Yvonne A. Pereira
Não obstante, jamais me senti satisfeito e
tranquilo comigo mesmo. Existe um vácuo em meu ser que não será preenchido
senão depois da renovação em corpo carnal, depois de plenamente testemunhado a
mim mesmo o dever que não foi perfeitamente cumprido na última romagem terrena,
abreviada pelo suicídio! A recordação dolorosa daquele Jacinto de Ornelas y
Ruiz, por mim desgraçado com a cegueira irremediável, num gesto de despeito e
ciúme, permanece indelével, impondo-se às cordas sensíveis do meu ser como
estigma trágico do Remorso inconsolável, requisitando de meu destino futuro
penalidade idêntica, ou seja - a cegueira, já que aprova máxima de ser cego
fora por mim anulada à frente do primeiro ensejo ofertado pela Providência,
mediante o suicídio com que julgara poder libertar-me dela, ficando, portanto,
com esse débito na consciência! De há muito devera eu ter voltado à
reencarnação. O que fora lícito aprender nas Academias da Cidade Esperança
foi-me facultado generosamente, pela magnânima diretoria da Colônia, a qual não
interpôs dificuldades ao longo aprendizado que desejei fazer. Até mesmo
avantajados elementos da medicina psíquica adquiri ao contato dos mestres,
durante aulas de Ciência e no desempenho de tarefas junto às enfermarias do
Hospital Maria de Nazaré, onde sirvo há doze anos, substituindo Joel, que
partiu para novas experiências terrenas, no testemunho que à Lei devia, como
suicida que também era. Tal aptidão valer-me-á o poder tornar-me "médium
curador", mais tarde, quando novamente habitar a crosta do planeta onde
tantas e tão graves expressões de sofrimento existem para flagelar a Humanidade
culposa de erros constantes!
Faltava-me, todavia, o idioma fraterno do
futuro, aquele penhor inestimável da Humanidade, e que tenderá a envolvê-la no
amplexo unificador das raças e dos povos confraternizados para a conquista do
mesmo ideal: - o progresso, a harmonia, a civilização iluminada pelo Amor! Era
estudo facultativo esse, como, aliás, todos os demais deveres que tenderíamos a
abraçar, mas que os iniciados, particularmente, aconselhavam a fazermos, a ele
emprestando grande importância, porquanto esse idioma, cujo nome simbólico é o
mesmo de nossa Cidade Universitária, isto é, Esperança - (Esperanto) -,
resolverá problemas até mesmo no além-túmulo, facultando aos Espíritos elevados
o se comunicarem eficiente e brilhantemente, através de obras literárias e
científicas, as quais o mundo terreno tende a receber do Invisível nos dias
porvindouros - servindo-se de aparelhos mediúnicos que também se hajam
habilitado com mais essa faculdade a fim de bem atenderem aos imperativos da
missão que, em nome do Cristo e por amor da Verdade e da redenção do gênero
humano, deverão exercer. Ora, convinha extraordinariamente aos meus interesses
em geral e aos espirituais em particular, a aquisição, no plano invisível,
desse novo conhecimento, ou seja, do idioma "Esperanto".
Ao reencarnar, levando-o decalcado nas
fibras luminosas do cérebro perispiritual, em ocasião oportuna advirme-ia a
intuição de reaprendê-lo ao contato de mestres terrenos. Eu fora, aliás,
informado de que seria médium na existência porvindoura e comprometera-me a
trabalhar, uma vez reencarnado, pela difusão das verdades celestes entre a Humanidade,
não obstante o fantasma da cegueira que se postou à minha espera nas estradas
do futuro. Meditei profundamente na conveniência que adviria da ciência de um
idioma universal entre os homens e os Espíritos, do quanto eu mesmo, como
médium que serei, poderei produzir em prol da causa da Fraternidade - a mesma
do Cristo -, uma vez o meu intelecto de posse de tal tesouro. Obtida, pois, a
permissão para mais esse curso, matriculei-me na Academia que lhe era afeta e
me dediquei fervorosamente ao nobre estudo. Não era simplesmente um edifício a
mais, figurando na extensa Avenida Acadêmica onde suntuosos palácios se
alinhavam em magistral efeito de arte pura, mas escrínio de beleza
arquitetônica, que levaria o pensador ao sonho e ao deslumbramento! Era também
um templo, como as demais edificações, e nos seus majestosos recintos
interiores a Fraternidade Universal era homenageada sem esmorecimentos, e sob
as mais sadias inspirações da Esperança, por ministros do Bem, incansáveis em
operosidades tendentes ao beneficio e progresso da Humanidade.
