Toda
vez que fizer a um dos meus é a mim que estarás fazendo.
Perdoai
não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete vezes.
Não
faça ao outro o que não gostaria que o outro lhe fizesse.
Se
alguém te bater numa face, oferece a outra.
Bem-aventurados
os mansos porque herdarão a Terra.
Bem-aventurados
os aflitos porque serão consolados.
Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados.
Bem-aventurados
os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus.
Amai
o seu inimigo.
Ame
o outro como você ama a si mesmo.
São
numerosos os ensinamentos de Jesus que nos direciona para a mudança de
comportamento.
Jesus
nos chama a atenção para termos outra visão do mundo e das pessoas. Conhecer os
ensinamentos de Jesus é literalmente um convite interior para ser outra pessoa.
Jesus
não apenas exerceu seu ofício de mestre da alma com sua retórica, ele
demonstrou ser possível colocar em prática. Foi, portanto, absolutamente
coerente.
É
desafiador, profundamente desafiador, seguir a Jesus, mas ele nos confortou
dizendo que era possível fazê-lo, que seu fardo era leve.
O
questionamento presente a todos aqueles que aceitam a filosofia de vida pregada
e exemplificada por Jesus é se estamos nos esforçando em materializá-la nas
nossas existências?
Esforço
significa tentativa sincera de sair da condição atual para outra, neste caso,
pensar e agir como Jesus.
Esta
linha de raciocínio se aplica a todas as situações da vida, mas uma em
especial, ocorrida no dia 1º de março no Programa Fantástico da Rede Globo de
Televisão, chama-me particularmente à reflexão: o abraço dado pelo médico
Dráuzio Varela a presidiária Susy e a repercussão pública desse ato.
Num
primeiro momento, as pessoas, de maneira geral, ficaram emocionadas e se
empatizaram com o gesto de solidariedade do famoso médico até que foi divulgado
que Susy havia assassinado cruelmente uma criança e estava presa numa
condenação judicial por um período de 36 anos.
Revolta
geral e ataques febris a Dráuzio Varella. Parecia que ele era conivente com o
crime cometido por um “monstro”. Execração pública.
Susy
foi condenada pela justiça humana. Está pagando pelo seu crime nos ditames da
lei. Sofre de solidão e discriminação pelo que fez. O que se quer mais?
O
pai da Psicologia Analítica, Carl Gustav Jung, sugeria que se conhecesse todas
as teorias, dominasse todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, fosse
apenas outra alma humana.
Dráuzio
Varella foi humano com outro ser humano, por mais bárbaro que tenha sido o
crime cometido por ele.
Não
foi conivente, foi tocado por compaixão.
A
omissão da informação do crime cometido por Susy certamente daria um tom mais
realista a reportagem e eticamente seria o mais aconselhável.
O
acolhimento afetivo daquele momento não vai de encontro a dor profunda dos
familiares que viu uma criança ser cruelmente assassinada.
Se,
porém, evocarmos a Jesus a quem temos como referência, jamais adotaríamos o tom
acusatório e de ira que acometeu uma parcela da população.
Jesus
abraçaria Susy como Dráuzio Varella a abraçou.
Dráuzio
Varella representou Jesus naquele instante.
É
importante lembrar que Jesus afirmou abertamente que veio para os doentes – da
alma. Os sadios não precisam dele. Jesus veio para as Susys do mundo.
Jesus
também veio para os que não conseguem perdoar.
Veio
para aqueles que são incapazes de sentir empatia.
Veio
para aqueles que desejam fazer justiça com as próprias mãos, algo do tipo “olho
por olho e dente por dente”.
Veio
para combater a hipocrisia e a maledicência.
Veio
para combater o “pecado” e não os “pecadores”.
Veio
para ajudar a transformar as suas ovelhas desgarradas, na qualidade que é de
Cordeiro de Deus.
Veio
para mostrar que é apenas pelo caminho do amor que podemos fazer um mundo
melhor, de modo que não haja mais Susy nem qualquer outra manifestação de
desequilíbrio.
Certa
vez, conta a narrativa evangélica, que trouxeram a Jesus uma mulher pega em
adultério e como a lei judaica ensinava que deveria ser apedrejada, fizeram
esse questionamento ao Nazareno. Ele, de cabeça baixa, escrevendo na areia,
asseverou que quem estivesse sem pecados que poderia atirar a primeira pedra.
Ninguém a apedrejou e foram todos embora. Jesus olhou para “Susy” e disse que
ele não a condenaria e fez um pedido: ‘não peque mais”.
A
onda de ódio que vive uma parcela da população brasileira nos mostra a
gravidade do momento que atravessamos. Uma nação que paradoxalmente se alega
majoritariamente cristã.
Tempos
confusos e turbulentos, mas tempos de afirmação das convicções. E isto deve ser
provado nas situações mais decisivas.
Isto
lembra Jesus, o mensageiro da paz e do amor. Depois de ser preso
arbitrariamente, julgado e condenado injustamente, torturado e assassinado
publicamente, só teve palavras de compreensão a sanha enlouquecedora das massas
que preferiu condená-lo a Barrabás: “Pai, perdoa, eles não sabem o que fazem”.
E ainda foi resgatar na dimensão do espírito o ladrão que se arrependerá,
crucificado ao seu lado, e a Judas que o traiu.
Esse
é o Jesus que aprendi no Evangelho.
Um
Jesus que admiro e é minha referência moral de comportamento, apesar de ainda
errar tanto e ter cometido graves faltas nas minhas diversas existências no
corpo físico.
Se
cada um pudesse olhar para o seu passado delituoso e saber da misericórdia
divina no seu presente, não abriria a boca difamatória diante das imperfeições
que ainda carrega.
Dráuzio
Varella foi Jesus.
E
isso foi fantástico.
Obrigado,
doutor!
Carlos
Pereira – Blog de Carlos Pereira
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