2.12.21

DESENVOLVIMENTO

Porque representava a cessação do movimento externo com a consequente degenerescência da forma, a morte mereceu das civilizações do passado homenagens e tributos consideráveis. 
Herdando do homem primitivo o culto de respeito, envolto em mistérios,  e complexos rituais com os quais desejavam reverenciar na morte a força disjuntora da vida, essas civilizações, mediante enganosos conciliábulos pelos quais a personificavam como deidade facilmente subornável, ou mensageira da desgraça que se podia adiar, pensavam consegui-Io por meio desse comércio nefando e irracional. 
Milenarmente misteriosa tem prosseguido no seu cortejo, semeando pavor e desconcerto emocional, reinando soberana. 
Aplacando-lhe a ira e tentando evitar-lhe a visita inexorável celebraram-se nos diversos fastos do pensamento histórico solenidades soberbas, ora trágicas e deprimentes ou exaltadas a ponto de espicaçar o desinteresse pela vida, produzindo suicídios religiosos, em procissões pagãs, nas quais fanáticos cultivadores de aberrações veneravam seus deuses, atirando-se sob rodas denteadas, abismos profundos, fogueiras destruidoras ante o paroxismo da excitação de mentes primárias em exacerbação dos instintos... 
Sob outro aspecto, porque se transformasse no umbral para o acesso ao Desconhecido, foi encarada como misterioso país de cujas fronteiras ninguém voltava, envolvendo-se-Ihe o culto em absurdas fantasias. 
O homem do período glaciário de Günz, agindo intuitivamente sob a inspiração dos antepassados, colocava o crânio dos mortos à entrada das cavernas com o objetivo de impedir a incursão naqueles recintos dos inimigos desencarnados ...
Os egípcios, conceituando o retorno ao corpo sob a paixão do imediato, transformaram os sepulcros em palácios, colocando tesouros e alimentos para os viandantes do vale das sombras não padecerem necessidades quando da volta... 
Mausoléus e jazigos imponentes foram erguidos através dos tempos para perpetuarem a memória e a vida dos extintos, gerando quase sempre longos processos de apego e dor aos transitórios recursos materiais por parte dos que desencarnaram. 
A Arte e a Literatura, a Poesia e a Religião contribuíram exorbitantemente para tornarem a morte a megera desventurada, portadora da infelicidade e do horror. 
Com o desenvolvimento das conquistas modernas, em cujo período as luzes da fé já bruxuleantes quase se apagaram, a morte, por significar para os apaniguados do niilismo o fim de tudo, passou a constituir móvel de ridículo, senão a aspiração maior dos frívolos e inconsequentes cultivadores da cômoda filosofia do nada. Assim encontrariam a porta para a deserção, logo fossem colhidos pela responsabilidade ou surpreendidos pela dor ...
ESPIRITISMO E MORTE
Jesus, indubitavelmente, o Senhor do Mundo e o Herói da Sepultura Vazia, foi o mais nobre pregoeiro da vida com excelente realidade a respeito da morte. 
Circunscrevendo todos os seus ensinos acerca da vida, e da Vida abundante, a sua mensagem é um hino perene à glória do existir, seja num ou noutro setor de atividade em que se manifestam as expressões eternas do espírito: na carne e além dela. 
Em todo o seu ministério de amor e trabalho, sua palavra é luz e vida, considerando mortos somente aqueles que perderam a visão e obstruíram as percepções da realidade espiritual. 
Depois de Jesus coube ao Espiritismo a inapreciável tarefa de interpretar a morte, libertando-a dos infelizes conceitos de vário matiz que foram tecidos multimilenarmente na plenitude da ignorância sobre a sua legítima feição. 
Atestando a continuidade da vida após o túmulo, graças ao convívio mantido entre os homens e os Imortais, o Espiritismo libertou a vida do guante da vândala destruidora, exaltando a perenidade do existir em todas as latitudes do Cosmo, na incessante progressão para o Infinito. 
Vive, portanto, como se estivesse a cada momento preparando-te para renascer além e após o túmulo. 
A vida que se leva é a vida que cada um aqui leva enquanto na indumentária carnal. 
Transpassa-se o pórtico de lama e cinza em que se transformam os implementos materiais com as próprias conquistas morais, construindo as asas de anjo com que se pode ascender à Verdade ou as amarras grosseiras para com a retaguarda, mediante as quais se imantam aos engodos fisiológicos.
ESTUDO E MEDITAÇÃO 
Por ser exclusivamente material, o corpo sofre as vicissitudes da matéria. Depois de funcionar por algum tempo, ele se desorganiza e decompõe. O princípio vital, não mais encontrando elemento para sua atividade, se extingue e o corpo morre. O Espírito, para quem, este, carente de vida, se torna inútil, deixa-o, como se deixa uma casa em ruínas, ou uma roupa imprestável. 
(A Gênese, Allan Kardec. Cap. XI, item 13.) 
A vida espiritual é, com efeito, a verdadeira vida, é a vida normal do Espírito, sendo-lhe transitória e passageira a existência terrestre, espécie de morte, se comparada ao esplendor e à atividade da outra. O corpo não passa de simples vestimenta grosseira que temporariamente cobre o Espírito, verdadeiro grilhão que o prende à gleba terrena, do qual se sente ele feliz em libertar-se. O respeito que aos mortos se consagra não é a matéria que o inspira; é, pela lembrança, o Espírito ausente quem o infunde. 
(O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec. Cap. XXIII, item 8.)
Livro: Estudos Espíritas - DIvaldo P. Franco - Joanna de Ângelis

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