Localizado num extremo da artéria principal
da nobre e graciosa cidade do Astral, elevava-se sobre ligeiro planalto
circulado de jardins cujos tabuleiros profusos também se multiplicavam em
matizes suaves, evolando oblatas de perfumes ao ar fresco, que se impregnava de
essências agradáveis e puras.
Arvoredos floridos, caprichosamente mesclados de tonalidades verde-gaio
e como que translúcidas, ora esguios, de galhadas festivas, ou frondosos,
orlados de festões garridos onde doces virações salmodiavam queixumes
enternecidos, alinhavam as alamedas e pequenas praças do jardim, emprestando ao
encantador recanto o idealismo augusto dos ambientes criados sob o fulgor das
inspirações de mais elevadas esferas. Não foi sem sentir vibrar nas cordas
sutis do meu Espírito um frêmito de insólita emoção que lentamente galguei as
escadarias que levavam à alameda principal, acompanhado, a primeira vez, de
Pedro e Salústio, representantes que eram da direção do movimento universitário
do cantão, isto é, espécie de inspetores escolares.
Ao longe, o edifício fulgia docemente, como
estruturado em esmeraldinos tons de delicada quintaessência do Astral.
Dir-se-ia que os revérberos do Astro Rei, que muito de mansinho penetrava os horizontes
do nosso burgo, resvalando brandamente pelos zimbórios e pelas cornijas
rendilhadas e graciosas, o envolviam em bênçãos diárias, aquecendo com ósculos
de fraterno estímulo a ideia genial processada no seu interior augusto por um
pugilo de entidades esclarecidas, enamoradas do progresso da Humanidade, de
realizações transcendentes entre as sociedades da Terra como do Espaço. Era,
todavia, a única edificação refulgindo tonalidades esmeraldinas e flavas, em
desacordo com suas congêneres, que lucilavam nuanças azuladas e brancas, e que
não obedecia ao clássico estilo hindu. Lembraria antes o estilo gótico,
evocando mesmo certas construções famosas da Europa, como a catedral de
Colônia, com suas divisões e reentrâncias bordadas quais joias de filigrana, suas
torres apontando graciosamente para o alto entre flamejamentoa que se diriam
ondas transmissoras de perenes inspirações para o exterior.
Os recintos interiores não decepcionavam,
porquanto eram o que de mais belo e mais nobre pude apreciar nos interiores da
Cidade Esperança. Feição de catedral, com efeitos de luzes surpreendentes e um
acento de arte fluídica da mais fina classe que me seria possível conceber,
compreendia-se imediatamente não serem orientais e tampouco iniciados os seus
idealizadores; que não pertenceriam à falange sob cujos cuidados nos
reeducávamos e que antes deveria tratar-se de realização transplantada de
outras falanges, como que uma embaixada especial, sediada em outras plagas, mas
com elevadas missões entre nós outros, e cuja finalidade seria, sem sombra de
dúvidas, igualmente altruística.
