I. UTILIDADE PROVIDENCIAL DA RIQUEZA
O homem tem por missão trabalhar pela
melhoria material do planeta. Cabe-lhe desobstruí-lo, saneá-lo, dispô-lo para
receber um dia toda a população que a sua extensão comporta.
Para realizar esses trabalhos, precisa de
recursos e a necessidade fez que ele criasse a riqueza, como o fez descobrir a
Ciência.
Sem a riqueza, não haveria mais grandes
trabalhos, nem atividade, nem estimulante para a ação, nem pesquisas.
A atividade que esses mesmos trabalhos
impõem ao homem, lhe amplia e desenvolve a inteligência. A inteligência que ele
concentra, primeiro, na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais
tarde a compreender as grandes verdades morais.
A riqueza, pois, não é um mal em si mesma.
Bem utilizada, ela leva a Humanidade não só
ao progresso material e intelectual mas, também, ao progresso moral.
Se a riqueza é causa de muitos males, se
exacerba tanto as más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, não é a ela que
devemos inculpar, mas ao homem, que dela abusa, como de todos os dons de Deus.
Pelo abuso, ele torna pernicioso o que mais útil lhe poderia ser. É a
conseqüência do estado de inferioridade do mundo terrestre.
Se a riqueza somente males houvesse de produzir,
Deus não a teria posto na Terra. Compete ao homem fazê-la produzir bem.
II. DESIGUALDADE DAS RIQUEZAS
Que aconteceria se, acaso, se pudesse
repartir toda a riqueza da Terra com igualdade entre todos os seus habitantes?
- A cada um caberia apenas uma parcela
mínima e insuficiente.
- Não haveria recursos para nenhum dos
grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem-estar da Humanidade.
- Tendo o necessário para sobreviver, o
homem não sentiria o aguilhão da necessidade para o impelir às descobertas e
aos empreendimentos úteis.
Ainda que fosse possível efetuar essa
repartição entre todos os homens, em pouco tempo o equilíbrio estaria desfeito,
pela diversidade dos caracteres e das aptidões.
"Por que não são igualmente ricos
todos os homens?
"Não o são por uma razão muito
simples: por não serem igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para
adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar."
III. O ENFOQUE ESPÍRITA QUANTO À RIQUEZA
A desigualdade das riquezas, como vemos, é
um dos problemas que inutilmente se procurará resolver, desde que se considere
apenas a vida atual.
À luz do Espiritismo, porém, entendemos
que:
- os seres humanos, somos espíritos
imortais reencarnados;
- para progredir, precisamos das
experiências que a vida corpórea enseja;
- uma dessas experiências é aprender a
produzir a riqueza e com ela trabalhar, acertadamente;
- através das reencarnações, vamos tendo
oportunidade para isso.
Entendemos, também, que:
- Deus concentra a riqueza em certos
pontos, para que daí se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as
necessidades;
- e a desloca constantemente, para que não
fique longo tempo improdutiva nas mãos dos que não a estão sabendo utilizar; e
para que cada um, por sua vez, tenha a oportunidade de lidar com ela.
Alguns estão dispondo da riqueza no
momento, outros já a tiveram, outros ainda virão a usufruí-la e mesmo quem já a
teve poderá, se necessário, voltar a possuí-la.
Por enquanto, na Terra a riqueza é para
poucos.
A maioria luta por sobreviver, dispondo
apenas de posses medianas ou mesmo enfrentando a miséria.
Isto se dá não apenas pela má distribuição
da riqueza, feita pelo materialismo e o egoísmo, dominantes no planeta.
É, também, porque não sabemos todos
produzir riquezas ou não queremos nos esforçar para isso.
Se a riqueza na Terra fosse fácil para
todos, em nosso grau de evolução, a maioria não trabalharia, não estudaria,
quereria somente gozar, e isto não traz progresso para o espírito.
Se há os que abusam da riqueza, não será
com decretos ou leis dispendiosas que se remediará o mal. As leis podem, de
momento, mudar o exterior, mas não conseguem mudar o coração; daí vem serem
elas de duração efêmera e quase sempre seguidas de uma reação mais desenfreada.
A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho; os abusos de toda espécie
cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade.
Com a evolução intelecto-moral da Terra, os
extremos da miséria ou da riqueza excessiva serão corrigidos, pela melhor
produção e distribuição dos recursos.
Entretanto, "os pobres sempre os
tereis convosco". (Jesus - Jo. 12:8.) Sempre haverá naTerra pessoas com
menos aptidões e recursos do que outras, por estarem em diferentes graus de
evolução.
