Vi no Império muitas
demonstrações de pequenez. Muitos políticos utilizavam dos seus cargos públicos
para benefício próprio, o povo representava, tão somente, um argumento de
retórica e nada mais. Apesar, porém, desta despreocupação com o povo, tinha-se certo
pudor no quanto se iria subtrair de dinheiro público. Na verdade, o que se
desejava era que os privilégios privados fossem dados pelo Estado para garantir
mais poder e a manutenção do status quo. Havia descaso com a coisa pública,
sempre houve, mas ninguém, desmedidamente, desejaria ser chamado de ladrão
diante da sociedade. Os esquemas eram, por assim dizer, mais sutis e
reservados.
Num outro momento, no início
da República, tinha-se um arremedo de Estado brasileiro. Era um país em
formação. A ideia republicana ainda se formava e nem sei se foi configurada até
hoje. Os mesmos vícios foram mantidos agora sob outra esfinge – a da
consolidação das terras e a troca permanente de favores e poder para ficarem
entre eles mesmos. Com a subida de Getúlio Vargas ao poder central pelas mãos
de uma ditadura, o Estado começou efetivamente a ter forma, mas foi somente
depois do golpe militar de 1964 que os contornos definitivos se impuseram.
Algo, porém, não se modificou, foi a
utilização do Estado para proveito privado. O patrimonialismo se agigantava e
se apropriava de pedaços do que era público para benefício particular. Ora,
como vemos, nunca se teve muito pudor nas transações públicas e privadas, uma
confundindo-se com a outra. O que ocorre, portanto, com o Brasil recente nada
mais é do que o decorrer de uma grande tradição de apropriação indébita do
Estado numa dimensão jamais vista.
O que foi feito, meus
senhores, senão a dilapidação do País por uma classe política nojenta e sem
vergonha?
É necessário que estas verdades
sejam ditas com todas as palavras e não é mais para simplesmente chocar, mas é
para acordar as massas.
Não se pode mais viver de
faz-de-conta neste País, a não ser para mantê-lo como uma eterna promessa de
uma futura grande nação, onde não se sabe quando isto acontecerá.
Todos estes descalabros
servem para acordar a todos e para que se faça urgentemente uma nova legislação
política e partidária, de modo que acabe de vez com estes desmandos. Creio,
sinceramente, que isto não vai acontecer se o povo não pressionar ainda mais na
formulação de um projeto alternativo de representação popular porque o que aí
existe já deu demonstrações de falência completa.
O pouco que se fez na direção
da renovação destes costumes não foi o suficiente para modificar por completo
as práticas nefastas dos políticos tradicionais viciados e de toda uma corja de
aproveitadores do que seja público. As empreiteiras nada mais são do que um
produto desta construção nefasta, aproveitadores do sistema falido, elas em si
não possuem culpa alguma, pois se não houvesse a mácula de corruptos no seio do
Estado elas teriam atuado apenas nas suas prerrogativas técnicas.
Agora mesmo trama-se, nos
bastidores, a manutenção dos governantes que aí estão que, se não possuem
imenso lastro popular para se instalarem, guardam a defesa normativa
constitucional a seu favor até que se comprovem que também – ou não – sejam
podres no exercício do poder.
Renovar por completo. Ampliar
os horizontes da política brasileira. Uma nova proposta de representação
popular se faz urgente. Mudar. Mudar para que o povo seja agente de seu destino
e não apenas um artifício para justificar as falcatruas em voga.
Este sinal de esgotamento de
modelo representativo não se faz unicamente em nosso País, outros países
desenvolvidos ocidentais, notadamente os presidencialistas, demonstram cansaço
e urgem por mudanças cabais. É a renovação de consciências em jogo. Um novo
artefato de organização popular está em ebulição. Meninos hoje que assumirão em
breve os destinos da nação darão novo ar a política brasileira. O excremento
que hoje surge deve ser abolido na sua totalidade e sem demora. Errarão numas
propostas, mas, pouco a pouco, ajeitaremos o quadro político brasileiro com
novas caras e mentes que arejarão definitivamente a política em nosso País.
Há um preço a pagar por tudo
isso e todos sentem na pele tudo que ocorre, mas será da indignação de todos
que nascerá a energia da renovação. É assim, meus caros, que são produzidas as
grandes transformações.
Tudo há de se organizar, enquanto
isto não ocorre, temperança e energia são os requisitos para enfrentar esta
fase de transição em direção a nova política brasileira.
Joaquim Nabuco – Blog
Reflexões de um Imortal
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