20.11.22

Não Sou Santo - 5

Quando tive a oportunidade, pela primeira vez, de me expressar mediunicamente, sabia da importância que representava esta palavra santa para todos que vierem a lê-la.
Não seria apenas mais um escrito, mas a consideração inequívoca da nossa imortalidade tão prometida por Jesus.
Sabia, de antemão, que muitos me encorajariam, outros simplesmente me desprezariam. “Como, Hélder falar depois de morto, isto é uma mentira!”
De uma maneira ou de outra continuei meu ofício aqui nas terras do além e pude me expressar de diversas maneiras por diversas pessoas e, em particular com mais constância, através do Carlos.
Sabia, também, que meus escritos seriam desconsiderados. É duro quando a nossa fé é realmente posta à prova. Tudo bem, pensei, faz parte do jogo divino na terra.
Agora, uma vez mais, quando se aventa a minha titulação para a obtenção da santidade no processo que se desenvolve no Vaticano quero dizer – e insistir – não sou santo!
E por que este meu apelo, apesar de saber que não serei sequer ouvido? Porque é melhor a crença no mistério do que a constatação da verdade nua e crua como ela é.
Querem me endeusar? Não! Desejam, tão-somente, colocar-me, como fizeram com tantos outros, na categoria daqueles que se podem venerar como um real representante do Cristo e de Deus na terra.
Ainda sou um espírito imperfeito, tenho muito a melhorar na minha relação espiritual com Deus e com meus irmãos de caminho. Sei bem onde bate forte as minhas mazelas morais e as trabalho continuamente para ver se consigo algum progresso.
Colocar-me como um santo, dentro das considerações que faço, é demais para este cearense e cidadão do mundo. É demais!
Conheço outras almas por aqui – que igualmente rejeitam tal devoção – que possuem bem mais qualificativos do que este padre rebelde e inquieto.
Estou um espírito imperfeito e tenho plena consciência disso, mas sei o que representa este exemplo para a Igreja que tanto militei e milito.
Sei do contexto que ele está inserido.
Sei da referência forte que isto impacta no coração das gentes.
Sei, muito bem, o significado grandioso desta titulação.
Mas a homenagem maior que poderíamos fazer seria a Jesus de Nazaré – e ele mesmo na sua real grandeza espiritual – rejeita este tipo de homenagem e porque eu, um pequeno padre de uma paroquia distante, teria que achar-me grato com esta titulação?
Sei e sou grato a todos pelo carinho, pelo cuidado, pelo apreço, mas definitivamente tenho que remeter a esta conclusão: não sou santo!
Acompanharei os passos deste processo no afã de vê-lo esquecido para que não tenham mais que pedir-me algo que não tenho a competência de fazê-lo.
Agora, mais que antes, peço a Deus que ilumine a todos que lerem este texto para procurarem, sim, a sua santidade particular, a única que engradecerá os vossos espíritos.
Obter a santidade diária no exercício irrestrito do perdão.
Almejar a santidade em compreender a intemperança de nosso irmão de caminho.
Conquistar a santidade, meditando sempre pelos seus atos insanos e trabalhando para não mais repeti-los.
Acessar a santidade nos pequenos atos de amor ao próximo à medida que tenhamos aprendido a amar a nós mesmos.
Que todos busquem esta santidade no cotidiano de vossas vidas e junto com o Pai um dia possa estar.

Helder Camara - Blog Novas Utopias

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