28.7.17

DESIGUALDADE DAS RIQUEZAS

    I. UTILIDADE PROVIDENCIAL DA RIQUEZA
    O homem tem por missão trabalhar pela melhoria material do planeta. Cabe-lhe desobstruí-lo, saneá-lo, dispô-lo para receber um dia toda a população que a sua extensão comporta.
    Para realizar esses trabalhos, precisa de recursos e a necessidade fez que ele criasse a riqueza, como o fez descobrir a Ciência.
    Sem a riqueza, não haveria mais grandes trabalhos, nem atividade, nem estimulante para a ação, nem pesquisas.
    A atividade que esses mesmos trabalhos impõem ao homem, lhe amplia e desenvolve a inteligência. A inteligência que ele concentra, primeiro, na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades morais.
    A riqueza, pois, não é um mal em si mesma.
    Bem utilizada, ela leva a Humanidade não só ao progresso material e intelectual mas, também, ao progresso moral.
    Se a riqueza é causa de muitos males, se exacerba tanto as más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, não é a ela que devemos inculpar, mas ao homem, que dela abusa, como de todos os dons de Deus. Pelo abuso, ele torna pernicioso o que mais útil lhe poderia ser. É a conseqüência do estado de inferioridade do mundo terrestre.
    Se a riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a teria posto na Terra. Compete ao homem fazê-la produzir bem.
    II. DESIGUALDADE DAS RIQUEZAS
    Que aconteceria se, acaso, se pudesse repartir toda a riqueza da Terra com igualdade entre todos os seus habitantes?
    - A cada um caberia apenas uma parcela mínima e insuficiente.
    - Não haveria recursos para nenhum dos grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem-estar da Humanidade.
    - Tendo o necessário para sobreviver, o homem não sentiria o aguilhão da necessidade para o impelir às descobertas e aos empreendimentos úteis.
    Ainda que fosse possível efetuar essa repartição entre todos os homens, em pouco tempo o equilíbrio estaria desfeito, pela diversidade dos caracteres e das aptidões.
    "Por que não são igualmente ricos todos os homens?
    "Não o são por uma razão muito simples: por não serem igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar."
    III. O ENFOQUE ESPÍRITA QUANTO À RIQUEZA
    A desigualdade das riquezas, como vemos, é um dos problemas que inutilmente se procurará resolver, desde que se considere apenas a vida atual.
    À luz do Espiritismo, porém, entendemos que:
    - os seres humanos, somos espíritos imortais reencarnados;
    - para progredir, precisamos das experiências que a vida corpórea enseja;
    - uma dessas experiências é aprender a produzir a riqueza e com ela trabalhar, acertadamente;
    - através das reencarnações, vamos tendo oportunidade para isso.
    Entendemos, também, que:
    - Deus concentra a riqueza em certos pontos, para que daí se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as necessidades;
    - e a desloca constantemente, para que não fique longo tempo improdutiva nas mãos dos que não a estão sabendo utilizar; e para que cada um, por sua vez, tenha a oportunidade de lidar com ela.
    Alguns estão dispondo da riqueza no momento, outros já a tiveram, outros ainda virão a usufruí-la e mesmo quem já a teve poderá, se necessário, voltar a possuí-la.
    Por enquanto, na Terra a riqueza é para poucos.
    A maioria luta por sobreviver, dispondo apenas de posses medianas ou mesmo enfrentando a miséria.
    Isto se dá não apenas pela má distribuição da riqueza, feita pelo materialismo e o egoísmo, dominantes no planeta.
    É, também, porque não sabemos todos produzir riquezas ou não queremos nos esforçar para isso.
    Se a riqueza na Terra fosse fácil para todos, em nosso grau de evolução, a maioria não trabalharia, não estudaria, quereria somente gozar, e isto não traz progresso para o espírito.
    Se há os que abusam da riqueza, não será com decretos ou leis dispendiosas que se remediará o mal. As leis podem, de momento, mudar o exterior, mas não conseguem mudar o coração; daí vem serem elas de duração efêmera e quase sempre seguidas de uma reação mais desenfreada. A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho; os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade.
    Com a evolução intelecto-moral da Terra, os extremos da miséria ou da riqueza excessiva serão corrigidos, pela melhor produção e distribuição dos recursos.
