5.8.13


CHICO XAVIER, O PAPA E A MÍDIA
 Minha irmã:
Você me escreve perguntando o que eu achei da passagem do Papa Francisco pelo Brasil...
Nada, minha irmã – sinceramente, eu não achei nada, e nem creio que deveria achar!
Eu esperava que, por exemplo, ele, pelo menos, dissesse que a Igreja está propensa a conceder à mulher o direito de exercer o sacerdócio, o que, sem dúvida, seria sair do lugar comum das palavras – seria bem mais que desfilar em papamóvel aberto, quebrando protocolos que, em um líder religioso como ele, nem deveriam existir!
Não estou aqui, compreenda, entrando nos méritos pessoais do atual Papa que, sem dúvida, me parece um espírito sinceramente interessado em vivenciar a Mensagem que prega. Que Deus o fortaleça neste propósito em que a sua simples condição de “sucessor” de Pedro em nada o auxiliará.
À distância, fiquei pensando em muita coisa, como na enorme carência do povo – do povo brasileiro em particular! – de líderes que, para ele, realmente simbolizem alguma coisa.
Deu-me dó de ver aquela multidão ansiosa por algo que, infelizmente, a Igreja Católica, não lhe pode dar, porque simplesmente não tem para lhe oferecer.
E, depois, em termos filosóficos, qual foi a transcendência do discurso do Papa Francisco?! O que ele disse a respeito do que espera o homem para além desta sua breve e quase miserável existência, vivida sobre este orbe de provas e expiações?! Fiquei o tempo todo me perguntando: - O que será que a Igreja fez com o Céu e o Inferno?! – ou o que será que vai fazer, numa época que em Céu e Inferno ninguém acredita mais, nem mesmo o Papa que a eles não se referiu hora alguma?!...
Com todo o respeito, eu não entendo o entusiasmo de alguns companheiros de Ideal com o que o Papa veio continuar representando no Brasil – uma doutrina ultrapassada! Acredito que muitos, inclusive, sentiram uma vontade danada de voltar ao seu antigo ninho, fazendo parte daquela multidão que, de fato, uma vez mais, me pareceu um rebanho sem pastor...
No entanto, o que mais me intrigou foi o espaço que a mídia nacional, durante dias e dias inteiros, concedeu à viagem que este recém-batizado Francisco fez ao Brasil! A audiência deve ter sido fantástica, e os meios de comunicação faturaram como nunca...
E, desta maneira intrigado, não pude evitar de pensar em nosso pobre Chico, de Uberaba e Pedro Leopoldo, assim batizado desde 2 de abril de 1910, que, vivendo quase um século, fazendo, em nome de Jesus, o bem ao povo brasileiro – na partilha do pão, no aconchego do verdadeiro amor, que consola e enxuga lágrimas, e na luta titânica contra a descrença que grassa em nossos dias, pregando a imortalidade da alma, no mais lídimo exercício de seus dons carismáticos –, em toda a sua vida nunca mereceu, da mídia tupiniquim, o espaço que um Papa de poucos dias, em tão poucos dias, dela mereceu!
Parece-me, minha irmã – a você também não?! –, que, infelizmente, a gente continua preferindo um caminho mais fácil para a nossa ascensão espiritual, do que aquele que a Doutrina, na revivescência do Evangelho, nos aponta – ou seja, o penoso caminho da reforma interior!
Então, você me desculpe, mas eu não pude me encantar com o Papa Francisco e o seu staff... Desculpe-me, neste sentido, não participar de sua empolgação, e do entusiasmo de tantos amigos nossos.
Sei, no entanto, que, seja como for, a Igreja ainda tem um papel a cumprir em nossa sociedade, porque nós espíritas, infelizmente, longe dos exemplos de Chico Xavier, andamos muito mais preocupados em nos servirmos de Jesus, e por Jesus sermos servidos, do que, verdadeiramente, servirmos a Ele!...
 INÁCIO FERREIRA

 Uberaba – MG, 5 de agosto de 2013.

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