- Dr. Inácio - entrando no espírito deste
blog, escreveu-me um amigo -, em sua opinião, qual é o melhor passe: o de
trivela ou de calcanhar? É claro que, gracejando, ele está se referindo ao
passe espírita, que - diga-se de passagem - deve nos merecer todo o respeito.
Mas não é sem respeito que eu lhe digo: o melhor passe é aquele que resulta em
gol! Por outras palavras, aquele que cumpre com a sua finalidade profilática e
terapêutica.
O mesmo missivista ainda pergunta sobre o
que acho dos cursos para médiuns passistas, que são ministrados em algumas
casas espíritas - casas nas quais os médiuns são liberados para trabalhar
apenas e tão - somente depois de terem frequentado tais cursos.
Desnecessário dizer que ele me deixa numa
situação difícil, conclamando-me a opinar assim, de público, em tão delicada e
controvertida questão que, igualmente, tem servido de pretexto para que os
espíritas briguem entre si - como se espírita, para brigar, precisasse de
pretexto!
Mas vamos lá. Vocês sabem: "macaco velho
não põe a mão em cumbuca", e como não é de meu feitio deixar ninguém sem
resposta...
Recordo-me de que, certa vez, o assunto
numa das reuniões no Sanatório, a fim de se definir quem podia ou quem não
podia aplicar passes nos doentes, era esse. A discussão seguia acalorada,
quando, de súbito, tive uma iluminação - o que, para quem vivia sempre nas
trevas, se podia fazer com um palito de fósforo! Algum espírito riscou um
palito de fósforo, ou isqueiro, não sei, e... Fiat lux!
Saindo de fininho, fui até a estante e
trouxe de lá o livro "Libertação", de André Luiz, que vocês devem
conhecer - presumo. Quando voltei, folheando a obra, escutei dizer um dos
presentes: - O médium passista tem que ter um preparo muito grande: ele tem que
ter o dom da cura, pois, caso contrário, não estará habilitado e os espíritos
sequer haverão de se aproximar dele... - E, como se não bastasse, embora sem
intenção, mexeu comigo: - O médium passista não pode fumar, não pode beber café
em excesso, não pode comer carne... - Eu sei que a lista de proibição era
enorme, e eu estava impedido de transmitir passes até na outra encarnação!
Quando os ânimos se acalmaram, pedi a
palavra. Demorei um pouco para localizar o trecho que desejava no citado livro
e, após encontrá-lo, discursei:
- Eu não sei como é que vocês irão se
arranjar... O parecer que trago à baila não é meu: é do Instrutor Gúbio, no
capítulo XVII, do livro "Libertação". Qualquer dúvida, eu peço que
discutam com ele, e não comigo, que, depois do que ficou dito e do que pairou
no ar, não me sinto habilitado a dar passes nem numa coruja!
Silêncio.
- Está escrito aqui que Gúbio, a fim de
socorrer pobre beletrista desencarnado, solicita no ambiente a presença de
Leôncio. Vocês sabem quem era Leôncio? Um dos mais ferrenhos obsessores de
Margarida - ele era comparsa de Saldanha, que servia às falanges de Gregório.
Leôncio, recém-convertido por Gúbio (prestem atenção: recém-convertido!) é
instado por ele, ao lhe apontar o doente em crise: - "Opera, aliviando".
- "Eu? eu? - falou o convertido, semiaparlemado - merecerei a graça de
transmitir alívio?" O Instrutor Gúbio lhe responde: - "Serviço
construtivo e atividade destrutiva constituem problema de direção". E
acentua: - "Começa hoje, aqui e agora, com o Cristo. Em tua determinação
de ajudar, esconde-se a solução do segredo da felicidade própria".
O hipnotizador de instantes atrás se
transfigurara em magnetizador, socorrendo o doente que, sob a sua intervenção
direta, consegue repousar.
Nunca mais pude me esquecer dessa lição,
que, confesso, diversas vezes me arrancara lágrimas.
Então, meu amigo, você não acha que andamos
complicando muito as coisas que são demasiadamente simples? Eu não sou contra o
estudo, eu não sou favorável é ao certificado de passista! Uma das melhores
médiuns de cura que conheci, de nome Antusa Ferreira Martins, era analfabeta,
surda e muda!
INÁCIO FERREIRA – Blog
Mediunidade na Internet
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