Com efeito! A uma interrogação minha, Pedro
e Salústio responderam tratar-se de uma filial da grande Universidade
Esperantista do Astral, com sede em outra esfera mais elevada, a qual irradiava
inspiração para suas dependências do Invisível, como até da Terra, onde já se
iniciava apreciável movimentação em torno do nobilíssimo certame, entre
intelectuais e pensadores de todas as raças planetárias! Igualmente não era,
como as demais Escolas do nosso burgo, dirigida por iniciados em Doutrinas
Secretas. Seus diretores seriam neutros, na Terra como no Além, em matéria de
conhecimentos filosóficos ou crenças religiosas em geral. Seriam antes
renovadores por excelência, idealistas a pugnarem por um melhor estado nas
relações sociais, comerciais, culturais, etc., etc., que tanto interessam a
Humanidade.
Ali destacamos grandes vultos reformadores
do Passado emprestando do seu valioso concurso à formosa causa, alguns deles
tendo vivido na Terra aureolados por insuspeitáveis virtudes, e com os próprios
nomes registrados na História como mártires do Progresso, porquanto trabalharam
em várias etapas terrenas, nobre e heroicamente, pela melhoria da situação
humana e da confraternização das sociedades. Surpreendido, ali encontrei
plêiade cintilante de intelectuais de toda a Europa aderidos ao movimento,
entre muitos o grande Victor Hugo, para só me referir a um representante do
continente francês, ainda e sempre genial e trabalhador, dando de suas vastas
energias à ideia da difusão de um inapreciável patrimônio entre a Humanidade.
Quando, por isso mesmo, tomei lugar no amplo e bem iluminado salão para o
advento das primeiras aulas, confessava-me grandemente atraído para essa nova e
admirável falange de servidores da Luz.
Uma vez no recinto, onde nuanças docemente
esmeraldinas se casavam ao rendilhado dourado da arquitetura fluídica e sutil,
emprestando-lhe sugestões encantadoras, não me pude furtar à surpresa de
averiguar ser o elemento feminino superior em número ao masculino, referência
feita aos aprendizes. E, durante o prosseguimento de todo o interessante curso,
pude verificar com que fervor minhas gentis colegas de aprendizado, as
mulheres, se dedicavam à vultosa conquista de armazenarem no refolho do cérebro
perispiritico as bases espirituais de um idioma que, uma vez reencarnadas, lhes
seria grato lenitivo no futuro, afã generoso a lhes descortinar horizontes mais
vastos, assim para a mente como para o coração, dilatando ainda possibilidades
muito mais ricas de suavizar críticas situações, remover empecilhos, solucionar
problemas com que porventura viessem a deparar no trajeto das reparações e
testemunhos inalienáveis do porvir. E que de afeições puríssimas e
blandiciosas, durante o mencionado labor?!...
Ao amável aconchego dos meus companheiros
de ideal esperantista, desde os primeiros dias harmonizadas as cordas do meu
ser às suas vibrações gêmeas da minha, encheu-se o meu Espírito de indizível
satisfação, o coração se me dilatando para o advento da mais viva e consoladora
Esperança de melhores dias presidindo às sociedades terrenas do futuro, no seio
das quais tantas vezes ainda renasceríamos, rumando para as alcandoradas plagas
do Progresso!
Tal como no desenrolar das lições ministradas
pelos antigos mestres Aníbal e Epaminondas, desde o primeiro dia de aula na
Academia de Esperanto verificou-se magistral desfile de civilizações
terrenas. Suas dificuldades, muitas
até hoje insanadas, muitos dos seus mais graves impasses foram analisados sob
nossas vistas interessadas, em quadros expositivos e sequentes como o
cinematógrafo, mostrando a Humanidade a debater-se contra as ondas até hoje
insuperáveis da multiplicidade de idiomas e dialetos, dificuldades que
figuravam ali como um dos flagelos que assolam a atribulada Humanidade,
complicando até mesmo o seu futuro espiritual, porquanto no próprio Mundo
Invisível se luta contra estorvos motivados pela diferença de linguagem, nas
zonas inferiores ou de transição, onde prolifera o elemento espiritual pouco
evolvido ou ainda muito materializado.