Deus concede a uns riqueza e poder e a
outros a pobreza como meios de experimentarmos as diferentes condições que
ensejam.
Tanto a riqueza como a pobreza servem para
nos testar intelectual e moralmente, constituindo, às vezes, situações de
resgate espiritual.
IV. QUAL A PROVA MAIS DIFÍCIL: A RIQUEZA OU
A POBREZA?
Ambas são difíceis.
Ante a miséria, podemos ficar: desanimados
com as dificuldades; revoltados contra tudo e contra todos; invejosos de quem
tem o que não temos; tentando até conseguir pelo roubo, pelo crime, o que
precisamos ou queremos; reclamando contra Deus por não compreendermos seu
divino programa para a nossa evolução.
Quanto à riqueza, constitui uma prova muito
arriscada, bastante perigosa para o espírito, porque é o supremo excitante do
orgulho, do egoísmo e da vida sensual.
Geralmente, quem é rico neste mundo se
torna orgulhoso, avarento, indiferente à necessidade ou sofrimento do próximo e
se desvia moralmente nos abusos.
Sim, a riqueza é a origem de muitos males
na Terra. Por causa dela, muitos prejudicaram sua felicidade na vida futura.
Jesus aludiu a isso, na passagem do moço rico: "Como é difícil entrar um
rico no reino dos céus!" (...) "É mais fácil passar um camelo pelo
fundo de uma agulha do que um rico se salvar". (Mateus, 19 vs. 23/24.)
Então, a riqueza impede a evolução do
espírito?
Se assim fosse, Deus não a teria posto nas
mãos de alguns de seus filhos, pois seria prejudicá-los.
Querer abolir a riqueza, para não errarmos
com ela, seria condenar também ao trabalho que a granjeia, o que estaria em
contradição com a lei de progresso.
Jesus disse que é difícil um rico se salvar
mas não disse ser impossível; porque a riqueza também pode ensejar que o seu
possuidor produza muita coisa útil e boa, para si e para o seu próximo,
tornando-se um meio de salvação espiritual.
Tudo vai depender, portanto, do uso que
fizermos da riqueza, de como nos comportarmos diante da pobreza.
V.
COMO NOS COMPORTAMOS NESSAS PROVAS?
Na pobreza:
- cuidar do pouco que se possui e usá-lo
acertadamente.
- procurar desenvolver e aperfeiçoar a
própria capacidade de produzir valores;
- cultivar a resignação, moderação,
simplicidade, humildade, honestidade, enfim todas as virtudes que a prova da
pobreza mais estimula, quando bem entendida;
- praticar a caridade ao seu alcance.
Materialmente, ajudando com o pouco que
tiver aos que são mais necessitados ainda. Espiritualmente, com o seu amparo
moral, afeto sincero, lealdade, a boa palavra e o bom exemplo.
- não invejar os ricos nem pensar mal
deles. Lembrar que estão sendo duramente testados e merecem compaixão e ajuda
(se estiverem errando) e apoio e respeito (se estiverem acertando).
Na riqueza:
- lembrar que Deus é o verdadeiro Senhor de
todos os bens da vida e apenas somos os "mordomos", usufruindo e
administrando temporariamente, devendo prestar contas de tudo, ao final da
existência;
- tomar cuidado para não cair no orgulho,
na inércia, no egoísmo, ou nos excessos do gozo material;
- como dispõe de mais tempo e recursos do
que o pobre, aproveitar para estudar, e concorrer para o engrandecimento tanto
intelectual como moral e material dos seus semelhantes;
- procurar prestar todos os benefícios
possíveis com os bens que recebeu, sem desperdiçá-los nem enterrá-los num
cofre, onde ficam sem utilidade para ninguém.
Enfim, procurar desempenhar o melhor
possível seu papel de intermediário da riqueza, sem se deixar dominar por ela
espiritualmente, de modo a merecer de Deus outras e maiores atribuições,
futuramente.
VI. QUAL O MELHOR EMPREGO QUE SE PODE DAR À
RIQUEZA?
A solução do problema está nestas palavras:
"Amai-vos uns aos outros". Aquele que se acha animado do amor ao
próximo tem aí traçada a sua linha de proceder. A caridade deve ser cheia de
amor, aquela que procura a desgraça e a ergue, sem, no entanto, a humilhar.
Com amor e sabedoria sempre se encontrará o
melhor emprego para a riqueza.
Livros consultados:
De Allan Kardec:
- "O Evangelho segundo o
Espiritismo", cap. XVI;
- "O Livro dos Espíritos", perguntas
808/816.
Livro: Iniciação ao
Espiritismo - Therezinha Oliveira
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