A Capela Sistina estava
vazia. Aos olhos dos espectadores em suas casas com a onda devoradora do
Coronavírus, o Santo Padre rezava a todos e proferia a sua homilia. Aos olhos
da multidão em suas casas estava uma praça vazia, aos olhos dos espíritos
irmãos, um aglomerado substantivo de pessoas e religiosos e todas as crenças
estavam a orar com o Santo Padre.
Entre eles, destaca-se um
rabino, Youssef Marranuf. De sua testa irradiava uma luz violeta que espargia
para todos. Noutra ponta, um rabino grego entoava cânticos para a multidão de
espíritos. Havia uma festa diante daquele ambiente aparentemente desértico. Eu
me maravilhava com tudo aquilo. Os muçulmanos também estavam presentes. Era uma
comitiva restrita, mas ajuntava-se conosco naquela convocação de fé. O
budistas, em maior número, entreolhavam-se e percebia que todos ali se tratavam
como irmãos. Estavam alegres e até mesmo eufóricos por participar daquela
experiência de congraçamento. Vi, entre eles, naquela multidão de fé, uma
figura magra, mas não menos imponente. Avistava Chico Xavier. Mais jovial e
alegre, falava com todos que lhe reconheciam. Fazia questão de parecer-se mais
um, como aliás, todos nós somos.
Ao começar a sua homilia,
via-se em todos um semblante de atenção. Todos oravam e cantavam, mas no
instante em que o Santo Padre adentrou na Praça de São Pedro, o silêncio foi
geral. Eu me emocionei grandemente.
De suas palavras, aqui
replicadas abaixo, à medida que se expressava, luzes aureoladas saiam da sua
boca e emanava um sensação de paz e conforto em todos. Era um encontro de fé
viva e todos reunidos por um único ideal: conclamar pela renovação definitiva
de nosso planeta.
São nesses momentos
grandiosos, como esta pandemia, que somos testados na nossa fé e o Santo Padre,
sabiamente, evocou as palavras do Nazareno para perguntar-nos: “Porque sois tão
medrosos? Ainda não tendes fé?”
Sim, onde está a nossa fé?
Jesus a tudo preside, é o que
temos de informação aqui nas cercanias espirituais da vida. Nada está fora de
controle. É Ele, como antes na narrativa evangélica, que está no comando do
grande barco planetário. Então, por que temer?
Eu sei que há um espanto
geral diante das comoções frente aos falecimentos em massa de nossos irmãos de
várias pátrias.
Eu sei, também, que todos
estão atônitos com os rumos da economia na busca da subsistência nestes dias
confusos.
Eu sei, igualmente, que todos
estão preocupados em não contaminar-se e não contaminar a quem quer que seja.
Tenho, porém, que dizer a
todos: este é um momento grandioso e que devemos aproveitar da melhor maneira
possível para o enriquecimento das nossas almas.
Aquele que falava no púlpito
não era maior nem melhor que ninguém. Era apenas um homem “temente” a Deus. Não
um temor devorador, mas um temor de confiança irrestrita em sua vontade
soberana que a nós cabe entender e aceitar.
De nossa parte, Irmãos em
Cristo, cabe agir no bem. No bem de todos e no nosso próprio bem.
No bem de todos, à medida que
apoiemos, como pudermos, a todos aqueles que passem por dificuldades de toda
ordem para suprimento da sua necessidade material ou emocional. No bem de ser solidário
em gestos e palavras para o aquietamento dos corações.
No nosso bem em particular,
na busca de meios para a nossa sobrevivência material, mas sobretudo para a
nossa sobrevivência espiritual. Somos todos convidados ao caminho da renovação
em Cristo e esta renovação não é externa, mas absolutamente um encontro
interior. Este é o maior bem que possamos fazer a nós mesmos. “Conhecereis a
verdade e ela vos tornará livres”, afirmava apropriadamente o mestre maior das
nossas vidas. Portanto, este é o momento de conhecimento da nossa verdade
interior, aquela que vai verdadeiramente nos libertar.
Libertar dos nossos medos que
nos encarceram em subterfúgios vazios de não enfrentamento da realidade.
Libertar dos nossos
preconceitos infundados e desnecessários que só fazem atrapalhar os nossos
relacionamentos.
Libertar o espírito imortal
que somos e que está preso numa mentalidade retrógrada que privilegia a matéria
inerte e vazia.
A libertação deve ser um ato
consciencial e o Nosso Senhor Jesus Cristo já nos convidou para isso a dois mil
anos: “Segue-me...”
Aos medrosos, qual a
explicação da homilia ofertada pelo Santo Padre, cabe empreender em si mesmo
uma coragem de ver-se frente a frente. E vencer-se!
Aos que já caminharam no
processo de livramento das suas consciências, a urgente ação no bem,
aproveitando cada momento para também ajudar na libertação do irmão de caminho.
A chuva dessa pandemia vai
passar. Logo, logo, estaremos vivendo ares mais tranquilos e restará a pergunta
fundamental: o que aprendemos com tudo isso?
Se o aprendizado individual e
coletivo não tiver sido satisfatório, outras “medidas divinas” serão adotadas
para fazer com que acordemos e cumpramos o nosso desiderato de servir com
alegria e irmanados no desejo de melhoria global.
Claro que diante mão já
sabemos que alguns não entenderão a esse chamamento, mas os que já possuem
olhos para ver e ouvidos para ouvir, tomarão às suas mãos o seu próprio destino
e influenciarão a outros para que possam fazer o mesmo.
Tudo está sob absoluto
controle, repito, mas cuidemos de fazer a nossa parte.
Em nosso caso, junto-me a
outros fiéis, aqui em Roma e noutros lugares, a dar assistência às famílias
enlutadas e aos que partem para o mundo onde estou há alguns anos.
Nada a temer. Tudo a agradecer.
Jesus está no comando do
barco planetário e, portanto, as nossas vidas estão seguras nas suas mãos.
Paz,
Helder Camara – Blog Novas
Utopias
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