Minúcias, ramificações, consequências
surpreendentes até mesmo dentro do lar doméstico, empeços desanimadores, no
alongamento das relações e até do amor, entre as nações, os povos e os indivíduos,
tudo foi magistralmente examinado desde as primeiras civilizações contempladas
no planeta até ao século XX, que eu próprio não alcançara no plano material. E,
depois, a simplificação dos mesmos casos, a remoção das mesmas dificuldades, a
aurora de um progresso franco, também alicerçado na clareza de um idioma que
será patrimônio universal, da mesma forma que a Fraternidade e o Amor, unindo
ideias, mentes, corações e esforços para um único movimento geral, uma gloriosa
conquista: - a difusão da cultura em geral, a aproximação dos povos para o
triunfo da unidade de vistas, a felicidade das criaturas! Soletramos, então, os
vocábulos. Eram-nos apresentados artística e gentilmente, através de quadros
vivos e inteligentes.
Sobrepunham-se estes em sequências
admiráveis de leitura, fornecendo-nos o de que necessitávamos para nos
apossarmos dos segredos que nos permitiriam mais tarde até mesmo discursar
fluentemente, em assembleias seletas. Eram, portanto, álbuns, livros móveis,
inteligentes, como que animados por fluido singular, a nos ensinarem a
conversação, a escrita, toda a esplendente irradiação de um idioma que se ia
decalcando em nosso intelecto, permitindo-nos, quando reencarnados, a explosão
de intuições brilhantes tão logo nos encontrássemos na pista do assunto! E tais
eram as perspectivas que nos acenavam os fatos do cimo glorioso daquela
conquista, que nos sentimos triplicemente irmanados a toda a Humanidade: pelos
laços amoráveis da Doutrina do Cristo; pelo beneplácito da Ciência que nos
iluminava o coração e pela finalidade a que nos arrastaria o exercício de um
idioma que futuramente nos habilitaria a nos reconhecermos como em nossa
própria casa, estivéssemos em nossa Pátria ou vivendo no seio de nações
situadas nas mais diferentes plagas do globo terrestre, como até no seio do
mundo invisível!
Ora, a Embaixada Esperantista em nossa
Colônia não se limitava a facultar-nos elementos linguísticos capazes de nos
confraternizar com os demais cidadãos terrenos, com quem seríamos compelidos a
viver nos arraiais da crosta planetária, em futuro próximo. De quando em
quando, das esferas mais elevadas desciam visitas de confraternização, no
intuito generoso de encorajarem os irmãos de ideal ainda ergastulados nas
dificuldades de antigas delinquências. Verdadeiros congressos que eram, tais
visitas à nossa Academia tratavam, em assembleias brilhantes, do interesse da
Causa, das atividades para a vitória do Ideal, dos sacrifícios e lutas de
muitos pares do novo empreendimento para a sua difusão e progresso!
Era quando tínhamos ocasião de avaliar a
colaboração daqueles vultos eminentes que viveram na Terra e cujos nomes a
História registrou, e dos quais falamos mais atrás. Grandes turmas de alunos,
aprendizes do mesmo movimento, e pertencentes a outras esferas, aderiam a tais
congressos, piedosamente colaborando para o reconforto de seus pobres irmãos
prisioneiros do suicídio. Então, eram dias festivos em Cidade Esperança! Nas
suntuosas praças ajardinadas que circundavam o majestoso palácio da Embaixada Esperantista,
sobre tapetes de relvas cetinosas, garridamente mescladas de miosótis azuis, de
azáleas níveas ou róseas, realizavam-se os jogos florais, perfeitos torneios de
Arte Clássica, durante os quais a alma do espectador se deixava transportar ao
ápice das emoções gloriosas, deslumbrada diante da majestade do Belo, que então
se revelava em todos os delicados e maviosos matizes possíveis à sua
compreensão!
