5.8.19

O Bom Caminho


Eu me perdi numa noite dessas. Estava à procura de minha casa e, de repente, não me dei conta que havia tomado o caminho errado. Onde eu estava? Para onde ia? O que me esperava?
Não titubeei a pedir ajuda, viesse de onde viesse. Estava calmo, mas precisa de alguém para me dizer o caminho correto.
De repente, apareceu um homem forte, musculoso, de face rígida e muito sério.
- O que o senhor faz por aqui? Indagou-me.
- Eu estou procurando um caminho para voltar para casa.
- Não é por aqui, o senhor sabe que não é por aqui. Por que insiste?
- Não sei bem, meu caro, mas é por isso que peço ajuda. Você pode me ajudar?
- Dê a meia-volta e pegue aquela esquina. Vá retamente e logo-logo vai encontrar o centro da cidade. Lá, peça ajuda e alguém vai lhe indicar.
- Muito obrigado! Eu clamei aos céus para me enviar alguém que me ensinasse o caminho de volta para casa e ele me trouxe você. Muito obrigado!
- Não acho que foi ninguém. Eu estava por aqui por perto e ouvi passos. Corri e lhe encontrei. Não foi ninguém a não ser eu mesmo.
- Meu caro, você pode não acreditar, mas os desígnios de Deus são insondáveis. Eu, você, qualquer um, pode se tornar instrumento Dele sem perceber.
- Eu não acredito nisso. O senhor pode até acreditar, mas eu não. O que eu acredito é em mim e em mais ninguém.
- Eu entendo você, mas tudo bem. Deus espera todos nós no tempo de cada um. Eu agradeço a Ele por você ter aparecido no meu caminho.
- Tanto faz o que o senhor acredita ou deixa de acreditar. O fato é que eu estava aqui por perto e ninguém me avisou que chegaria alguém a essa hora. Vigio as casas daqui de perto. Dou proteção a todos. Não foi outro o motivo de lhe encontrar.
- Deus sabe usar as pessoas para nos atender da melhor maneira possível.
- Eu faço o meu caminho. Cada um faz o seu. Não ponha Deus nessa história.
- Ele, meu caro, é que faz a nossa história acontecer. Sem Ele sequer estaríamos aqui debatendo esse assunto. É Ele o senhor das nossas vidas.
- Basta! Já fiz o que me pediu. Isso é o suficiente. É melhor o senhor dando o fora daqui.
- Sim, claro que sim, mas você me parece com alguém bem distante. Lembra muito uma amiga que tive no passado: Deolinda.
- Não, o senhor conhece uma Deolinda?
- Conheço, sim! Era uma grande amiga minha do passado. Foi-se embora cedo, porém. Deixou duas crianças maravilhosas: Pedro e Albertina.
- Não pode ser.
- O que não pode ser?
- O senhor está falando de mim e da minha irmã. Sou filho de Deolinda, que partiu bem cedo, mal tinha oito anos de idade, e minha irmã, seis anos.
- Você, então, é Pedro, filho de Deolinda, que Deus a tenha!
- Lá vem o senhor de novo com essa estória de Deus. Se Deus existisse não me deixaria desamparado junto com a minha irmã. Sem pai, que fugiu pelo mundo e nunca mais voltou, e sem mãe. Se não fossem meus tios estaríamos a ver navios. Isso é Deus?
- É, sim, Deus tem o seu jeito próprio de escrever as nossas vidas. Por mais que pareça torta, nossa vida tem um sentido maior. Olha eu aqui com você nesse momento a me salvar a vida.
- Eu não acredito em Deus. Não posso acreditar. Ele é muito cruel. O que eu fiz contra Ele para Ele não gostar de mim?
- Não fez nada, meu filho, nem Ele tampouco te persegue. Há lições, porém, que devemos aprender na vida e Ele nos oferece essas condições.
- Eu quero dizer que Ele me rejeita. Se não fosse meus tios eu estaria completamente desamparado.
- Não lhe faltou, nada, faltou, se não você não estaria aqui?
- Por pouco, por muito pouco. Meus tios se transformaram, na prática, em nossos pais. Uma tremenda injustiça.
- Não é, meu filho, apesar das aparências. Olha o homem que você se tornou. Certamente, responsável e trabalhador. Nada e ninguém lhe faltou.
- É verdade, mas foi um golpe da sorte.
- Parece que você não gosta mesmo de Deus. Isto que você chama de sorte, eu chamo de Deus. Você teve tudo que precisava para ser o homem que é. Isto é Deus atuando na sua vida.
- Eu não posso acreditar nisso, é muita fantasia.
- Bem, já me dou por feliz em encontrar o filho de minha querida Deolinda. Ela certamente está muito feliz por você onde quer que esteja.
- Vá embora, padre, e deixe-me aqui com as minhas certezas.
- Que bom que Deus me ouviu – e Deolinda também – e me pôs você no meu caminho.
- Esta bem! Está bem! Qualquer coisa estou por aqui.
- Muito obrigado, mais uma vez!
Esta passagem aconteceu quando estava entre vocês. Sai tarde da noite para ver uma irmã enferma e perdi a hora. De madrugada, confiante em Deus e na bondade dos homens, voltei para casa e peguei uma rua errada, mas Pedro, filho de Deolinda, apareceu no meu caminho a mando de Deus.
Do outro lado da vida, soube que Pedro se perdeu nas drogas, mas depois se recuperou. Era um revoltado com Deus, mas se deparou com inúmeras situações como estas e um dia, louco para sair da dependência química, fez um apelo feroz a Deus para lhe tirar daquela situação.
Deus enviou-lhe um verdadeiro pai em forma de médico psiquiatra. Deu apoio, carinho e ele deixou o vício delirante das drogas. Era, a partir desse episódio, um evangélico. Aceitou a Jesus, muito por influência daquele médico de coração grande que o acolheu amorosamente nos seus momentos de agonia.
Pai de família, Pedro teve duas filhas. Uma delas homenageou a sua mãe Deolinda dando-lhe o nome. Hoje, está feliz e tranquilo. Deixou Deus de lado. Não brinca mais com Ele, mas se relaciona bem com Jesus, que lhe acendeu a fé.
Como Deus colocou Pedro no meu caminho, colocou também o médico que lhe assistiu, se tornando um verdadeiro pai.
Quem Deus colocou na sua vida para lhe apontar o bom caminho?
Quem é que faz parte da sua caminhada sem o qual você estaria perdido por aí?
O que você tem feito para colocar outros no bom caminho sendo você instrumento de Deus para aquela criatura?
Tudo depende de você e você pode conseguir tudo que desejar, ao colocar Deus no caminho da sua vida.
Que Deus, o senhor dos caminhos, esteja ainda mais contigo na sua caminhada em direção a Ele.

Hélder Câmara – Blog Novas Utopias

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