Um Ataque à Democracia
Vimos, todos nós, nesta
semana uma desgraça. Presenciamos um atentado à democracia. Refiro-me ao
episódio que ocorreu na França quando militantes islâmicos assassinaram quatro
cartunistas da revista Charlie Hebdo e outros mais cidadãos que redundou,
posteriormente, nos seus próprios assassinatos pela polícia e alguns mais
cidadãos.
Uma desgraça porque é um ato triste que afeta a todos os irmãos.
Afeta aos cidadãos franceses, mas afeta também todos os cidadãos islâmicos, e,
por tabela, a toda a humanidade terrestre.
É uma desgraça porque ninguém
ganha com o que aconteceu. Todos saem literalmente perdendo. De um lado,
discute-se a questão da liberdade de expressão, de outro, os direitos religiosos
de todo um povo. E mais ainda perde a democracia porque passa a ser questionada
até onde vai o direito de uso da liberdade.
Penso que o assunto é complexo
para rápidas considerações num artigo de blog. Há muitos interesses em jogo e
não podemos ser simplistas nos nossos argumentos.
A democracia sai ferida
porque ela se sustenta na liberdade e a liberdade não pode promover a
destruição. A democracia não pode trazer morticínio. A democracia não pode
trazer o terror. A democracia deve trazer o encontro de irmãos para juntos, num
regime de respeito recíproco, trazer a felicidade coletiva. E isto não foi o que
aconteceu nesta ocasião.
Por um lado, a liberdade de expressão foi mal usada.
Por outro, o excesso em nome ao zelo do nome e da figura de Maomé, foram as
justificativas utilizadas para eliminar pessoas. Dois comportamentos
abomináveis.
No centro de tudo está a ausência de amor.
Não houve, em
nenhum momento, a lembrança de como o outro se sentiria. Não houve entre eles o
sentimento de empatia e consideração. Não houve respeito entre as partes. O
resultado foi esta catástrofe sem precedentes com danos irreversíveis e
consequências imprevisíveis.
Quando defendemos o amor como a base das
relações humanas numa referência clara aos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus
Cristo é porque se houvesse a presença soberana do amor neste acontecimento nada
disso teria ocorrido. Tudo teria sido evitado, meus irmãos. Todos estariam aqui
contando as suas histórias e tocando as suas vidas normalmente.
Estive na
França, ontem, para observar o clima geral. O que vi é um sentimento misto de
consternação e indignação. Consternação pelo que aconteceu e indignação quanto
ao abrupto procedimento dos radicais religiosos que, em momento algum, devem ser
confundidos com o povo islâmico que veementemente repudia este
atentado.
Nuvens escuras pairam sobre a França. Há um sentimento coletivo de
revolta e isto não é bom. A tendência, nestes casos, movido pela emoção geral, é
se tomar outras medidas radicais como resposta imediata e aí, sem proceder ao
devido cuidado, virará uma roda giratória de ações e contrarreações fomentando
ainda mais o ódio e o terror.
Neste momento, pedimos pela paz e pela
serenidade de espíritos. Se o amor não presidiu os atos das duas partes em
passado recente, não devemos incorrer nos mesmos erros. Devemos dar
imediatamente uma trégua, parte a parte, e repensar uma relação sadia e
construtiva, sobretudo porque observamos, de todos lados, oportunistas que
querem se aproveitar deste instante de instabilidade para gerar a desorganização
coletiva, fomentar a balbúrdia e o desentendimento.
A reflexão que se deve
fazer é esta: qual seria o melhor comportamento a adotar, daqui por diante, para
estancar esta sucessão de fatos?
Necessitamos voltar rapidamente ao
equilíbrio das emoções e evitarmos novas desgraças.
Sabemos que nos planos do
Altíssimo tudo é aproveitado para a promoção futura do bem, mas vigiemos para
que este bem não seja tardio, que não se proliferem outras atitudes de estímulo
ao terror e tampouco o aceleramento do preconceito com toda uma gente num
pensamento generalista e infundado que terá consequências
danosas.
Alimentemos, meus irmãos, a temperança.
Acalmemos os ânimos e
reflitamos as nossas ações na busca da paz e do entendimento.
Sugiro aos
dirigentes maiores das nações não apenas se encontrarem entre si, mas também com
as lideranças religiosas do Islamismo para que possam dar uma demonstração
conjunta de união em torno da paz e que não concordam com atitudes impensadas e
insanas de alguns de seus seguidores.
Encontremos, urgentemente, o caminho da
paz para asserenar os corações e que possamos retomar a vida com
tranquilidade.
Inspiremo-nos na figura de Nosso Senhor Jesus Cristo que
respondeu com o silêncio e a compreensão do outro quando lhe feriram e o juraram
de morte. Ele ainda tem muito a nos ensinar com seu exemplo de
vida.
Busquemos sempre a paz.
Helder Camara
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