7.10.18

A Luta pela Liberdade


A Luta pela Liberdade

Naqueles dias tenebrosos que vivemos distantes da democracia, não nos acovardamos, ficamos de pé. Olhamos para frente à busca de respostas para tudo que estava ocorrendo no nosso País.
As injustiças eram tamanhas. A violência contra alguns era feroz. Tudo se fazia para calar a boca daqueles de reclamavam por liberdade. Eu não poderia, como tantos outros, ficar calado, vendo irmãos sendo brutalmente torturados, massacrados, desrespeitados, desaparecidos e, muitas vezes, encontrados mortos sem qualquer explicação plausível.
Rebelei-me, sim, e o que mais poderia fazer um bispo do Cristo diante de uma situação de penúria que vivíamos?
Este ato de insubordinação às forças oficiais de governo tiveram naturalmente um preço a se pagar.
Fui injuriado, criticado abertamente sem direito de defesa, fui “excomungado” da minha própria Igreja por muitos que defendiam o arbítrio. O que poderia fazer senão continuar lutando, lado a lado com o povo sofrido, diante das incríveis estórias que eram criadas a meu respeito.
O tempo foi se passando e o que eu falava encontrou eco junto a outras vozes da Igreja que se somaram a minha voz.
Os fatos eram tão fortes, a realidade era tão deprimente que negá-la significava um gesto de estupidez ou demência.
Graças a Deus aqueles dias se foram e as lutas dos que prezam a democracia e a liberdade foram finalmente ouvidas.
Nada a fazer nos dias de hoje?
Esquecer os tempos idos?
Jamais!
Minha voz não se calará somente porque morri no corpo físico. As artimanhas do passado voltaram novamente a serem tramadas e, deste modo, não posso outra vez me calar.
Pensem, irmãos, quão grande é o valor da liberdade. Não há preço para ela. Acaso, algum de nós poderia viver um minuto sem o ar que respira? Pois bem, como viver sem poder ir e voltar, pensar e falar, crer e agir?
Estas ideias de supressão das liberdades, venham de onde vierem, sejam de quem for, devem ser sumariamente respondidas com a firmeza da defesa dos direitos humanos de ser livre por natureza.
Não vou me calar.
Não posso me calar.
As trevas, como antes, não podem se agigantar.
Eu vou falar.
Eu vou gritar.
Que digam que este médium delira.
Que digam que tudo isso é falso.
Que digam que tudo não passa de asneira e que nada vem do além.
Eu estou vivo e, como tal, não posso fugir aos ditames da minha consciência.
Prezo pela liberdade como prezo pela minha própria vida. A história não pode e não deve ser repetida.
Vamos vencer!
Vamos novamente erguer a bandeira que jamais pode ser retirada da mais alta posição. 
Vamos deixa-la sempre a tremular no horizonte deste País e do mundo.
Vamos defender a liberdade com todas as nossas forças.
Vamos defender o direito dos contrários se manifestarem sem qualquer ato de dissabor.
O valor de ser livre é uma conquista inalienável do ser humano no seu progresso.
Eu estou aqui a falar em nome de outros tantos que defenderam esta bandeira no passado e que hoje juntam-se nesse mesmo brado.
Ulysses, Brizola, Arraes e Tancredo saúdam a todos por esta nova bravata.
Eugênio, Paulo, Ivo e muitos outros mais da batina se alinham contra qualquer possibilidade de retrocesso da paz e da democracia.
Juntos, como outrora, respiramos as mesmas ideias e confiantes em Cristo estaremos trabalhando, como e onde pudermos, para que não tenhamos que novamente ver a nossa nação sendo vilipendiada por uma ditadura, mesmo que disfarçada.
Aos corações mais ingênuos, peço que abram os olhos e aprendam com a história.
Aos combatentes da liberdade, reforcemos a guarda e juntemo-nos as mãos, independentemente das nossas insígnias, pelo bem maior daquilo que nos une e nos torna verdadeiramente humanos – a liberdade.
Helder Camara – Blog Novas Utopias

Nenhum comentário:

Postar um comentário