28.3.20

Onde está a nossa fé?


A Capela Sistina estava vazia. Aos olhos dos espectadores em suas casas com a onda devoradora do Coronavírus, o Santo Padre rezava a todos e proferia a sua homilia. Aos olhos da multidão em suas casas estava uma praça vazia, aos olhos dos espíritos irmãos, um aglomerado substantivo de pessoas e religiosos e todas as crenças estavam a orar com o Santo Padre.
Entre eles, destaca-se um rabino, Youssef Marranuf. De sua testa irradiava uma luz violeta que espargia para todos. Noutra ponta, um rabino grego entoava cânticos para a multidão de espíritos. Havia uma festa diante daquele ambiente aparentemente desértico. Eu me maravilhava com tudo aquilo. Os muçulmanos também estavam presentes. Era uma comitiva restrita, mas ajuntava-se conosco naquela convocação de fé. O budistas, em maior número, entreolhavam-se e percebia que todos ali se tratavam como irmãos. Estavam alegres e até mesmo eufóricos por participar daquela experiência de congraçamento. Vi, entre eles, naquela multidão de fé, uma figura magra, mas não menos imponente. Avistava Chico Xavier. Mais jovial e alegre, falava com todos que lhe reconheciam. Fazia questão de parecer-se mais um, como aliás, todos nós somos.
Ao começar a sua homilia, via-se em todos um semblante de atenção. Todos oravam e cantavam, mas no instante em que o Santo Padre adentrou na Praça de São Pedro, o silêncio foi geral. Eu me emocionei grandemente.
De suas palavras, aqui replicadas abaixo, à medida que se expressava, luzes aureoladas saiam da sua boca e emanava um sensação de paz e conforto em todos. Era um encontro de fé viva e todos reunidos por um único ideal: conclamar pela renovação definitiva de nosso planeta.
São nesses momentos grandiosos, como esta pandemia, que somos testados na nossa fé e o Santo Padre, sabiamente, evocou as palavras do Nazareno para perguntar-nos: “Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”
Sim, onde está a nossa fé?
Jesus a tudo preside, é o que temos de informação aqui nas cercanias espirituais da vida. Nada está fora de controle. É Ele, como antes na narrativa evangélica, que está no comando do grande barco planetário. Então, por que temer?
Eu sei que há um espanto geral diante das comoções frente aos falecimentos em massa de nossos irmãos de várias pátrias.
Eu sei, também, que todos estão atônitos com os rumos da economia na busca da subsistência nestes dias confusos.
Eu sei, igualmente, que todos estão preocupados em não contaminar-se e não contaminar a quem quer que seja.
Tenho, porém, que dizer a todos: este é um momento grandioso e que devemos aproveitar da melhor maneira possível para o enriquecimento das nossas almas.
Aquele que falava no púlpito não era maior nem melhor que ninguém. Era apenas um homem “temente” a Deus. Não um temor devorador, mas um temor de confiança irrestrita em sua vontade soberana que a nós cabe entender e aceitar.
De nossa parte, Irmãos em Cristo, cabe agir no bem. No bem de todos e no nosso próprio bem.
No bem de todos, à medida que apoiemos, como pudermos, a todos aqueles que passem por dificuldades de toda ordem para suprimento da sua necessidade material ou emocional. No bem de ser solidário em gestos e palavras para o aquietamento dos corações.
No nosso bem em particular, na busca de meios para a nossa sobrevivência material, mas sobretudo para a nossa sobrevivência espiritual. Somos todos convidados ao caminho da renovação em Cristo e esta renovação não é externa, mas absolutamente um encontro interior. Este é o maior bem que possamos fazer a nós mesmos. “Conhecereis a verdade e ela vos tornará livres”, afirmava apropriadamente o mestre maior das nossas vidas. Portanto, este é o momento de conhecimento da nossa verdade interior, aquela que vai verdadeiramente nos libertar.
Libertar dos nossos medos que nos encarceram em subterfúgios vazios de não enfrentamento da realidade.
Libertar dos nossos preconceitos infundados e desnecessários que só fazem atrapalhar os nossos relacionamentos.
Libertar o espírito imortal que somos e que está preso numa mentalidade retrógrada que privilegia a matéria inerte e vazia.
A libertação deve ser um ato consciencial e o Nosso Senhor Jesus Cristo já nos convidou para isso a dois mil anos: “Segue-me...”
Aos medrosos, qual a explicação da homilia ofertada pelo Santo Padre, cabe empreender em si mesmo uma coragem de ver-se frente a frente. E vencer-se!
Aos que já caminharam no processo de livramento das suas consciências, a urgente ação no bem, aproveitando cada momento para também ajudar na libertação do irmão de caminho.
A chuva dessa pandemia vai passar. Logo, logo, estaremos vivendo ares mais tranquilos e restará a pergunta fundamental: o que aprendemos com tudo isso?
Se o aprendizado individual e coletivo não tiver sido satisfatório, outras “medidas divinas” serão adotadas para fazer com que acordemos e cumpramos o nosso desiderato de servir com alegria e irmanados no desejo de melhoria global.
Claro que diante mão já sabemos que alguns não entenderão a esse chamamento, mas os que já possuem olhos para ver e ouvidos para ouvir, tomarão às suas mãos o seu próprio destino e influenciarão a outros para que possam fazer o mesmo.
Tudo está sob absoluto controle, repito, mas cuidemos de fazer a nossa parte.
Em nosso caso, junto-me a outros fiéis, aqui em Roma e noutros lugares, a dar assistência às famílias enlutadas e aos que partem para o mundo onde estou há alguns anos.
Nada a temer. Tudo a agradecer.
Jesus está no comando do barco planetário e, portanto, as nossas vidas estão seguras nas suas mãos.
Paz,
Helder Camara – Blog Novas Utopias

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