CHICO XAVIER, O PAPA E A MÍDIA
Minha irmã:
Você
me escreve perguntando o que eu achei da passagem do Papa Francisco pelo
Brasil...
Nada, minha irmã – sinceramente, eu não achei nada, e nem creio que
deveria achar!
Eu esperava que, por exemplo, ele, pelo menos, dissesse que a
Igreja está propensa a conceder à mulher o direito de exercer o sacerdócio, o
que, sem dúvida, seria sair do lugar comum das palavras – seria bem mais que
desfilar em papamóvel aberto, quebrando protocolos que, em um líder religioso
como ele, nem deveriam existir!
Não estou aqui, compreenda, entrando nos
méritos pessoais do atual Papa que, sem dúvida, me parece um espírito
sinceramente interessado em vivenciar a Mensagem que prega. Que Deus o fortaleça
neste propósito em que a sua simples condição de “sucessor” de Pedro em nada o
auxiliará.
À distância, fiquei pensando em muita coisa, como na enorme
carência do povo – do povo brasileiro em particular! – de líderes que, para ele,
realmente simbolizem alguma coisa.
Deu-me dó de ver aquela multidão ansiosa
por algo que, infelizmente, a Igreja Católica, não lhe pode dar, porque
simplesmente não tem para lhe oferecer.
E, depois, em termos filosóficos,
qual foi a transcendência do discurso do Papa Francisco?! O que ele disse a
respeito do que espera o homem para além desta sua breve e quase miserável
existência, vivida sobre este orbe de provas e expiações?! Fiquei o tempo todo
me perguntando: - O que será que a Igreja fez com o Céu e o Inferno?! – ou o que
será que vai fazer, numa época que em Céu e Inferno ninguém acredita mais, nem
mesmo o Papa que a eles não se referiu hora alguma?!...
Com todo o respeito,
eu não entendo o entusiasmo de alguns companheiros de Ideal com o que o Papa
veio continuar representando no Brasil – uma doutrina ultrapassada! Acredito que
muitos, inclusive, sentiram uma vontade danada de voltar ao seu antigo ninho,
fazendo parte daquela multidão que, de fato, uma vez mais, me pareceu um rebanho
sem pastor...
No entanto, o que mais me intrigou foi o espaço que a mídia
nacional, durante dias e dias inteiros, concedeu à viagem que este
recém-batizado Francisco fez ao Brasil! A audiência deve ter sido fantástica, e
os meios de comunicação faturaram como nunca...
E, desta maneira intrigado,
não pude evitar de pensar em nosso pobre Chico, de Uberaba e Pedro Leopoldo,
assim batizado desde 2 de abril de 1910, que, vivendo quase um século, fazendo,
em nome de Jesus, o bem ao povo brasileiro – na partilha do pão, no aconchego do
verdadeiro amor, que consola e enxuga lágrimas, e na luta titânica contra a
descrença que grassa em nossos dias, pregando a imortalidade da alma, no mais
lídimo exercício de seus dons carismáticos –, em toda a sua vida nunca mereceu,
da mídia tupiniquim, o espaço que um Papa de poucos dias, em tão poucos dias,
dela mereceu!
Parece-me, minha irmã – a você também não?! –, que,
infelizmente, a gente continua preferindo um caminho mais fácil para a nossa
ascensão espiritual, do que aquele que a Doutrina, na revivescência do
Evangelho, nos aponta – ou seja, o penoso caminho da reforma interior!
Então,
você me desculpe, mas eu não pude me encantar com o Papa Francisco e o seu
staff... Desculpe-me, neste sentido, não participar de sua empolgação, e do
entusiasmo de tantos amigos nossos.
Sei, no entanto, que, seja como for, a
Igreja ainda tem um papel a cumprir em nossa sociedade, porque nós espíritas,
infelizmente, longe dos exemplos de Chico Xavier, andamos muito mais preocupados
em nos servirmos de Jesus, e por Jesus sermos servidos, do que, verdadeiramente,
servirmos a Ele!...
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 5 de agosto de
2013.
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