Cada um com as suas, eu
também tive as minhas manias.
Não são absolutamente ruins
quando elas estão incorporadas de trazerem bons hábitos de vivência. Elas se
tornam tóxicas quando são hábitos que provocam desconfortos a si e aos outros.
Minha mania de ler, por
exemplo, era uma boa mania – aliás ainda o é até hoje. Os livros foram as
minhas companhias permanentes, sobretudo nas vigílias que fazia. Se não tivesse
cuidado, passaria a vida a ler, tamanho o prazer que esta mania sempre me deu.
Outro costume prático nas
minhas andanças diárias era sempre orar. Sim, orava o tempo todo. Era uma mania
que tinha – e tenho – para não cair na tentação dos estímulos mundanos que nos
tiram do foco que temos. Ao mesmo tempo que me ajudava na manutenção de foco me
aproximava de Deus. Então, também era um bom hábito.
As minhas vigílias diárias,
incompreendidas por muitos, era uma mania deverasmente prazerosa para o
espírito. Na solidão da igreja, junto com os meus livros, nas minha erudições e
escritos, fazia um pacto diário com Deus. Orava, meditava, dizia-me coisas para
lembrar-me sempre. Um hábito do bem.
A mania de ajudar os outros
foi uma conquista da vida. Impacientava-me ver outros sofrerem. Queria dar um
jeito de qualquer forma para amenizar a dor do meu irmão. Às vezes, conseguia,
outras vezes, não. Orava, era o que eu podia fazer em muitas ocasiões. Este é o
hábito dos hábitos, aquele que jamais devemos deixar de tê-lo.
Outro hábito boníssimo era
conversar com as pessoas. Como era gostoso poder trocar ideias, conhecer a
maneira como as pessoas pensam e sentem as coisas da vida. Era extremamente
gostoso estar entre amigos ou mesmo o público em geral que me procurava. Uma
fonte permanente de aprendizagem e renovação do espírito. Maravilha é uma boa
conversa.
Os maus hábitos...sim, tinha
uns montes, mas eu disfarçava bem. Policiava-me para não roer as unhas, por
exemplo. Um pouco de ansiedade, vez em quando, invadia-me o espírito. A mania
de querer colocar algo à boca era tremenda. Veio daí a ideia de colocar balas
no bolso da batina. Tinha múltiplas possibilidades e uma delas era conter a
minha ansiedade levando-a uma à boca. Não dava para roer as unhas e deliciar-me
com a bala ao mesmo tempo.
Outra mania não muito feliz
era de querer, quando podia, passear a esmo. Não que seja em si uma péssima
mania, mas é que a vontade de estar livre poderia me causar o preço de não
cumprir as minhas obrigações sacerdotais. Mas eu que tinha vontade de sair pelo
mundo sem compromisso, isso eu tinha sim. Continha-me.
E tantas outras pequenas ou
grandes manias me invadiam a vida.
Por que falo delas neste
momento?
O que desejo refletir através
delas?
Simples. Adote e caminhe com
as suas. Verifique, porém, qual é a consequência delas e mantenha ou
controle-a, de acordo com a sua inclinação e vontade.
As manias são os cacoetes da
alma. É como ela se vira para tocar o mundo com mais prazer e segurança. Pode,
também, ser um jeito de fugir de tudo isso.
As manias representam o jeito
peculiar do espírito de ser. Mostra a sua singularidade no mundo. Seu jeito de
ser e gostar das coisas.
Da mesma maneira que gosta
das suas manias, saiba entender a dos outros.
Uma das manias preferidas é
escrever, colocar no papel os meus pensamentos. Se pudesse, faria isso o tempo
inteiro, mas tenho que me conter e dividir tudo de acordo com o que o momento
pede.
É isso aí!
Fiquemos em paz e com Deus!
Helder Camara – Blog Novas
Utopias