"O Espírito ligado ao seu corpo e
sofrendo ainda as torturas dos últimos instantes, pois se achando no meio de
Espíritos sofredores, desesperançosos de seu perdão não é o inferno com seus
prantos e seu ranger de dentes? É necessário fazer dele uma fornalha com as
chamas e as forcas? Essa crença na perpetuidade dos sofrimentos é, como se
sabe, um dos castigos infligidos aos Espíritos culpados. Esse estado dura tanto
quanto o Espírito não se arrepende, e durará sempre se não se arrepende jamais,
porque Deus não perdoa senão ao pecador arrependido. Desde que o arrependimento
entre em seu coração, um raio de esperança lhe faz entrever a possibilidade de
um fim para os seus males; mas só o arrependimento não basta; Deus quer a expiação
e a reparação, e é pelas reencarnações sucessivas que Deus dá aos Espíritos
imperfeitos a possibilidade de se melhorarem, na erraticidade eles tomam
resoluções que procuram executar em sua vida corporal; é assim que, a cada
existência, deixando alguma impureza, chegam gradualmente a se aperfeiçoarem, e
dão um passo adiante para a felicidade eterna. A porta da felicidade, portanto
jamais lhes é fechada, mas a alcançam num tempo mais ou menos longo, segundo a
sua vontade e o trabalho que fazem, sobre si mesmos, para merecê-lo."
"Não se pode admitir a onipotência de
Deus sem a presciência; desde então, pergunta-se por que Deus, criando uma
alma, sabendo que ela deverá falir sem poder se levantar, a tirou do nada para
voltá-la aos tormentos eternos? Quis, pois, criar almas infelizes? Esta
proposição é insustentável com a ideia da bondade infinita, que é um dos seus
atributos essenciais. de duas coisas uma, ou ele sabia, ou não sabia; se não
sabia não é todo-poderoso; se o sabia, não é nem justo e nem bom; ora, tirar
uma parcela do infinito dos atributos de Deus, é negar a divindade. Tudo se
concilia, ao contrário, com a possibilidade deixada ao Espírito de reparar suas
faltas. Deus sabia que, em virtude de seu livre arbítrio, o Espírito faliria,
mas sabia também que se reabilitaria; sabia que tomando o mau caminho
retardaria sua chegada ao objetivo, mas que chegaria cedo ou tarde, e é para
fazê-lo chegar mais depressa que multiplica as advertências sobre seu caminho;
se não as escuta, não é senão mais culpável, e merece o prolongamento de suas
provas. Dessas duas doutrinas, qual é a mais racional?"
Livro: Revista Espírita -
tomo 5 - 1862 - Allan Kardec
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