CARNAVAL ALÉM DA MORTE
Amigos me escrevem
perguntando a respeito de Carnaval além da morte – se existe, ou não
existe?
Lamento informar aos seus aficionados que, pelo menos, nesse degrau
da escada no qual, presentemente, nos encontramos residindo, o Carnaval é uma
festa que já se encontra extinta.
Claro que, por outro lado, sem que tenham
qualquer caráter enfadonho, temos reuniões festivas que nos motivam o espírito à
alegria, pois parece até que a única festa popular, pelo menos no Brasil, capaz
de motivar o homem à alegria seja o Carnaval – e não é bem assim!
Evidente,
no entanto, que, na Terra imediata, para o espírito recém-desencarnado, que não
logrou colocar o pé num patamar de superior compreensão da Vida, a folia
continua...
Blocos e mais blocos de foliões fora do corpo, praticamente,
prosseguem pulando no mesmo compasso daqueles que se esbaldam na avenida – e não
somente na famosa “Sapucaí”!
Infelizmente, hoje, em qualquer cidadezinha do
interior, o Carnaval de rua, quase sempre tocado a alguma espécie de droga, é
uma epidemia de caráter obsessivo! E não estou sendo moralista, não! Vocês sabem
que moralismo não é comigo – estou passando longe disto! A verdade, porém,
lamentavelmente, é esta: carregando nos bolsos pílulas e preservativos, e outros
adereços que não nos convém mencionar, não raro, cada folião de rua encarnado se
faz acompanhar, no mínimo, por mais outro... desencarnado!
Nesta festa de
origem pagã, de há muito, não existe mais nenhuma ingenuidade – se é que, algum
dia, ingenuidade nela realmente existiu! Eu tenha cá as minhas dúvidas...
Se
a coisa se limitasse ao desfile, à fantasia, ao samba e ao flerte sem excesso de
sensualidade, na entronização do corpo como descartável objeto de prazer, tudo
bem; não obstante, sabemos que não é o que acontece, e infeliz da ovelhinha, ou
do carneirinho, que se entregar a esta matilha de lobos famulentos...
Eu não
sei se vocês sabem. Chico Xavier costumava dizer aos amigos mais próximos que o
livro “Libertação”, de André Luiz, psicografado, creio, em 1949, era para ser um
livro muito mais extenso que as 263 páginas que o constituem – aliás, ele chegou
a ser muito mais volumoso. Todavia, depois do livro pronto, aconselhado por
Emmanuel, André Luiz retirou muito do conteúdo da referida obra, que, mesmo
assim, ainda ficou extraordinariamente substanciosa.
Acontece que, segundo
Chico, ao descrever a cidade dos “gregorianos”, localizada na Dimensão das
Trevas, o autor de “Libertação” tinha falado sobre as orgias que, pela época do
Carnaval, eram promovidas lá, com verdadeiras procissões pelas ruas conduzindo
andores sobre os quais os “deuses” eram os símbolos fálicos – tanto o masculino
quanto o feminino! Então, os espíritos, com quase nenhuma roupa, ou nenhuma –
qualquer semelhança com a atualidade é mera coincidência –, bebendo e se
drogando, praticavam atos libidinosos à vista uns dos outros, em completa
promiscuidade...
Por isto, sinceramente, eu não saberia dizer se, pela época
do Carnaval, esta turma sobe e se junta à da Crosta, ou se é essa turma que
desce e se junta à das Trevas – talvez, subindo e descendo se encontrem na
metade do caminho e façam aquele fuzuê!...
Agora, extrapolando um pouquinho,
se durasse apenas três ou quatro dias, o Carnaval não seria nada – os seus
prejuízos dariam muito trabalho, mas, por fim, seriam reparados! No entanto,
pior que, em nosso país, de Brasília ao Rio de Janeiro, ele dura o ano
inteiro!...
Com as exceções de praxe, que um amigo sempre me recomenda
destacar, a folia dos encarnados é tão grande que não está precisando da folia
dos desencarnados, não!...
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 10 de março
de 2014.
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