7.6.20

Novas Armas

Outrora, fui firme em defender meu povo diante das injustiças que os brancos impunham contra nós. Na minha mente estava muito claro que não havia condições do embate pacífico, o que eles entenderiam muito bem era o uso das mesmas armas que jogavam contra nós.
Fui impiedoso em defender a luta armada, conflito exacerbado, a morte de nossos inimigos, o caos, para que pudéssemos ser respeitados como gente.
Pois bem, isso tudo e muito mais foi a minha vida na terra. Fui um negro combativo e lutei com todas as armas que podia.
Não conhecia o amor. Simplesmente o ignorava. Amor era coisa dos fracos, pensava eu.
Como é que uma pessoa vai se desarmar com um discurso vazio de amor?
Portanto, coloquei isso tudo de lado e conclamei os meus irmãos de "cor" a tirar dos brancos tudo aquilo que representava o nosso direito legítimo.
Errei.
Hoje, confesso que errei.
Estava cego, ou pelo menos não conseguia enxergar a nossa luta com outras lentes que não fossem as da violência e do enfrentamento.
Nestas terras em que estou há algum tempo, não parei de lutar pela causa a qual dediquei a minha vida terrena. Luto, todos os dias, por uma nação americana mais justa e por um planeta mais igual.
Esta luta, porém, ganhou novos enfoques e novas posturas.
Não sou o mais o irreverente e briguento de antes. Hoje, quem me visse, me acharia um estranho, alguém deformado, nem acreditaria que sou quem sou.
Não me tornei um santo, longe disso, mas minhas armas agora são outras.
As maluquices de ontem deram lugar a uma serenidade, embora os propósitos continuem exatamente os mesmos.
Sou um ativista da paz e devo isso a Martin Luther King e ao querido Mahatma Gandhi.
Ambos vieram até a mim e mostraram que o ódio alimenta mais ódio e nunca se chega ao destino que se deseja. Que é somente o amor que pode tocar no coração do ser humano e torná-lo alguém verdadeiramente melhor. Que somente pelo caminho da paz podemos desarmar de fato os empoderados de ódio.
Esta é a minha vida, desde então. Estas passaram a ser as minhas armas, a partir daquele instante.
Martin continua mais ativo que nunca. Mohandas não o vi mais. Como é impressionante a autoridade moral daquele homem. Irrepreensível. Exala amor e paz a sua presença. Entendi neste convívio o que Jesus ensinou na eloquente definição que somente lobos se juntam a outros lobos.
Agora, vendo o infortúnio de George Floyd, vejo o quanto ainda estamos atrasados, como humanidade, para superar a desonra do preconceito e do racismo. No entanto, em oposição, vejo quantos se juntam para dizer que não há mais condição de se impor uma vontade contra alguém e desmerecê-lo simplesmente porque sua pele é negra.
Quem está sendo colocado na ribalta pelo seu comportamento voraz, Floyd ou os demais policiais?
Que luta está sendo lembrada para que despertem outros tantos a se juntar a ela nos Estados Unidos e no mundo?
Que resultado teremos diante dessa situação que colocou na parede os arrogantes de toda espécie?
O mal se preocupa apenas com os seus, porque não consegue olhar para uma pessoa amorosa e não se converter diante dela.
O mundo se transforma, este é o fato.
Minha nação não será a mesma de agora em diante. Nova fé foi levantada no seio de nosso povo e ela reclama por mudanças na legislação e no comportamento social e das autoridades.
A luta se fortalece na vergonha de nossos opositores que não encontram mais substância para alimentar seus interesses menores.
É o amor que vai vencer esta luta.
É a paz que vai prevalecer diante do embate contra o ódio de alguns.
E nisso a nossa luta avança e se torna mais forte e resistente.
Braço erguido diante das injustiças.
Força intransponível diante do amor que fortalece cada vez mais as nossas almas.
Avante, irmãos, na construção de uma América melhor e de um mundo mais justo e mais igual.
De negros, de brancos e de todos que desejam unicamente a paz entre os homens.

Malcolm X - Blog de Carlos Pereira

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