A Luta pela Liberdade
Naqueles dias tenebrosos que
vivemos distantes da democracia, não nos acovardamos, ficamos de pé. Olhamos
para frente à busca de respostas para tudo que estava ocorrendo no nosso País.
As injustiças eram tamanhas.
A violência contra alguns era feroz. Tudo se fazia para calar a boca daqueles
de reclamavam por liberdade. Eu não poderia, como tantos outros, ficar calado,
vendo irmãos sendo brutalmente torturados, massacrados, desrespeitados,
desaparecidos e, muitas vezes, encontrados mortos sem qualquer explicação
plausível.
Rebelei-me, sim, e o que mais
poderia fazer um bispo do Cristo diante de uma situação de penúria que
vivíamos?
Este ato de insubordinação às
forças oficiais de governo tiveram naturalmente um preço a se pagar.
Fui injuriado, criticado abertamente
sem direito de defesa, fui “excomungado” da minha própria Igreja por muitos que
defendiam o arbítrio. O que poderia fazer senão continuar lutando, lado a lado
com o povo sofrido, diante das incríveis estórias que eram criadas a meu
respeito.
O tempo foi se passando e o
que eu falava encontrou eco junto a outras vozes da Igreja que se somaram a
minha voz.
Os fatos eram tão fortes, a
realidade era tão deprimente que negá-la significava um gesto de estupidez ou
demência.
Graças a Deus aqueles dias se
foram e as lutas dos que prezam a democracia e a liberdade foram finalmente
ouvidas.
Nada a fazer nos dias de
hoje?
Esquecer os tempos idos?
Jamais!
Minha voz não se calará
somente porque morri no corpo físico. As artimanhas do passado voltaram novamente
a serem tramadas e, deste modo, não posso outra vez me calar.
Pensem, irmãos, quão grande é
o valor da liberdade. Não há preço para ela. Acaso, algum de nós poderia viver
um minuto sem o ar que respira? Pois bem, como viver sem poder ir e voltar, pensar
e falar, crer e agir?
Estas ideias de supressão das
liberdades, venham de onde vierem, sejam de quem for, devem ser sumariamente
respondidas com a firmeza da defesa dos direitos humanos de ser livre por
natureza.
Não vou me calar.
Não posso me calar.
As trevas, como antes, não
podem se agigantar.
Eu vou falar.
Eu vou gritar.
Que digam que este médium
delira.
Que digam que tudo isso é
falso.
Que digam que tudo não passa
de asneira e que nada vem do além.
Eu estou vivo e, como tal,
não posso fugir aos ditames da minha consciência.
Prezo pela liberdade como
prezo pela minha própria vida. A história não pode e não deve ser repetida.
Vamos vencer!
Vamos novamente erguer a
bandeira que jamais pode ser retirada da mais alta posição.
Vamos deixa-la sempre a
tremular no horizonte deste País e do mundo.
Vamos defender a liberdade
com todas as nossas forças.
Vamos defender o direito dos
contrários se manifestarem sem qualquer ato de dissabor.
O valor de ser livre é uma
conquista inalienável do ser humano no seu progresso.
Eu estou aqui a falar em nome
de outros tantos que defenderam esta bandeira no passado e que hoje juntam-se
nesse mesmo brado.
Ulysses, Brizola, Arraes e
Tancredo saúdam a todos por esta nova bravata.
Eugênio, Paulo, Ivo e muitos
outros mais da batina se alinham contra qualquer possibilidade de retrocesso da
paz e da democracia.
Juntos, como outrora,
respiramos as mesmas ideias e confiantes em Cristo estaremos trabalhando, como
e onde pudermos, para que não tenhamos que novamente ver a nossa nação sendo
vilipendiada por uma ditadura, mesmo que disfarçada.
Aos corações mais ingênuos,
peço que abram os olhos e aprendam com a história.
Aos combatentes da liberdade,
reforcemos a guarda e juntemo-nos as mãos, independentemente das nossas
insígnias, pelo bem maior daquilo que nos une e nos torna verdadeiramente
humanos – a liberdade.
Helder Camara – Blog Novas
Utopias
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