15.12.20

Busca

Por trás dos véus somente sombras. O que eu poderia esperar além disso? Foi apenas isso que gerei.
As terras do lado de cá refletem o que você pensa de si mesmo. Nada se altera ao morrer. Nem mesmo o azedume que nos persegue.
Este fato insolente se reflete também nas coisas boas que cultivamos ou que pensamos cultivar. Somente com o tempo entendemos que as rosas não são feitas somente de beleza e perfume, os espinhos nos lembram que a vida é dual por natureza.
As peles que vestimos são transformadas com o tempo. Tudo fica à espera de nós mesmos, de nossa insolência ou da nossa presciência. Da nossa ação ou inação. Tudo se envolve em pensamentos que decorrem daquilo que queremos ou tentamos ser.
Quando a vida cessa no corpo e encaramos a realidade como ela é, temos duas faces: a verdadeira, que nos impõe mudança, ou a mentirosa, que tenta nos proteger de nós mesmos.
Tudo se insere nesta busca do eu constante. Saber quem sou nesta esfera do existir pode ser medonho, mas é uma conquista contínua, renovada pela esperança de um dia finalmente se encontrar.
Aquilo que parece não é e o que menos se assemelhava à verdade nos aparece como insofismável.
Imaginarmos ser os maiorais na terra é puro engano. Quando se chega às raias da realidade do espírito se vê o quanto de ilusão se alimenta os homens.
A tormenta de viver somente prossegue. Ela, a vida, cobra insistentemente pela busca da razão das coisas. Ficar parada ao vento, beber uma cerveja, esquecer as mágoas no alívio de um colo qualquer, pode ser uma vaga esperança de que há mais do que simplesmente ficar por aí.
A busca contínua de sentido faz alguém crescer, tornar-se gente, gente grande, gente graúda.
Os que pensam que a vida vai sair por menos quando morrer vai cair do cavalo. Tombo dos maiores - pode crer.
Quem leva a vida a fulanizar as coisas embriaga-se de nada. Na verdade, foge de si mesmo, entra na loucura do não existir e vive somente a aterrorizar a vida do outro.
Eu busco paz do lado de cá. Uma paz diferente do que tive aí.
Meu cigarro não vale mais.
Minha bebida não tem sentido.
Minhas letras é que me fazem viva.
Traços abertos aqui me dão um fôlego a mais, embora possam ser fugidios.
Nasço, renasço e volto a morrer para renascer de novo a cada momento. E é isto hoje que me faz feliz.
Penso!
Clarice Lispector - Blog de Carlos Pereira

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