NOTA GERAL
Um ensinamento importante, do ponto de
vista da ciência espírita, ressalta dessas comunicações. A primeira coisa que
toca, em as lendo, é uma mistura de ideias justas, profundas, e trazendo a
marca do observador, ao lado de outras evidentemente falsas, e fundadas sobre a
imaginação mais que sobre a realidade. Charlet era, sem contradita, um homem
acima do vulgo, mas, como Espírito, não é mais universal do que o era quando
vivo, e pode se enganar porque, não sendo ainda bastante elevado, não encara as
coisas senão sob o seu ponto de vista;
não há, de resto, senão os Espíritos chegados ao último grau de perfeição que
estão isentos de erros; os outros por alguns dons que tenham, não sabem tudo e
podem se enganar; mas, então, quando são verdadeiramente bons, fazem-no de boa
fé e nisso convêm francamente, ao passo que há os que o fazem conscientemente e
se obstinam nas ideias mais absurdas. Por isso, é necessário guardar-se de
aceitar o que vem do mundo invisível sem tê-lo submetido ao controle da lógica;
os bons Espíritos o recomendam sem cessar, e não se melindram nunca com a
crítica, porque de duas coisas uma, ou estão seguros do que dizem, e então não
temem, ou não estão seguros e, se tem a consciência de sua insuficiência,
procuram, eles mesmos, a verdade; ora, se os homens podem se instruir com os
Espíritos, certos Espíritos também podem se instruir com os homens. Os outros,
ao contrário, querem dominar, esperando que aceitem as suas utopias com o favor
de seu título de Espíritos; então, seja presunção de sua parte, seja má
intenção, não sofrem a contradição; querem ser acreditados sob palavra, porque
sabem bem que eles não podem senão perder ao exame; se desagradam com a menor
dúvida sobre a sua infalibilidade, e ameaçam soberbamente de vos abandonar como
indignos de ouvi-los; também não gostam senão daqueles que se põem de joelhos
diante deles. Não há homens assim feitos, e deve-se espantar de encontrá-los
com os seus defeitos no mundo dos Espíritos? Entre os homens, um tal caráter é
sempre, aos olhos das pessoas sensatas, um indício de orgulho, de vã
suficiência, de tola vaidade, e partindo da pequenez nas ideias e de um falso
julgamento; o que é um sinal de inferioridade moral entre eles não poderia ser
um sinal de superioridade nos Espíritos.
Charlet, como se acaba de
ver, se presta de bom grado à controvérsia; escuta e admite as objeções, e
responde-as com benevolência; desenvolve o que estava obscuro e reconhece
lealmente o que não está exato; em uma palavra, não quer se fazer passar por
mais sábio do que é, e nisto, prova mais elevação que se obstinasse nas ideias
falsas, a exemplo de certos Espíritos que se escandalizam tão-só com o anúncio
de que as suas comunicações parecem suscetíveis de comentários.
O que é ainda próprio desses Espíritos
orgulhosos é a espécie de fascinação que
exercem sobre seus médiuns com a ajuda da qual, algumas vezes, chegam a fazê-lo
partilhar os mesmos sentimentos. Dissemos de propósito seus médiuns porque eles
se apoderam deles e querem Ter, neles, os instrumentos que agem de olhos
fechados; não se acomodariam de nenhum modo com um médium escutador ou que
visse muito claro; não é assim ainda entre os homens? Quando o encontraram,
temem que se lhe escape, inspiram-lhe o afastamento de quem poderia
esclarecê-lo; isolam-no de alguma sorte, a fim de que gozem de inteira
liberdade, ou não o aproximam senão daqueles
dos quais nada tem a temer; e, para melhor captar a sua confiança, se
fazem bons apóstolos usurpando os nomes de Espíritos venerados, dos quais
procuram imitar a linguagem; mas agem inutilmente, a ignorância nunca poderá
arremedar o verdadeiro saber, nem uma natureza má a verdadeira virtude; sempre
o orgulho surgirá sob o manto de uma fingida humildade, e é porque temem ser
desmascarados que evitam a discussão e dela desviam os seus médiuns.
Não há pessoa, julgando friamente e sem
prevenção, que não reconheça como má uma tal influência, porque cai sob o mais
vulgar bom senso que um Espírito, verdadeiramente bom e esclarecido, não
procuraria nunca exercê-la. Pode-se, pois, dizer que todo médium que lhes cede
está sob o império de uma obsessão, da qual deve procurar se desembaraçar o
mais cedo. O que se quer, antes de tudo, não são quando mesmo comunicações, mas
comunicações boas e verdadeiras; ora, para Ter boas comunicações são
necessários bons Espíritos, e para Ter bons Espíritos é necessário Ter médiuns
livres de toda má influência. A natureza dos Espíritos que assistem
habitualmente um médium é, pois, uma das primeiras coisas a considerar; para
conhecê-la, exatamente, há um critério infalível, e isso não está nem nos
sinais materiais nem nas fórmulas de evocação ou de conjuração que são
encontradas; esse critério está nos
sentimentos que o Espírito inspira ao médium; pela maneira de agir deste
último, pode-se julgar da natureza dos Espíritos que o dirigem e, por
conseguinte, do grau de confiança que as suas comunicações merecem.
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