Eu me perdi numa noite
dessas. Estava à procura de minha casa e, de repente, não me dei conta que
havia tomado o caminho errado. Onde eu estava? Para onde ia? O que me esperava?
Não titubeei a pedir ajuda,
viesse de onde viesse. Estava calmo, mas precisa de alguém para me dizer o
caminho correto.
De repente, apareceu um homem
forte, musculoso, de face rígida e muito sério.
- O que o senhor faz por
aqui? Indagou-me.
- Eu estou procurando um
caminho para voltar para casa.
- Não é por aqui, o senhor
sabe que não é por aqui. Por que insiste?
- Não sei bem, meu caro, mas
é por isso que peço ajuda. Você pode me ajudar?
- Dê a meia-volta e pegue
aquela esquina. Vá retamente e logo-logo vai encontrar o centro da cidade. Lá,
peça ajuda e alguém vai lhe indicar.
- Muito obrigado! Eu clamei
aos céus para me enviar alguém que me ensinasse o caminho de volta para casa e
ele me trouxe você. Muito obrigado!
- Não acho que foi ninguém.
Eu estava por aqui por perto e ouvi passos. Corri e lhe encontrei. Não foi
ninguém a não ser eu mesmo.
- Meu caro, você pode não
acreditar, mas os desígnios de Deus são insondáveis. Eu, você, qualquer um,
pode se tornar instrumento Dele sem perceber.
- Eu não acredito nisso. O
senhor pode até acreditar, mas eu não. O que eu acredito é em mim e em mais
ninguém.
- Eu entendo você, mas tudo
bem. Deus espera todos nós no tempo de cada um. Eu agradeço a Ele por você ter
aparecido no meu caminho.
- Tanto faz o que o senhor
acredita ou deixa de acreditar. O fato é que eu estava aqui por perto e ninguém
me avisou que chegaria alguém a essa hora. Vigio as casas daqui de perto. Dou
proteção a todos. Não foi outro o motivo de lhe encontrar.
- Deus sabe usar as pessoas
para nos atender da melhor maneira possível.
- Eu faço o meu caminho. Cada
um faz o seu. Não ponha Deus nessa história.
- Ele, meu caro, é que faz a
nossa história acontecer. Sem Ele sequer estaríamos aqui debatendo esse
assunto. É Ele o senhor das nossas vidas.
- Basta! Já fiz o que me
pediu. Isso é o suficiente. É melhor o senhor dando o fora daqui.
- Sim, claro que sim, mas
você me parece com alguém bem distante. Lembra muito uma amiga que tive no
passado: Deolinda.
- Não, o senhor conhece uma
Deolinda?
- Conheço, sim! Era uma
grande amiga minha do passado. Foi-se embora cedo, porém. Deixou duas crianças
maravilhosas: Pedro e Albertina.
- Não pode ser.
- O que não pode ser?
- O senhor está falando de
mim e da minha irmã. Sou filho de Deolinda, que partiu bem cedo, mal tinha oito
anos de idade, e minha irmã, seis anos.
- Você, então, é Pedro, filho
de Deolinda, que Deus a tenha!
- Lá vem o senhor de novo com
essa estória de Deus. Se Deus existisse não me deixaria desamparado junto com a
minha irmã. Sem pai, que fugiu pelo mundo e nunca mais voltou, e sem mãe. Se
não fossem meus tios estaríamos a ver navios. Isso é Deus?
- É, sim, Deus tem o seu
jeito próprio de escrever as nossas vidas. Por mais que pareça torta, nossa
vida tem um sentido maior. Olha eu aqui com você nesse momento a me salvar a
vida.
- Eu não acredito em Deus.
Não posso acreditar. Ele é muito cruel. O que eu fiz contra Ele para Ele não
gostar de mim?
- Não fez nada, meu filho,
nem Ele tampouco te persegue. Há lições, porém, que devemos aprender na vida e
Ele nos oferece essas condições.
- Eu quero dizer que Ele me
rejeita. Se não fosse meus tios eu estaria completamente desamparado.
- Não lhe faltou, nada,
faltou, se não você não estaria aqui?
- Por pouco, por muito pouco.
Meus tios se transformaram, na prática, em nossos pais. Uma tremenda injustiça.
- Não é, meu filho, apesar
das aparências. Olha o homem que você se tornou. Certamente, responsável e trabalhador.
Nada e ninguém lhe faltou.
- É verdade, mas foi um golpe
da sorte.
- Parece que você não gosta
mesmo de Deus. Isto que você chama de sorte, eu chamo de Deus. Você teve tudo
que precisava para ser o homem que é. Isto é Deus atuando na sua vida.
- Eu não posso acreditar
nisso, é muita fantasia.
- Bem, já me dou por feliz em
encontrar o filho de minha querida Deolinda. Ela certamente está muito feliz
por você onde quer que esteja.
- Vá embora, padre, e
deixe-me aqui com as minhas certezas.
- Que bom que Deus me ouviu –
e Deolinda também – e me pôs você no meu caminho.
- Esta bem! Está bem!
Qualquer coisa estou por aqui.
- Muito obrigado, mais uma
vez!
Esta passagem aconteceu
quando estava entre vocês. Sai tarde da noite para ver uma irmã enferma e perdi
a hora. De madrugada, confiante em Deus e na bondade dos homens, voltei para
casa e peguei uma rua errada, mas Pedro, filho de Deolinda, apareceu no meu
caminho a mando de Deus.
Do outro lado da vida, soube
que Pedro se perdeu nas drogas, mas depois se recuperou. Era um revoltado com
Deus, mas se deparou com inúmeras situações como estas e um dia, louco para
sair da dependência química, fez um apelo feroz a Deus para lhe tirar daquela
situação.
Deus enviou-lhe um verdadeiro
pai em forma de médico psiquiatra. Deu apoio, carinho e ele deixou o vício
delirante das drogas. Era, a partir desse episódio, um evangélico. Aceitou a
Jesus, muito por influência daquele médico de coração grande que o acolheu
amorosamente nos seus momentos de agonia.
Pai de família, Pedro teve
duas filhas. Uma delas homenageou a sua mãe Deolinda dando-lhe o nome. Hoje,
está feliz e tranquilo. Deixou Deus de lado. Não brinca mais com Ele, mas se
relaciona bem com Jesus, que lhe acendeu a fé.
Como Deus colocou Pedro no
meu caminho, colocou também o médico que lhe assistiu, se tornando um
verdadeiro pai.
Quem Deus colocou na sua vida
para lhe apontar o bom caminho?
Quem é que faz parte da sua
caminhada sem o qual você estaria perdido por aí?
O que você tem feito para
colocar outros no bom caminho sendo você instrumento de Deus para aquela
criatura?
Tudo depende de você e você
pode conseguir tudo que desejar, ao colocar Deus no caminho da sua vida.
Que Deus, o senhor dos
caminhos, esteja ainda mais contigo na sua caminhada em direção a Ele.
Hélder Câmara – Blog Novas
Utopias
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