E Madalena fora ao túmulo
querido
Entre pedras de extremo
desconforto...
Levava flores para o Mestre
morto,
Tinha o peito magoado e
enternecido.
O Sol reaparecia,
resplendente,
A névoa da manhã fundia-se no
ar,
Na dourada invasão das flamas
do Nascente,
Maria estava ali, unicamente,
A fim de estar a sós,
recolher-se e chorar.
A desfazer-se em pranto, ela
arguía:
- “Por que, por que Senhor?
Tanta saudade e tanta
dor?!...
Toda a felicidade que eu
sentia
Jaz aqui sepultada...
Transformou-se-me a vida em
sombra e nada
No ermo deste pouso
derradeiro...”
Nisso, ela viu alguém...
Seria um jardineiro?
Um zelador daquele campo
santo?
Mas tomada de espanto,
Viu-se à frente do Mestre
Nazareno,
O excelso benfeitor
ressuscitado,
A envolver-lhe de paz o
coração cansado...
Ela gritou: “Senhor!”
Ele disse: “Maria!”
Ela era a expressão da
perfeita alegria,
Ele, o perfeito amor.
Madalena ajoelhou-se e quis
beijar-lhe os pés...
- “Maria, por quem és” –
explicou-se
“Não me toques, porquanto
não te esperava aqui neste
recanto,
e ainda não fui ao Pai
revestir-me de luz...”
Maria, surpreendida,
indagou em seguida:
- “Senhor, onde estiveste?
Em que jardim celeste
Encontraste o descanso
necessário,
Que vem de Deus, nos dons da
paz completa?
Perdoa-me, Senhor, a pergunta
indiscreta,
Dói-me, porém, pensar na
angústia do Calvário,
Revolto-me, padeço, mas não
venço
A mágoa de lembrar-te o
sacrifício imenso”
Mas Jesus respondeu:
- “Não, Maria, não fui ainda
ao Alto,
Nem me elevei sequer um palmo
à luz do firmamento,
Quem ama não consegue achar o
Céu de um salto...
Ao invés de subir aos Altos
Resplendores,
Desci, mas desci muito aos
reinos inferiores...
Despertando no túmulo,
escutei
Os gritos da aflição de
alguém que muito amei
E que muito amo ainda...
Embora visse Além, a Luz
sempre mais linda,
Sentia nesse alguém um amado
companheiro,
Em crises de tristeza e de
loucura...
Fui à sombra abismal para a
grande procura
E ao reencontra-lo amargurado
e louco,
A ponto de não mais me
conhecer,
Demorei-me a afaga-lo e,
pouco a pouco,
Consegui que ele, enfim,
pudesse adormecer...”
- “Senhor” – interrogou a
Madalena
“Quem é o amigo que te fez
descer,
Antes de procurar a luz do
Pai?”
Mas Jesus replicou, em voz
clara e serena:
- “Maria,
um amigo não esquece a dor de
outro amigo que cai...
Antes de me altear à Celeste
Alegria,
Ao sol do mesmo amor a Deus,
em que te enlevas,
Vali-me, após a cruz, das
grandes horas mudas,
E desci para as trevas,
A fim de aliviar a imensa dor
de Judas”.
Livro: Coração e Vida.
Espírito: Maria Dolores
Medium: Chico Xavier
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