Questão 286 do Livro dos Espíritos
A alma, quando desencarna, tem
muitas surpresas no além, porque nem sempre, logo ao seu desenlace, pode
encontrar seus parentes e amigos que a precederam nessa viagem comum a todos os
seres.
Quase todos os Espíritos que passam para o lado de cá perdem os
sentidos no momento do desprendimento do fardo, já gasto e cansado, e quando
levados para casas de recuperação, ali permanecem até sentir a si mesmos como
realidade, acostumando-se à vida que há tempos deixaram de viver.
Há
Espíritos que imediatamente ficam conscientes do seu estado espiritual,
abraçando aos que o cercam com emoções que lhes restauram o equilíbrio. Muito
poucos no mundo não perdem a consciência no momento da chamada morte. Outros,
não obstante, voltam da carne sem perceber o transe em que se encontram. A
variação nesse sentido é de zero ao infinito.
Tudo, como já dissemos, é
relativo, de acordo com a evolução da criatura. Os Espíritos muito ligados às
paixões terrenas e aos bens materiais, em cujo mundo interno prolifera a
maldade, o ciúme e ódio, ficam apegados aos seus despojos por tempo
indeterminado. Desse tipo, encontramos multidão, por lhes faltar a fé, o amor e
a caridade.
A bondade de Deus é muito maior do que se pensa. Para o auxílio
aos nossos companheiros que morrem e continuam mortos, existem mutirões e mais
mutirões de Espíritos adestrados nas colônias espirituais, encarregados de dar
assistência compatível com os Espíritos, nos quais a inconsciência da vida
domina os sentimentos, trabalhando sempre por ordem de Deus, usando os canais do
Cristo.
Tratando-se do Espírito mediano, do servidor comum, ele precisa de um
tempo para o refazimento da grande viagem, e às vezes é levado para residência
particular dos seus próprios parentes que o precederam, e que plantaram com o
trabalho e transformações internas o que têm para dar aos que igualmente
merecem. Por isso os que já sabem dessas verdades não devem ficar na omissão
sobre o que já compreendem dos deveres espirituais. Os que puderem fazer a mais,
no campo das melhorias do coração, não devem deixar para amanhã. O hoje é o
melhor momento de aproveitamento das oportunidades.
O Espírito, quando se
encontra consciente da verdade, que tem confiança na vida que continua no fulgor
das luzes eternas, que lembra e aceita o maior fenômeno de todos os tempos, que
afirma que a vida prossegue depois do túmulo - a Ressurreição de Nosso Senhor
Jesus Cristo - sente uma paz interna em todas as provações, sente um clima de
harmonia em todos os transes por que passa, e mesmo na hora suprema de deixar um
dos corpos que Deus lhe deu, o seu amor a tudo e a todos lhe traz uma paz
imperturbável no coração. E é a esperança viva de regressar à pátria verdadeira
e definitiva daquele que venceu a si mesmo, que nos mostra a sua evolução
espiritual.
Recomendamos aos irmãos em crença que, se já leram as obras
básicas do Espiritismo, que tornem a ler, porque nas entrelinhas, encontrarão
tudo o que buscam, na ansiedade de novas revelações.
Se o homem quer
encontrar seus parentes, amigos e companheiros que já retornaram à pátria
espiritual em boa situação íntima, deve fazer por merecer, preparando-se para a
viagem, porque o viajante inteligente sabe arrumar as malas com tudo o de que
precisa para as suas andanças. Se quer, ao retornar à erraticidade, ajudar logo
aos mais caros que se encontram nas sombras, que comece também a se preparar,
para que não tenha grandes surpresas. E que Jesus abençoe sempre seus esforços
para melhorar-se.
Livro: Filosofia Espírita - João Nunes Maia -
Miramez
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