Libertação dos Povos
Vejo, com pesar, tudo que se desenrola na Síria,
bem como em outros países do Oriente Médio. O Egito, então, vive em ebulição
permanente nos últimos tempos. A chamada Primavera Árabe trouxe muitas alegrias
no instante em que depôs ditaduras e, em seu lugar, ensaiava a instalação do
regime democrático.
É claro que a ausência de democracia fez com que estes
povos esquecessem um pouco como expressar, de maneira equilibrada, a liberdade
conquistada. Assim, de uma forma ou de outra, mesmo sem querer, passaram a
repetir os mesmos vícios dos regimes que ajudaram a combater. É natural,
portanto, no processo de aprendizagem democrática.
O que vemos na Síria,
porém, é morticídio coletivo. Há assassinatos bárbaros e a comunidade
internacional apenas protesta, mas não age. Fica observando no que vai dar,
enquanto isso, milhares de pessoas morrem e tudo fica impunemente. É
lamentável.
No Egito, sob o pretexto de preservar a democracia, retiraram o
presidente eleito, mas em seu lugar, em vez de trazer a bonança, irmãos egípcios
estão assassinando duramente outros irmãos. Meu Deus, até onde isso vai
dar...
Penso, meus irmãos, que o homem, pouco a pouco, vai entender que a
liberdade é bem fundamental para a humanidade e nesse dia não fará nada que
prejudique a expressão da liberdade do outro. Quando se adquire a liberdade,
quando ela naturalmente se consolida como bem maior de uma nação, é esperado que
se busque mais. Geralmente, pede-se igualdade e justiça.
Igualdade está muito
próximo de justiça, pois dar a cada um o que ele merece é desafio grande, mas
duradouro de se conseguir. Vejo que no mundo inteiro, a maioria das nações
patina nestas conquistas. Bem, é claro, que existe ainda, em muitas delas, a
manutenção de privilégios para grupos restritos ou a preservação de regras de
exclusão que dificultam o acesso das gentes aos bens mínimos para
sobrevivência.
Meus queridos irmãos, no nosso Brasil não é diferente. Apesar
de termos avançado bastante nas duas últimas décadas, ainda é grave a nossa
situação. O povo quando vai às ruas em forma de protesto é porque se tem muito
ainda a fazer. Se avançamos no campo democrático, graças a Deus, não conseguimos
implementar nas mesmas proporções avanços no campo social e econômico como
poderíamos fazer.
Sei que as desigualdades diminuíram. Os governos que se
sucederam criaram algumas condições de acesso da grande massa a bens de consumo
e de livramento da pobreza absoluta, mas isto não é suficiente. O imprescindível
é criar regras de acessibilidade para todos, a tal equanimidade de acesso ao
progresso ou ao desenvolvimento, e, em igual necessidade, a melhoria da educação
de toda a gente. Mas, educação de verdade, aquela educação libertadora e
formadora de cidadãos.
Aí, minha gente, é deixar o tempo passar e verá que o
povo, os mais humildes, vão conquistar o seu lugar, não recebendo esmolas, mas
mostrando o seu valor, isto é conquista de cidadania.
Não é fácil, eu sei,
mas é o único caminho possível de avanço de uma sociedade: justiça social e
educação de qualidade para todos.
Eu lutei por isso e continuo lutando do
lado de cá da vida, pois para mim é tudo muito claro, muito nítido, e não pensem
que os homens poderosos não sabem disso, sabem sim, mas lutam, de maneira
disfarçada para sabotar estas conquistas. O povo, porém, está de olho e não vai
se deixar enrolar por discursos bonitos que não se cumprem.
A paz social
somente é atingida quando temos povo com comida, casa para morar e condições de
acesso aos bens mínimos, públicos e privados. O resto é conversa mole.
Minha
gente, todos nós devemos cumprir com a nossa obrigação de ajudar, no que for
possível, para criar essa sociedade de nossos sonhos, porque de braços cruzados
ficarão todos a mercê da sorte ou da generosidade dos donos do poder que,
logicamente, pouco ou nada farão para a emancipação definitiva dos mais pobres e
oprimidos.
Deus nos abençoe!
Helder Camara
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