18.7.19

O PASSE - ESSE INCOMPREENDIDO!


    - Dr. Inácio - entrando no espírito deste blog, escreveu-me um amigo -, em sua opinião, qual é o melhor passe: o de trivela ou de calcanhar? É claro que, gracejando, ele está se referindo ao passe espírita, que - diga-se de passagem - deve nos merecer todo o respeito. Mas não é sem respeito que eu lhe digo: o melhor passe é aquele que resulta em gol! Por outras palavras, aquele que cumpre com a sua finalidade profilática e terapêutica.
    O mesmo missivista ainda pergunta sobre o que acho dos cursos para médiuns passistas, que são ministrados em algumas casas espíritas - casas nas quais os médiuns são liberados para trabalhar apenas e tão - somente depois de terem frequentado tais cursos.
    Desnecessário dizer que ele me deixa numa situação difícil, conclamando-me a opinar assim, de público, em tão delicada e controvertida questão que, igualmente, tem servido de pretexto para que os espíritas briguem entre si - como se espírita, para brigar, precisasse de pretexto!
    Mas vamos lá. Vocês sabem: "macaco velho não põe a mão em cumbuca", e como não é de meu feitio deixar ninguém sem resposta...
    Recordo-me de que, certa vez, o assunto numa das reuniões no Sanatório, a fim de se definir quem podia ou quem não podia aplicar passes nos doentes, era esse. A discussão seguia acalorada, quando, de súbito, tive uma iluminação - o que, para quem vivia sempre nas trevas, se podia fazer com um palito de fósforo! Algum espírito riscou um palito de fósforo, ou isqueiro, não sei, e... Fiat lux!
    Saindo de fininho, fui até a estante e trouxe de lá o livro "Libertação", de André Luiz, que vocês devem conhecer - presumo. Quando voltei, folheando a obra, escutei dizer um dos presentes: - O médium passista tem que ter um preparo muito grande: ele tem que ter o dom da cura, pois, caso contrário, não estará habilitado e os espíritos sequer haverão de se aproximar dele... - E, como se não bastasse, embora sem intenção, mexeu comigo: - O médium passista não pode fumar, não pode beber café em excesso, não pode comer carne... - Eu sei que a lista de proibição era enorme, e eu estava impedido de transmitir passes até na outra encarnação!
    Quando os ânimos se acalmaram, pedi a palavra. Demorei um pouco para localizar o trecho que desejava no citado livro e, após encontrá-lo, discursei:
    - Eu não sei como é que vocês irão se arranjar... O parecer que trago à baila não é meu: é do Instrutor Gúbio, no capítulo XVII, do livro "Libertação". Qualquer dúvida, eu peço que discutam com ele, e não comigo, que, depois do que ficou dito e do que pairou no ar, não me sinto habilitado a dar passes nem numa coruja!
Silêncio.
    - Está escrito aqui que Gúbio, a fim de socorrer pobre beletrista desencarnado, solicita no ambiente a presença de Leôncio. Vocês sabem quem era Leôncio? Um dos mais ferrenhos obsessores de Margarida - ele era comparsa de Saldanha, que servia às falanges de Gregório. Leôncio, recém-convertido por Gúbio (prestem atenção: recém-convertido!) é instado por ele, ao lhe apontar o doente em crise: - "Opera, aliviando". - "Eu? eu? - falou o convertido, semiaparlemado - merecerei a graça de transmitir alívio?" O Instrutor Gúbio lhe responde: - "Serviço construtivo e atividade destrutiva constituem problema de direção". E acentua: - "Começa hoje, aqui e agora, com o Cristo. Em tua determinação de ajudar, esconde-se a solução do segredo da felicidade própria".
    O hipnotizador de instantes atrás se transfigurara em magnetizador, socorrendo o doente que, sob a sua intervenção direta, consegue repousar.
     Nunca mais pude me esquecer dessa lição, que, confesso, diversas vezes me arrancara lágrimas.
    Então, meu amigo, você não acha que andamos complicando muito as coisas que são demasiadamente simples? Eu não sou contra o estudo, eu não sou favorável é ao certificado de passista! Uma das melhores médiuns de cura que conheci, de nome Antusa Ferreira Martins, era analfabeta, surda e muda!

INÁCIO FERREIRA – Blog Mediunidade na Internet

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