Senhores,
A quantas anda a paisagem
libertária e liberal do meu Recife?
Onde estão os homens e as
mulheres que não baixam as suas cabeças diante das injustiças e dos
degredos?
A quem procurar quando nos
sentirmos lesados na nossa condição cidadã?
Parece-me que aquela
inquietação fervente que sempre caracterizou o meu Recife está dormindo. Afora
alguns movimentos sociais que, episodicamente, se manifestam por uma causa ou
outra, vejo é o esquecimento da sua base inconformista e
progressista.
Onde estão os políticos que
bradavam por mais liberdade de expressão no
passado?
Por que se calar diante de
um governo federal que beira a mediocridade só porque se prende a ele por um
quinhão mínimo de recursos e de posição?
Não importa a bandeira
partidária, importa a causa libertária.
Foi esta sempre a fleuma
dos recifenses e, ademais, de todos os pernambucanos, mas onde está tamanha
rebeldia? Em que lugar se esconde o bravo povo do
Recife?
Não sou contra governos a,
b ou c. Na minha condição espiritual nem isso devo ser. O que está em jogo são
práticas ultrapassadas e manter-se no poder ou ser conivente com ele porque não
se deseja se “queimar” diante da opinião pública ou de uma parcela sectarista da
população. É pensar menor e deixar de ter altivez.
Vejo homens honrosos em
todos os flancos, mas não posso, no dever da verdade, dizer que não existem
pilantras em todas as facções, oportunistas do poder – seja ele qual for -,
larápios do dinheiro público.
O que está em jogo,
senhores, é a honradez, é o compromisso com a verdade, é ter mãos limpas, é não
ser conivente com o que existe de pior.
Se homens que deveriam
acertar erraram, então que se modifique imediatamente o estado de coisas
reinante. O que não se pode é tentar encontrar subterfúgios para cobrir as
“marmeladas”.
Quando defendo tais
princípios, por favor, não me enquadrem num quadrante ou outro da política
vigente, isto não. O que defendo, como sempre defendi, são princípios. E se eles
são esquecidos, subtraídos, lesados, que se faça a justiça em nome do
povo.
Ocorre, porém,
infelizmente, é que muitas mãos que deveriam coordenar a limpeza do tecido
social, pasmem, possuem, igualmente, as suas mãos
sujas.
A moral, na política como
em tudo na vida, deve se constituir naquilo que de mais sagrado existe. Moral
conjugada ao exemplo particular que inspira ao
coletivo.
Não me venham, por favor,
senhores, com a justificativa lesante de que todos fazem, por isso, podemos
fazer também. Não, isto não!
Se o País necessita de
reformas, que venham elas.
Se o País depende do
exemplo, que ele seja aplicado.
Se o Pais deseja mudanças,
que elas sejam implantadas.
O que não deve,
especialmente em política, que é coisa séria, é lançar mão da hipocrisia, do
discurso fácil e frouxo, do acordo às escondidas, para manter-se tudo como está.
O que não se pode perder é a vergonha na cara.
Entendamos, de uma vez por
todas, estamos nos referindo a homens. Sabemos das fragilidades que são
inerentes, ainda, a condição humana.
Há homens que defendem
valores da boca para fora. Apresentam-se como baluartes do bom exemplo, mas,
como bem diz o mestre Jesus, não passam de sepulcros
caiados.
A indignação do nosso povo
é enorme, mas sincera, fundamentada, certa.
Que se mude o governo, se
assim melhor se entender.
Que mude o governo, se
assim melhor ele entender.
Mas que se mude
urgentemente este estado de coisas que, em breve, se nada for feito, ficará
absolutamente insustentável.
Ao meu Recife, o meu apelo
ardente por lutar incansavelmente pela justiça social, política e econômica, sem
tréguas e sem medo.
O bem, senhores, no final,
sempre há de vencer.
É o que tinha a
dizer.
Joaquim
Nabuco
Nenhum comentário:
Postar um comentário