23.12.20

Revelação Espírita

    Um navio carregado de emigrantes parte para um destino longínquo; leva homens de todas as condições, parentes e amigos daqueles que ficam.Informa-se que esse navio naufragou; nem um traço resta dele, nenhuma novidade chega sobre sua sorte; pensa-se que todos os viajantes pereceram, e o luto está em todas as famílias. No entanto, toda tripulação, sem dela excetuar um único homem, abordou uma terra desconhecida, terra abundante e fértil, onde todos vivem felizes, sob um céu clemente; mas ignoram. Ora, eis um dia em que um outro navio aborda essa terra; ali encontra todos os náufragos sãos e salvos. A notícia feliz se espalha com a rapidez do relâmpago; cada um se diz: "Nossos amigos não estão, pois,´perdidos! "E disto rendem graças a Deus. Não podem se ver, mas se correspondem; trocam testemunhos de afeição, e eis que a alegria sucede à tristeza.
Tal a imagem da vida terrestre e da vida de além-túmulo, antes e depois da revelação moderna; esta, semelhante ao segundo navio, nos leva a boa nova da sobrevivência daqueles que nos são caros, e a certeza de se juntar a eles um dia; a dúvida sobre seu sorte e sobre a nossa não existe mais; o desencorajamento se apaga diante da esperança.
    Mas outros resultados vêm fecundar esta revelação. Deus, julgando a Humanidade madura para penetrar o mistério  de seu destino e completar com sangue frio novas maravilhas, permitiu que o véu que separava o mundo visível do mundo invisível fosse levantado. O fato das manifestações nada tem de extra-humano; é a Humanidade espiritual que vem conversar com a humanidade corpórea e dizer-lhe:
    "Nos existimos, portanto, o nada não existe; eis o que somos, e eis o que sereis; o futuro está para vós como está para nós. Caminháveis nas trevas, viemos clarear vosso caminho e abrir a senda; íeis ao acaso, nós vos mostramos o objetivo. A vida terrestre era tudo para vós, porque não víeis nada além; viemos vos dizer, em vos mostrando a vida espiritual: A vida terrestre nada é. Vossa visão se detém no túmulo, nós vos mostramos além um horizonte esplêndido. Não sabíeis porque sofreis sobre a Terra; agora;, no sofrimento, vedes a justiça de deus; o bem era sem frutos aparentes para o futuro, terá doravante um objetivo e será uma necessidade; a fraternidade não era senão uma bela teoria, agora se assenta sobre uma lei da Natureza. Sob o império da crença de que tudo acaba com a vida, a imensidade é vazia, o egoísmo reina soberano entre vós, e vossa palavra de ordem é esta: "Cada um por si"; com a certeza do futuro os espaços infinitos se povoam ao infinito, o vazio e a solidão não estão em nenhuma parte, a solidariedade liga todos os seres para além e para aquém do túmulo; é o reino da caridade, com esta divisa: "Cada um por todos e todos por um." Enfim, no fim da vida dizíeis um eterno adeus àqueles que vos são caros, agora lhes dizeis: "Até breve!"

Livro: Revista Espírita - abril 1866 - Allan Kardec 

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