11.3.14


CARNAVAL ALÉM DA MORTE

Amigos me escrevem perguntando a respeito de Carnaval além da morte – se existe, ou não existe?
Lamento informar aos seus aficionados que, pelo menos, nesse degrau da escada no qual, presentemente, nos encontramos residindo, o Carnaval é uma festa que já se encontra extinta.
Claro que, por outro lado, sem que tenham qualquer caráter enfadonho, temos reuniões festivas que nos motivam o espírito à alegria, pois parece até que a única festa popular, pelo menos no Brasil, capaz de motivar o homem à alegria seja o Carnaval – e não é bem assim!
Evidente, no entanto, que, na Terra imediata, para o espírito recém-desencarnado, que não logrou colocar o pé num patamar de superior compreensão da Vida, a folia continua...
Blocos e mais blocos de foliões fora do corpo, praticamente, prosseguem pulando no mesmo compasso daqueles que se esbaldam na avenida – e não somente na famosa “Sapucaí”!
Infelizmente, hoje, em qualquer cidadezinha do interior, o Carnaval de rua, quase sempre tocado a alguma espécie de droga, é uma epidemia de caráter obsessivo! E não estou sendo moralista, não! Vocês sabem que moralismo não é comigo – estou passando longe disto! A verdade, porém, lamentavelmente, é esta: carregando nos bolsos pílulas e preservativos, e outros adereços que não nos convém mencionar, não raro, cada folião de rua encarnado se faz acompanhar, no mínimo, por mais outro... desencarnado!
Nesta festa de origem pagã, de há muito, não existe mais nenhuma ingenuidade – se é que, algum dia, ingenuidade nela realmente existiu! Eu tenha cá as minhas dúvidas...
Se a coisa se limitasse ao desfile, à fantasia, ao samba e ao flerte sem excesso de sensualidade, na entronização do corpo como descartável objeto de prazer, tudo bem; não obstante, sabemos que não é o que acontece, e infeliz da ovelhinha, ou do carneirinho, que se entregar a esta matilha de lobos famulentos...
Eu não sei se vocês sabem. Chico Xavier costumava dizer aos amigos mais próximos que o livro “Libertação”, de André Luiz, psicografado, creio, em 1949, era para ser um livro muito mais extenso que as 263 páginas que o constituem – aliás, ele chegou a ser muito mais volumoso. Todavia, depois do livro pronto, aconselhado por Emmanuel, André Luiz retirou muito do conteúdo da referida obra, que, mesmo assim, ainda ficou extraordinariamente substanciosa.
Acontece que, segundo Chico, ao descrever a cidade dos “gregorianos”, localizada na Dimensão das Trevas, o autor de “Libertação” tinha falado sobre as orgias que, pela época do Carnaval, eram promovidas lá, com verdadeiras procissões pelas ruas conduzindo andores sobre os quais os “deuses” eram os símbolos fálicos – tanto o masculino quanto o feminino! Então, os espíritos, com quase nenhuma roupa, ou nenhuma – qualquer semelhança com a atualidade é mera coincidência –, bebendo e se drogando, praticavam atos libidinosos à vista uns dos outros, em completa promiscuidade...
Por isto, sinceramente, eu não saberia dizer se, pela época do Carnaval, esta turma sobe e se junta à da Crosta, ou se é essa turma que desce e se junta à das Trevas – talvez, subindo e descendo se encontrem na metade do caminho e façam aquele fuzuê!...
Agora, extrapolando um pouquinho, se durasse apenas três ou quatro dias, o Carnaval não seria nada – os seus prejuízos dariam muito trabalho, mas, por fim, seriam reparados! No entanto, pior que, em nosso país, de Brasília ao Rio de Janeiro, ele dura o ano inteiro!...
Com as exceções de praxe, que um amigo sempre me recomenda destacar, a folia dos encarnados é tão grande que não está precisando da folia dos desencarnados, não!...

INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 10 de março de 2014.

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