Destacavam-se os bailados coreográficos e
mesmo individuais, levados a cena por jovens e operosas esperantistas, cujas
almas reeducadas à luz benfazeja da Fraternidade não desdenhavam testemunhar a
seus irmãos cativos do pecado o apreço e a consideração que lhes votavam,
descendo das paragens luminosas e felizes em que viviam para a visitação amistosa,
com que lhes concediam tréguas para as ominosas preocupações através do
refrigério de magnificentes expressões artísticas! Então, a beleza do
espetáculo atingia o indescritível, quando, deslizando graciosamente pelo
relvado florido, pairando no ar quais libélulas multicores, os formosos
conjuntos evolucionavam traduzindo a formosa arte de Terpsicore através do
tempo e dos característicos das falanges que melhor souberam interpretá-la;
agora, eram jovens que viveram outrora na Grécia, interpretando a beleza ideal
dos "ballets" de seu antigo berço natal; depois, eram egípcias,
persas, hebraicas, hindus, europeias, extensa falange de cultivadores do Belo a
encantar-nos com a graça e a gentileza de que eram portadoras, cada grupo
alçando ao sublime o talento que lhes enriquecia o ser, enquanto suntuosos
efeitos de luz inundavam o cenário como se feéricos, singulares fogos de
artifício descessem dos confins do firmamento para irradiar em bênçãos de luzes
sobre a cidade, que toda se engalanava de esbatidos multicores, nuanças
delicadas e lindas, que se transmudavam de momento a momento em raios que se
entrechocavam, indescritivelmente, em artísticos jogos de cores,
entrecruzando-se, transfundindo-se em cintilações sempre novas e
surpreendentes!
E todo esse empolgante e intraduzível
espetáculo de arte, que por si mesmo seria uma oblata ao Supremo Detentor da
Beleza, verificado ao ar livre e não no recinto sacrossanto dos Templos,
fazia-se acompanhar de orquestrações maviosas onde os sons mais delicados, os
acordes flébeis de poderosos conjuntos de harpas e violinos, que eram como
pássaros garganteando modulações siderais, arrancavam de nossos olhos
deslumbrados, de nossos corações enternecidos, haustos de emoções generosas que
vinham para tonificar nossos Espíritos, alimentando nossas tendências para o
melhor, ao nosso ser ainda frágil descortinando horizontes jamais entrevistos
para o plano intelectual! Quantas vezes músicos célebres que viveram na Terra
acompanharam as caravanas esperantistas à nossa Colônia, colaborando com suas
sublimes inspirações, agora muito mais ricas e nobres, nessas fraternas
festividades que o Amor ao próximo e o culto à Beleza promoviam!
Mas tudo isso era manifestado em um estado
de superioridade e grandiosa moral que os humanos estão longe de conceber!
Sucediam-se, porém, os concertos: cânticos orfeônicos atingiam expressões
miríficas; peças musicais perante as quais as mais arrebatadas melodias
terrenas empalideceriam; certames poéticos em cenas de declamação cuja
suntuosidade tocava o inimaginável, arrebatando-nos até ao êxtase! E o idioma
seleto de que se utilizava esse pugilo magnífico de artistas pertencentes a
falanges que viveram e progrediram sob a bandeira de todos os climas, de todas
as Pátrias do globo terrestre, era o Esperanto, aquele que iria coroar a
iniciação que fizéramos, reeducando-nos aos conceitos da Moral, da Ciência e do
Amor! Só se admitia, no entanto, a Arte Clássica.
Em nossa Cidade Universitária jamais
presenciamos o regionalismo de qualquer espécie. E depois que as lágrimas
banhavam nossas faces, empolgadas nossas almas ante tanto esplendor e
maravilhas, diziam nossas boas vigilantes, acompanhando-nos ao internato para o
repouso noturno: - Não vos admireis, meus amigos! O que vistes é apenas o
início da Arte no além-túmulo . . . Trata-se da expressão mais simples do Belo,
a única que vossas mentalidades poderão alcançar, por enquanto... Em esferas
mais bem dotadas que a nossa existe mais, muito mais! . . . Cumpre, porém, à
alma pecadora refazer-se das quedas em que incorreu, virtualizando-se através
da renúncia, do trabalho, do amor, a fim de merecer o gravitar para elas...