Vergonha
Não sou aquele de antes.
Também pudera, quanto tempo já se passou do meu retiro do mundo dos vivos na
carne. Faz tempo, muito tempo, que vi um Brasil a se construir, a tecer seus
primeiros traços de nação. Era tudo um sonho, um grande sonho, tudo por fazer.
Agora, senhores, resta-nos completar este sonho ou dá-lo vivas
cores.
O que vejo hoje, apesar das
conquistas inumeráveis que fizemos, é um país triste, cabisbaixo, sem energias,
desolado.
O que vejo hoje, com meus
olhos de espírito, é uma terra dizimada pelo pessimismo, pela desonra, pela
iniquidade, todo um pavor.
Isto pode mudar, minha
gente. Isto tem que mudar, minha gente.
Toda crise é passageira,
bem sabemos, mas elas têm que nos deixar lições para não mais repeti-la. Que
venham outras, ao longo dos tempos, mas por motivos novos não aqueles que nos
fizeram sucumbir no passado.
O que vejo, porém, é que
estamos nos lambuzando nos mesmos erros. E o qual o erro
maior?
Dignidade na política, ou
melhor, a falta de uma conduta moral reta no tratar das coisas
públicas.
Este mal, infelizmente, é
geral. Já pontuei em outros artigos esta doença que não se afasta, aquela que
diminui o homem, que o deixa menor que os animais, a falta de vergonha na
cara.
A honradez, que era em meu
tempo, questão sine qua non para se estar na rua, atualmente é artigo raro,
sobretudo no mundo da política.
Os acordos malversados, as
conversas de mais valia, os tratados de esperteza, o raciocínio do lucro fácil
com o dinheiro público, é o comum das conchavos dos gabinetes de todas as
esferas do poder.
É um câncer, senhores, de
profundas raízes, cujo doente nem se apercebe dele, ao contrário, acredita ser
este um sinal de saúde nas suas relações políticas.
A que ponto chegamos com a
hipocrisia do discurso pelo povo apenas para atender aos seus interesses mais
que pessoais.
Que vergonha,
senhores!
Tudo isso não é normal e
há, no subterrâneo da sociedade brasileira, grande insatisfação. De todos os
lados, o povo não acredita mais nos seus mandatários, nos políticos da vez, nos
seus representantes que nunca os representou de
verdade.
Que política vergonhosa se
faz e a cara cínica de larápios do povo travestidos em
cordeiros.
Somos uma nação que vencerá
a estes desmandos, sem antes, contudo, experimentar os vexames dos escândalos.
Quanta gente será pega ainda com as mãos e os pés na lama para isto
acontecer?
Tenho pena deles,
antecipadamente, sinto dó destes irmãos sem raciocínio do bem e desprovidos de
caráter.
O mal que fazem a eles é
tamanho, pois a resposta, aqui nos círculos espirituais, é de tão grande impacto
que suas consciências gostariam de voltar do pesadelo num instante e não irão
consegui-lo.
O dinheiro que faz falta
aos projetos de habitação, às melhorias salariais dos servidores públicos, aos
vencimentos dos professores e profissionais da sáude, enfim, de todo bem que
deveria ter sido feito e não o foi, será cobrado, centavo a centavo, nos
bastidores da vida física.
Que
pena!
Muitos deles são tribunos
de valor, possuem inteligência ímpar para a coisa pública, mas degeneraram-se,
desprezaram os seus compromissos de ajudar ao povo mais sofrido nos seus
projetos reencarnacionistas.
O mundo mudará, o Brasil se
modificará, mas o preço a ser pago será alto, bem mais do que se pode
imaginar.
De nossa parte, a confiança
que novas bases de poder se erguerão depois do período de caos e desfaçatez.
Novos homens e mulheres, como já me referi, adentram o corpo carnal para
experiências libertadoras de toda a sociedade.
Que o bem político maior
prevaleça.
Que a esperança de dias
melhores vença.
Que o homem avance mais nos
seus desígnios divinos.
É hora de
mudar!
Joaquim
Nabuco
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