Reconheceis, senhor abade,
que o Espiritismo prestou à igreja o serviço de derrubar as teorias
materialistas. E dissestes que esse serviço é a obra de Satã?
Certamente, um demônio que
procurasse destruir o reino do vício para estabelecer o da virtude seria um
estranho demônio, porque se destruiria a si mesmo.
Se esse resultado obtido pelo
Espiritismo foi a obra de Satã, como ocorre que a Igreja disto lhe tenha
deixado o mérito e que não haja obtido ela mesma; que tenha deixado a
incredulidade invadir a sociedade? No entanto, esses não são os meios de ação
que lhe faltaram; não tem ela um pessoal e recursos materiais imensos? as
pregações desde as capitais até as menores aldeias? a pressão que ela exerce
sobre as consciências pela confissão? o terror das penas eternas? a instrução
religiosa que segue a criança durante todo o curso da sua educação? o prestígio
das cerimônias do culto e os de sua antiguidade? Como ocorre que uma Doutrina
apenas eclodida, que não tem sacerdotes, nem templos, nem culto, nem pregações;
que é combatida com todo o exagero pela Igreja, perseguida como foram os
primeiros cristãos, haja reconduzido, em tão pouco tempo, à fé e à crença na
imortalidade um tão grande número de incrédulos? no entanto, a coisa não era
muito difícil, uma vez que basta à maioria ler alguns livros para ver
desaparecerem suas dúvidas.
Tirai daí todas as
consequências que quiserdes; mas convinda que se for a obra do diabo, ela faz o
que vós não pudestes fazer, vós mesmos, e que se desobrigou de vosso trabalho.
Livro: Revista Espírita -
janeiro de 1868 - Allan Kardec
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