Observações a Propósito dos Desenhos de Júpiter
Estamos inserindo neste
número da Revista, conforme havíamos anunciado, o desenho 51 de uma habitação de
Júpiter, executado e gravado pelo Sr. Victorien Sardou como médium, ao qual
acrescentamos o artigo descritivo que teve a gentileza de escrever a respeito.
Seja qual for, sobre a autenticidade dessas descrições, a opinião dos que nos
poderiam acusar de nos ocuparmos do que acontece nos mundos desconhecidos,
quando há tanto o que fazer na Terra, rogamos aos nossos leitores não perderem
de vista que o nosso objetivo, como o indica o subtítulo da revista é, antes de
tudo, o estudo dos fenômenos, nada devendo, portanto, ser negligenciado. Ora,
como fato de manifestação, esses desenhos são, incontestavelmente, os mais
notáveis, se considerarmos que o autor não sabe desenhar nem gravar, e que o
desenho que oferecemos foi por ele gravado em água forte, sem modelo nem ensaio
prévio, em nove horas. Supondo que esse desenho seja uma fantasia do Espírito
que o traçou, o simples fato de sua execução não seria um fenômeno menos digno
de atenção e, a esse título, cabe à nossa coletânea torná-lo conhecido, bem como
a descrição que dele nos deram os Espíritos, não para satisfazer à vã
curiosidade das pessoas fúteis, mas como objeto de estudo para quantos desejarem
aprofundar-se em todos os mistérios da ciência espírita. Incorreria em erro quem
acreditasse que fazemos da revelação de mundos desconhecidos o objeto capital da
doutrina; para nós isso não constituiria senão um acessório, que julgamos útil
como complemento de estudo. Para nós, o essencial será sempre o ensinamento
moral, de sorte que procuramos, nas comunicações do além-túmulo, sobretudo
aquilo que possa esclarecer a Humanidade e conduzi-la ao bem, único meio de lhe
assegurar a felicidade neste e no outro mundo. Não se poderia dizer o mesmo dos
astrônomos, que igualmente sondam os espaços, e perguntar qual seria a
utilidade, para o bem da Humanidade, saberem calcular com precisão rigorosa a
parábola de um astro invisível? Nem todas as ciências têm um interesse
eminentemente prático; entretanto, a ninguém ocorre tratá-las com desdém, porque
tudo que amplia o círculo das idéias contribui para o progresso. Dá-se o mesmo
com as comunicações espíritas, ainda que escapem ao círculo acanhado da nossa
personalidade.
Revista Espírita - tomo I - Allan Kardec - agosto
1858
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