21.6.20

Acuamento

O que em mim procuras?
Estou cego diante dos fatos, mesmo assim enxergo ao longe.
Esta aparente contradição quer dizer muito de mim, porque ao me fechar para o outro e para o mundo, eu passo a me enxergar ainda mais e, com isso, misteriosamente, passo a ver tudo e todos com mais agucidade que antes.
Não há contradição. Quando enxergamos o nosso micro eu – e o entendemos nas suas entrelinhas – ao ampliá-lo para o todo, percebemos que os outros possuem imagens análogas as nossas.
Tudo, então, se parece e é parecido, apesar de parecer diferente ao longe.
Eu me vejo como um animal acuado, daqueles que sentem medo do que vem de fora e ele desconhece a procedência. Quando, porém, se chega perto e vê os contornos, olha o semblante, percebe as intenções, então se abre, qual uma flor de petúnia que parece ri diante do novo e da vida.
Aliás, a vida, quando não se percebe o que ela está por nos trazer, dá-nos exatamente esta condição de acuamento. Fechamo-nos diante do desconhecido e quando sabemos que ele não é tão feio assim, aí nos acostumamos e, a partir daí, começa a fazer parte da nossa vida.
Este momento, penso eu, está sendo para muitos esta fase de retração do eu. Acuamento psicológico. Teste de lucidez. Será que eu vou morrer? Será que tudo vai terminar assim, rapidamente?
Esta preocupação para uns faz sentido. É o jeito de se ver mais do que se é. Um acuamento pelo medo de morrer e não viver a vida como se queria viver.
Para outros, parece que desejam encontrar a morte na primeira esquina, como se ela fosse uma boa amiga.
Que situação de disparate, não é?
Uns a rejeitam, outros a abraçam.
Mas, o que é a morte? Deve-se se acuar diante dela?
Com os olhos fitos onde estou, penso que tudo não passa de uma ilusão, já que a morte por aqui não vive.
Para aqueles, no entanto, que veem a vida pelos olhos unicamente das lentes físicas, deve ser, realmente, uma triste constatação imaginar que tudo vai perecer.
Muitos, ao se depararem com o fenômeno inevitável, sorriem, acham graça. Não porque acreditam natural. É pura fuga da realidade. O sorriso fugaz é para esquecer da vida.
Aos que já estão de malas prontas, digo que relaxem. A caminhada de retorno não é tão dura assim.
Somente haverá pedras no caminho quem por si só as colocou. Portanto, o trajeto é você que escolhe.
Nestes tempos de pura incerteza para muitos, vale a pena sorrir, mas não para fugir de si mesmo e da realidade posta. Vale a pena estar alegre diante do que está por vir.
Pelo que falam, depois das mudanças fundamentais, virá a esperança, a alegria tardia, a fé no futuro.
Pelo menos é o que dizem por aqui.
Minha alegria não é triste, é daquelas bem grande, de sorriso arrebatador, gargalhadas das boas.
É tudo que tenho a dizer.

Mario Quintana - Blog Bau do Quintana

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