Uma ideia quase geral entre
as pessoas que não conhecem o Espiritismo é de crer que os Espíritos, só pelo
fato de estarem livres da matéria, devem tudo saber e possuir a soberana
sabedoria. Está aí um erro grave. Deixando o seu envoltório corpóreo, eles não
se despojam imediatamente de suas imperfeições; não é senão com o tempo que se
depuram e se melhoram.
Sendo os Espíritos as almas
dos homens, como há homens de todos os graus de saber e de ignorância, de
bondade e de maldade, encontra-se a mesma coisa entre os Espíritos. Há deles
que não são senão levianos e traquinas, outros são misteriosos, velhacos,
hipócritas, maus, vingativos; outros ao contrário, possuem as mais sublimes
virtudes e o saber num grau desconhecido sobre a Terra. Essa diversidade na qualidade
dos Espíritos é um dos pontos mais importantes a considerar, porque explica a
natureza boa ou má das comunicações que se recebem; é a distingui-las que é
preciso sobretudo se empenhar.
Disso resulta que não basta
se dirigir a um Espírito qualquer para ter uma resposta justa a toda pergunta;
porque o Espírito responderá segundo o que sabe, e, frequentemente, não dará
senão a sua opinião pessoal, que pode ser justa ou falsa. Se for sábio,
confessará a sua ignorância sobre o que não sabe; se for leviano ou mentiroso,
responderá sobre tudo sem se importar com a verdade; dará sua ideia como uma
verdade absoluta. Foi por isso que São João o evangelista disse: "Não
creais em todo Espírito, mas experimentai se os Espíritos são de Deus." A
experiência prova a sabedoria deste conselho. Haverá, pois, imprudência e
leviandade em aceitar sem controle tudo o que vem dos Espíritos.
Os Espíritos não podem
responder senão sobre aquilo que sabem, e, além disso, sobre o que lhes é
permitido dizer, porque há coisas que não devem revelar, porque não é dado
ainda aos homens tudo conhecerem.
Livro: Revista Espírita -
abril 1864 - Allan Kardec.
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