PERGUNTA: - Quando lemos obras mediúnicas
que nos falam de "melodias" que fluem do Espaço e ressoam
"misteriosamente", temos a impressão de que elas provêm
espontaneamente do Cosmo, mas sem qualquer intervenção de inteligências
espirituais. Estamos certos, ou essas melodias são executadas por entidades
angélicas?
ATANAGILDO: - Na ascensão espiritual, a
alma vai aprendendo e criando, conforme o desenvolvimento de sua consciência.
Se o selvagem traduz as suas emoções através do "tamtam" monótono, a
emotividade do Arcanjo só se revela através de uma sinfonia indefinível para o
vosso entendimento ainda muito acanhado. A música é um prolongamento vivo da
alma e é mensagem afetiva e apreciada em qualquer região cósmica em que se
manifeste, tanto quando se resume apenas num punhado de sons brutais que se
afinam à natureza rude do zulu, como quando se transforma numa encachoeirada
fusão de melodias vibrando num oceano de sons, para servir de pouso às esferas
rodopiantes e enlevo sideral aos arcanjos constelatórios. É um cântico divino e
sublime da vida, que o Criador inspira à alma para acelerar a sua ventura
eterna. Deus, o Regente Cósmico, organiza e dirige a orquestra sinfônica
sideral sob a sua batuta eterna; mas, à semelhança da Poesia, da Beleza, da
Inspiração, o êxtase que a música produz tende a se manifestar gradativamente à
consciência do espírito. Deste modo, haveis de compreender que a música celeste
está tão distante para vós quanto as "Tocatas" e "Fugas" de
Bach ou "Tannhauser" de Wagner estão distantes do batuque do
selvagem. É melodia indescritível, que expressa a harmonia das esferas
celestiais, das suas humanidades angélicas e da própria criação do universo. O
papel importantíssimo da música sobre as nossas almas é o de
"desmaterializar" a nossa personalidade inferior, para eclodirem em
nós os sentimentos definitivos do anjo criador. Ela apura a nossa emotividade e
adoça a razão, impelindo-nos para realizações as mais pacíficas e generosas.
Assim como a melodia terrena vos transmite o sentimento ou a emotividade do seu
autor ou compositor, a música celeste cumpre o mesmo objetivo, trazendo em suas
asas magistrais a mensagem sonora dos arcanjos e do próprio Deus! Como
fazer-vos compreender tal grandiosidade através apenas dos singelos sinais
gráficos da linguagem reduzida do homem encarnado? Visto que, para sentirdes
essa música tão elevada, necessitaríeis fundir-vos com o potencial harmônico
que estivesse vibrando no éter, para o qual não possuís ainda a sensibilidade
desenvolvida, é óbvio que também não a podereis entender em vosso atual estado
de evolução espiritual.
PERGUNTA: - Podeis nos explicar o que vem a
ser "música celeste"? Há alguma diferença entre ela e a música que
conhecemos?
ATANAGILDO: - É certo que poderíeis fazer
uma idéia aproximada da música celeste, mas tão-somente da que se executa nas
comunidades ou nas metrópoles astrais e que, embora de padrão musical superior,
sempre lembra algo semelhante ao que ainda se executa na Terra. Por isso os
desencarnados de nossa esfera sempre se enternecem com certas melodias que lhes
dizem algo familiar à alma; se ouvissem apenas composições estranhas, sem se
aperceberem da profundidade do seu sentimento e se afinarem psicologicamente à
sua mensagem de sons, é certo que haviam de se desinteressar delas e com
bastante razão. As criaturas que na Terra eram apaixonadas pelas composições
beethovenianas, que se deliciavam ouvindo a "Heróica", a
"Pastoral" ou a "Coral" - é fora de dúvida - ainda viverão
indescritíveis momentos de êxtase espiritual, quando na metrópole do Grande
Coração puderem ouvir essas mesmas composições através de instrumentação
superior a tudo o que já conheceis no mundo físico. Do mesmo modo, também
descobrirão novas nuanças e riquezas de interpretação que desconheciam na
Terra.
Mas para além das comunidades
espirituais do astral próximo da Terra, a música celeste é alimento predileto
dos anjos, e se encontra muitíssimo distante de nossa atual execução sideral.
Não existe cérebro encarnado capaz de entendê-la pelos sentidos humanos, assim
como também não pude encontrar alguém, por aqui, que ma pudesse explicar
satisfatoriamente. A sua exata compreensão só é possível depois que tenhamos
passado pela experiência pessoal de senti-la, pois a música celeste, na
verdade, não se prende à pauta e ao tempo, nem obedece às regras traçadas pela
limitação dos sentidos humanos. Como se poderia demonstrar a eloquência, a
força e a grandiosidade da "Quinta Sinfonia" de Beethoven a quem
apenas aprecia o samba? De que modo servos-ia possível sentir a música celeste,
que é completamente liberta de qualquer inspiração terrena ou de regras por vós
conhecidas, comparando-a com os "ruídos" agradáveis da música humana?
PERGUNTA: - A música celeste é, então, uma
maior expressão de harmonia; não é assim?
ATANAGILDO: - Não encontro vocábulos para
defini-la; se quiserdes, imaginai a música sem instrumento e produzida pela
combinação dos ritmos e das pulsações criadoras do próprio Pai. Sem dúvida, a
música é sempre a intérprete da harmonia, a começar pela mais sutil vibração;
Livro: Sobrevivência do
Espírito - Hercilio Maes - Ramatis e Atamagildo
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