Augusta aurora da minha
vida. Lembro dos meus 14 anos quando estava no corpo físico. Um rapaz cheio de
sonhos e com muita insegurança também, afinal, o que viria a acontecer com
aquela criança que se tornava homem?
Meu pai me enveredou para o
caminho da política bem cedo, vislumbrava-me, naturalmente, como um sucessor de
suas conquistas, mas, apesar de meu impulso inicial para a arte de governar e
parlamentar, vi-me intrigado, é verdade, com o mundo das letras. Mesmo no curso
de Direito que fazia, a paixão pelas letras vinha-me à tona com muita
intensidade. Que beleza poder expressar no papel as ideias. Via outros autores
dedicar sua vida em
torno disso. Logo me imaginei como um deles. De certa forma,
consegui fazer isto, dividindo, é claro, com as minhas outras obrigações,
políticas e diplomáticas. Agora, na condição espiritual, renovo o meu desejo de
continuar a escrever para toda a gente, mas respeito, obviamente, as limitações
do meu interlocutor.
Agora mesmo, veio-me a
ideia de dizer versos no meu bom francês, mas as suas limitações linguísticas
atuais me impedem de fazê-lo. É esta, entre outras, as dificuldades que
enfrentamos no dia a dia da relação intermundos. Contentamo-nos, porém, com o
que é possível. Vejo muitos a dedicarem atenção a certos médiuns e eles pouco
vislumbram numa continuidade de relação de
parceria.
Tudo isso é importante
revelar porque você também virá para o mundo de cá outra vez e verificará per si
as inúmeras limitações que temos nesta conjugação de esforços entre espíritos e
os que estão sob o jugo da matéria. Ainda assim, é possível fazer muito, porque
o pouco que temos representa grande válvula de escape para as ideias que
queremos divulgar.
Hoje, por exemplo, estou à
frente da Avenida Paulista, em São Paulo, o centro financeiro do País. Quanta
riqueza à minha frente, quanta oportunidade de negócios. Quanta gente,
igualmente, à procura de um lugar ao sol.
A riqueza de poucos, na
verdade, é que gera a riqueza miúda da maioria. A enorme concentração de renda
existente no nosso País provoca distorções alarmantes e tais desigualdades, no
fundo, ferem a própria democracia.
Um mundo melhor, que
imaginamos, deve possuir grau mínimo de desigualdade entre as gentes. Este é,
talvez, um dos grandes desafios da humanidade: proporcionar melhor equilíbrio na
distribuição da riqueza.
As arbitrariedades do
passado, típicas dos senhores de engenho e proprietários das fazendas de café,
são hoje avantajadas, pois adquiriram uma proporção gigantesca. Os barões do
café são hoje os mega empresários da indústria e de serviços, sem deixar de
citar a nova classe empresarial dos detentores do conhecimento e da informação.
Os latifundiários de ontem atualmente são conhecidos pela capacidade de realizar
negociações transnacionais. Na verdade, expandiram seu modo de atuação e
alcançam cifras e domínios em escala mundial.
Não condeno tal fato,
logicamente é um reflexo da sua capacidade empreendedora, de produzir negócios
com competência, mas o que condeno é que a distribuição das riquezas geradas por
estas ações de empreendedorismo, não ocorre como deveria. O lucro, na prática,
fica para poucos.
Ora, como poderemos pensar
numa nação ou num planeta melhor se continuamos ainda a macular a riqueza
deixando-a nas mãos de “meia-dúzia” de pessoas enquanto a grande maioria fica
apenas a dividir as migalhas?
Aqui mesmo, entre os
transeuntes da Paulista, vejo esta disparidade. Uns de terno e gravata, outros a
mendigar moedas. Uns nos seus automóveis luxuosos, outros a disputar espaço num
metrô.
Enquanto as desigualdades
forem o retrato de nosso cenário social, o homem apenas adiará a sua condição de
felicidade plena, pois não se pode conjugar prosperidade sem a inclusão de mais
e mais membros na repartição do bolo da grande
economia.
Agora, então, temos um
dilema a resolver: por que o menos afortunado deve pagar as contas públicas
quando eles não participaram da alocação equivocada dos gastos
governamentais?
Sabemos que a classe média
fica com a parte mais salgada da fatura, mas como a economia é integrada e tudo
funciona num efeito cascata, os pobres é que amargam no dia a dia pelo disparate
das decisões equivocadas de seus representantes.
Uma economia distributiva
não pode tolerar, em primeiro plano, o uso inadequado das finanças públicas. O
que penso é que a razão social impede-nos de tomar decisões ainda mais duras do
que se deveria, mas algo necessita ser feito de maneira definitiva para se
evitar a irresponsabilidade fiscal. O pior é que as leis, vez em quando, são
moldadas para fraudar os resultados oficiais decorrente da desorganização do
governo central.
Todos estão na mesma roda.
Como é que não podem ver – ou não querem – que este ciclo vicioso deve
definitivamente deixar de existir? Não se pode mais manipular resultados da
macroeconomia e deixar que os outros paguem as contas, contas estas que não são
apenas para o presente, mas que interferem profundamente na criação de um novo
futuro para nossa gente.
Quando será que os
políticos despertarão da sua letargia de seus interesses e devolverão a
dignidade no uso honesto das verbas públicas, garantindo mais estabilidade nos
planos governamentais, em todas as áreas?
A espiritualidade tudo vê.
Nós já decidimos, há muito, não ficarmos de braços cruzados e, com as devidas
autorizações de ordem maior, vamos ao encontro daqueles que podem reverter esta
situação danosa e que beira ao caos, ou, ao menos, minimizar os efeitos da
catástrofe inevitável.
Forçoso é dizer que tudo
isto faz parte de grande projeto maior para a melhoria planetária e de nosso
País. O povo necessita viver na pele determinadas experiências para dar um basta
à economia predatória de mercado que não respeita o meio ambiente e que exclui o
trabalhador na divisão do lucro. Outras bases na economia deverão ser impostas,
aliadas a compromissos de honradez e equidade.
A transformação será dura,
mas necessária. Oremos a Deus e ao mestre Jesus para que possamos passar logo
por estas experiências dolorosas e possamos, o mais rápido possível, encontrar o
nosso norte de prosperidade aglutinativa e distributiva. De mais humanismo e
menos ganância. De mais amor e menos egoísmo.
É isto que
desejamos!
Joaquim Nabuco
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