Partiu um bom homem da esfera
dos homens na carne e veio se juntar aos homens na dimensão dos espíritos. Ele
que foi meu irmão, muitas vezes meu confidente, meu amigo de tantas jornadas e
embates, um companheiro de Igreja e de ideal, refiro-me ao meu querido Paulo
Evaristo Arns.
Aqui chegou e ao abrir os
olhos do espírito perguntou - soube depois:
- Já estou nos céus ao lado
do Senhor ou me mandaram para onde eu deveria ir, expurgar meus pecados no
inferno?
Depois do devido
esclarecimento, ele novamente agiu com o bom humor que sempre lhe foi peculiar:
- Até nisso Nosso Senhor é
generoso. Graças a Deus!
Pouco a pouco, ele toma pé do
que está lhe acontecendo e não teve, como eu, muita surpresa com o que estava
ocorrendo ao seu redor. Acordado no hospital onde lhe visitei, Arns está
sorridente e feliz, fruto daqueles que possuem a consciência do dever cumprido.
Meu bom Arns enfrentou poucas
e boas, mas a sua fé inquebrantável não o deixou esmorecer, pelo contrário,
quanto mais lutas, mais forças arranjava para superação. Ele era assim, ele é
assim.
Agora, revive os seus
parentes e amigos. Satisfeito com a recepção que teve contou-me que parecia
estar numa espécie de colônia de férias porque todos chegam sorridentes,
felizes, e revê a todos com muito carinho e uma boa palavra. Lúcido, é assim
que ele está depois de acordar do “sono dos justos”.
E foi exatamente a justiça
uma das suas bandeiras principais senão a maior. Justiça social, justiça para
todos os homens. Por esta razão, foi um gigante na sua São Paulo e nos dias
tenebrosos da ditadura militar. Exemplo de coragem e fé, destemor e esperança,
um verdadeiro discípulo de Jesus.
- Obrigado, Hélder, por tudo,
é muito bom vê-lo por aqui.
- Que nada, Paulo, em pouco
tempo você vai se acostumar com as coisas por aqui. Muda quase nada, mas as
forças são redobradas e os recursos aumentam para quem deseja trabalhar.
- É, acho que me darei bem
por aqui, se for assim, mas ainda sinto a falta dos meus que ficaram por lá.
Neste instante da conversa, a
nossa querida Zilda me abraça e diz que ele precisa se acalmar um pouco, ir com
calma ao pote, precisa descansar e deixar que as coisas se assentem
normalmente. Concordei, despedi-me e parti para meu canto.
Ora, como são as coisas, meu
Pai Amantíssimo! Uma hora aí, outra hora aqui, e a vida continua. Noutra
condição, noutra dimensão, mas a mesma luta. A luta para sermos melhores e
ajudar os outros no seu despertamento interior, é o máximo que podemos fazer.
E assim a vida continua e
igualmente o nosso aprendizado constante. No início é duro de se acostumar, mas
depois, como não tem jeito mesmo, o remédio é aceitar e se adaptar à nova ordem
de coisas.
Ao meu querido Paulo Evaristo
Arns, o meu agradecimento pelo ombro amigo e constante sempre que precisei e
pedi, pela sua justa palavra, pelo seu exemplo de ser correto, pelo seu
compromisso com Jesus e com a Igreja, por ser mui justamente meu amigo.
Ao Pai, meu agradecimento por
existir e seguir a tua regra de vida, mesmo que nos primeiros passos e nas
primeiras lições.
E assim a vida continua.
Helder Camara – Blog Novas
Utopias
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