    Entretanto, "os pobres sempre os tereis convosco". (Jesus - Jo. 12:8.) Sempre haverá naTerra pessoas com menos aptidões e recursos do que outras, por estarem em diferentes graus de evolução.
    Deus concede a uns riqueza e poder e a outros a pobreza como meios de experimentarmos as diferentes condições que ensejam.
    Tanto a riqueza como a pobreza servem para nos testar intelectual e moralmente, constituindo, às vezes, situações de resgate espiritual.
    IV. QUAL A PROVA MAIS DIFÍCIL: A RIQUEZA OU A POBREZA?
    Ambas são difíceis.
    Ante a miséria, podemos ficar: desanimados com as dificuldades; revoltados contra tudo e contra todos; invejosos de quem tem o que não temos; tentando até conseguir pelo roubo, pelo crime, o que precisamos ou queremos; reclamando contra Deus por não compreendermos seu divino programa para a nossa evolução.
    Quanto à riqueza, constitui uma prova muito arriscada, bastante perigosa para o espírito, porque é o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual.
    Geralmente, quem é rico neste mundo se torna orgulhoso, avarento, indiferente à necessidade ou sofrimento do próximo e se desvia moralmente nos abusos.
    Sim, a riqueza é a origem de muitos males na Terra. Por causa dela, muitos prejudicaram sua felicidade na vida futura. Jesus aludiu a isso, na passagem do moço rico: "Como é difícil entrar um rico no reino dos céus!" (...) "É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico se salvar". (Mateus, 19 vs. 23/24.)
    Então, a riqueza impede a evolução do espírito?
    Se assim fosse, Deus não a teria posto nas mãos de alguns de seus filhos, pois seria prejudicá-los.
    Querer abolir a riqueza, para não errarmos com ela, seria condenar também ao trabalho que a granjeia, o que estaria em contradição com a lei de progresso.
    Jesus disse que é difícil um rico se salvar mas não disse ser impossível; porque a riqueza também pode ensejar que o seu possuidor produza muita coisa útil e boa, para si e para o seu próximo, tornando-se um meio de salvação espiritual.
    Tudo vai depender, portanto, do uso que fizermos da riqueza, de como nos comportarmos diante da pobreza.
    V. COMO NOS COMPORTAMOS NESSAS PROVAS?
    Na pobreza:
    - cuidar do pouco que se possui e usá-lo acertadamente.
    - procurar desenvolver e aperfeiçoar a própria capacidade de produzir valores;
    - cultivar a resignação, moderação, simplicidade, humildade, honestidade, enfim todas as virtudes que a prova da pobreza mais estimula, quando bem entendida;
    - praticar a caridade ao seu alcance.
    Materialmente, ajudando com o pouco que tiver aos que são mais necessitados ainda. Espiritualmente, com o seu amparo moral, afeto sincero, lealdade, a boa palavra e o bom exemplo.
    - não invejar os ricos nem pensar mal deles. Lembrar que estão sendo duramente testados e merecem compaixão e ajuda (se estiverem errando) e apoio e respeito (se estiverem acertando).
    Na riqueza:
    - lembrar que Deus é o verdadeiro Senhor de todos os bens da vida e apenas somos os "mordomos", usufruindo e administrando temporariamente, devendo prestar contas de tudo, ao final da existência;
    - tomar cuidado para não cair no orgulho, na inércia, no egoísmo, ou nos excessos do gozo material;
    - como dispõe de mais tempo e recursos do que o pobre, aproveitar para estudar, e concorrer para o engrandecimento tanto intelectual como moral e material dos seus semelhantes;
    - procurar prestar todos os benefícios possíveis com os bens que recebeu, sem desperdiçá-los nem enterrá-los num cofre, onde ficam sem utilidade para ninguém.
    Enfim, procurar desempenhar o melhor possível seu papel de intermediário da riqueza, sem se deixar dominar por ela espiritualmente, de modo a merecer de Deus outras e maiores atribuições, futuramente.
    VI. QUAL O MELHOR EMPREGO QUE SE PODE DAR À RIQUEZA?
    A solução do problema está nestas palavras: "Amai-vos uns aos outros". Aquele que se acha animado do amor ao próximo tem aí traçada a sua linha de proceder. A caridade deve ser cheia de amor, aquela que procura a desgraça e a ergue, sem, no entanto, a humilhar.
    Com amor e sabedoria sempre se encontrará o melhor emprego para a riqueza.

 Livros consultados:
 De Allan Kardec:
 - "O Evangelho segundo o Espiritismo", cap. XVI;
 - "O Livro dos Espíritos", perguntas 808/816.


Livro: Iniciação ao Espiritismo - Therezinha Oliveira

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