha ansiedade levando-a uma à boca. Não dava para roer as unhas e deliciar-me com a bala ao mesmo tempo.
Outra mania não muito feliz era de querer, quando podia, passear a esmo. Não que seja em si uma péssima mania, mas é que a vontade de estar livre poderia me causar o preço de não cumprir as minhas obrigações sacerdotais. Mas eu que tinha vontade de sair pelo mundo sem compromisso, isso eu tinha sim. Continha-me.
E tantas outras pequenas ou grandes manias me invadiam a vida.
Por que falo delas neste momento?
O que desejo refletir através delas?
Simples. Adote e caminhe com as suas. Verifique, porém, qual é a consequência delas e mantenha ou controle-a, de acordo com a sua inclinação e vontade.
As manias são os cacoetes da alma. É como ela se vira para tocar o mundo com mais prazer e segurança. Pode, também, ser um jeito de fugir de tudo isso.
As manias representam o jeito peculiar do espírito de ser. Mostra a sua singularidade no mundo. Seu jeito de ser e gostar das coisas.
Da mesma maneira que gosta das suas manias, saiba entender a dos outros.
Uma das manias preferidas é escrever, colocar no papel os meus pensamentos. Se pudesse, faria isso o tempo inteiro, mas tenho que me conter e dividir tudo de acordo com o que o momento pede.
É isso aí!
Fiquemos em paz e com Deus!

Helder Camara – Blog Novas Utopias

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