11.2.18

Carnavalescos no Além


É o inferno na Terra! – afirmam alguns.
Que tristeza, meu Deus! – dizem outros.
O mundo vai se acabar com tanta libertinagem – antecipam outros mais.
Por outro lado, há aqueles que asseveram:
- Seria bom que houvesse todos os dias.
- Eu não sei viver sem essa festa maravilhosa.
- Quero mais é entrar na folia e não mais voltar.
As opiniões se dividem sobre o carnaval. Uma festa sem dimensão. Seus impactos são enormes na vida da população.
Agitam-se de todos os lados aqueles que se envolvem nesta parada de trabalho e rotina para a grande festa de “Momo”.
Tenho visto tanta coisa do lado de cá da vida e nada mais me espanta, inclusive no carnaval.
Eu já vi gente desacordada e pensando que ainda estava na folia. Corpo estendido no chão e ele no meio da multidão, como se nada houvesse acontecido.
Pessoas mortas se entrecruzando com outras numa animação de quem vê não sabe quem é vivo ou morto não.
Todo tipo de acasalamento de vontades se vê no carnaval.
Um dia, nessas andanças por esses tempos de brincadeira carnavalesca, vi um homem sozinho na multidão. Parado, estático. Aproximei-me dele, dei-lhe um bom dia e ele me respondeu:
- Estou esperando meu bloco passar.
- E quando ele chega? - perguntei.
- Às nove horas, mas não sei porque estão atrasados.
- Faz quanto tempo que o senhor está aqui?
- Não sei, já perdi as contas.
Examinei direito e vi que ele já estava fora do corpo há algum tempo. Não sei exatamente quanto. Aí ele disse que, pela demora, entraria no próximo bloco que viesse.
Despedi-me e quando vi estava ele já entrosado em outra agremiação carnavalesca que não era originalmente a dele. Quando olhei mais atentamente, vi que ele estava entrelaçado com outros tantos que também estavam “mortos”. Era sim, meus caros, um bloco do além. Até aquele instante, não sabia que aqui eles também se organizavam para continuar as brincadeiras de outrora.
É este carnaval que contagia toda a gente.
Eu me lembro muito bem que certa vez estive num carnaval em Ouro Preto, nas Minas Gerais. Falo de um carnaval na condição de espírito desencarnado. Lá, presenciei um séquito de espíritos disfarçados, como se não tivessem morrido, misturados na multidão, comportando-se como se estivessem fantasiados de “almas”. Que indecência, pensei, mas eles me responderam que era brincadeira e por quê não?
Tudo isso e muito mais é carnaval. Uma festa que se enrama na multidão que se entrega de corpo e alma para saborear momentos de alegria e confraternização.
É assim a alma de nosso povo. Ora, irreverente, outra vez, bastante criativa. É, na prática, ânsia de viver, de viver bem, de viver com eterna alegria, mesmo que dure apenas três dias.
Joaquim Nabuco – Blog Reflexões de um Imortal.

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