Não
sou Santo
Tenho
recebido perguntas sobre o que Dom Hélder Câmara acha do seu processo de
beatificação iniciado pela Igreja Católica. Ultimamente, ele tem se mantido em
silêncio sobre o assunto, mas em pelo menos por três ocasiões já se pronunciou
direta ou indiretamente sobre o assunto. Uma no seu livro "EM RAZÃO DE VIVER"
e outras duas neste espaço do seu blog que reproduzo abaixo.
NÃO
SOU SANTO
Outra
vez mais me deparo com um desejo de homenagem de amigos generosos em torno de
uma candidatura de meu nome para ganhar vez no panteão dos santos católicos.
Ah!
Meu Deus, não sabem o tanto que me falta, não sou santo e como estou distante
da verdadeira santidade.
Não
sou santo porque ainda peco em palavras e ações.
Não
sou santo porque me desvio vez por outra em pensamentos insolentes e sem
propósito.
Não
sou santo porque ainda não sei perdoar como deveria.
Não
sou santo porque tenho muito a fazer deste lado da vida para aparar as minhas queixas
em relação a minha própria consciência.
Quanto
me falta, Pai, para ser um santo. Sei que um dia o serei. Disto não tenho
duvida alguma porque isto está reservado pelo Pai a todos os seus filhos.
Neste
momento, porém, não sou santo.
Encontro,
vez por outra aqui, aqueles a quem a nossa Santa Madre Igreja conferiu-lhes a
santidade. Fico estupefato em saber o quanto eles se envergonham com tal
condecoração.
A
vergonha se manifesta exatamente por saberem de suas limitações e verem na
terra venerados como servos de Deus em perfeição.
Dizem
eles: “Se soubessem o que ainda passamos no dia a dia, sequer cogitariam,
sequer pensariam em santidade”.
Pois
é, amigos, ainda somos tão humanos por aqui, tão próximos da carne e do osso,
que qualquer alusão a nossa possível angelitude nos causaria constrangimento.
Devemos
venerar sim é ao Pai, a Santidade por excelência.
Devemos
lembrar de Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem todos nos subordinamos na terra,
em aprender de verdade, o caminho para a santidade.
Devemos
lembrar de Maria, que a todo instante trabalha para ajudar a todos os seus
filhos espirituais.
Que
o nosso Papa Francisco analise bem este pedido de amigos do coração e conclua
que o velho Helder deseja mesmo é ser lembrado como um servo sincero do Nosso
Senhor Jesus Cristo em tentar implantar, na essência, o seu Evangelho de amor.
Em
paz!
Helder
Camara
1º.07.13
Não
posso ser um Santo
A
santidade é algo que ainda não me compete merecê-la.
Sei
do grande apreço e atenção de todos os meus queridos amigos que tentam
manter-me na lembrança da Igreja e dos homens pelo meu legado na seara do
Cristo, mas confesso, apesar de agradecer os esforços neste sentido, que sou
mesmo bem pequeno nos planos do Senhor.
Minhas
obras, por mais veneráveis que possam parecer, foram fruto de uma devoção à
causa que abracei. Não poderia ser diferente. Despendi minha atenção para com
todos aqueles que me procuraram e, se mais não fiz, foi por absoluta limitação
das forças e de recursos. Tudo, porém, teve uma motivação maior: servir ao Nosso
Senhor Jesus Cristo.
A
obra que participei não é minha, mas do conjunto de irmãos que participaram
dela. Coube a mim, quando muito, o papel de incentivador, coordenador – às
vezes, mas nunca de protagonista.
A
Igreja me ofereceu a condição de servir ao próximo, de estar mais perto da dor
de meus irmãos de caminho, somente isso. O que fiz foi apenas a minha obrigação
como padre, nada mais.
As
curas que porventura possam vir a ser atribuídas a mim, creiam, não passam da
ação da própria fé. Foi a fé que as curou, na boa lembrança das palavras de
Jesus quando atendia àquele que o procurava na ânsia de se livrar de seu
sofrimento físico.
Jesus,
porém, veio para estancar as dores da alma. Estas, sim, são as principais que
devemos colocar toda a nossa atenção e dedicação para curá-la de verdade. E
como é difícil fazer isso... Para começar não se pode pedir a ninguém que lhe
tire do peito a dor da ingratidão, da falta de perdão, da incompreensão. Não se
consegue estirpar do peito a face penosa que possuímos fruto da nossa
invigilância.
Sou
um pecador como tantos outros homens.
Ainda
me pego a pensar coisas que não deveria.
Ainda
sou pego em atitudes que não deveria mais repetir.
Ainda
não sou devidamente solidário com a dor do meu irmão como deveria.
Então,
meus queridos, não posso ser um santo.
Daqui,
pouco posso fazer para reverter a situação que já foi iniciada, mas, se houver
possibilidade, evitem este desatino, em nome de Deus.
Sou
muito grato por tudo, mas não gostaria de ver o meu nome no altar dos santos da
Igreja, pois, ao vislumbrar outros tantos que receberam esta condição, vejo-me
tão menor, muitíssimo menor.
Sou
o jumentinho do senhor Jesus na sua chegada a Jerusalém, não mais do que isso.
Creiam, irmãos, é a mais pura verdade.
Que
Deus abençoe todos nós!
Helder
Câmara
10.05.15
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