Passadas as emoções
iniciais da morte coletiva de alguns cidadãos franceses por causa das charges do
jornal Charlie Hebdo, volto a abordar o assunto com mais tranquilidade.
Meus
queridos irmãos, quem escreve estas linhas é alguém que sofreu, na sua última
vida na terra, uma permanente perseguição e subtração da liberdade de expressão.
Passei vários anos como se estivesse morto pela imprensa oficial do meu País e
hoje estou aqui para uma reflexão mais ampla sobre o assunto.
O nosso Papa
Francisco, num gesto muito corajoso, disse, com suas palavras simples e diretas,
que não aceitava a violência de modo algum, mas que era preciso, no exame da
aplicação da liberdade de expressão, respeitar a opinião religiosa do próximo,
seja ela qual for. Foi ele na contramão de todos aqueles apelos de liberdade de
expressão que sublimou o mundo de protestos contra aquele danoso ato de
assassinato.
Pedia o Papa Francisco que verificássemos a fragilidade da fé
humana. As pessoas possuem um respeito, às vezes, sobre-humano com a sua fé. A
fé, para muitos, é a razão da própria vida. Alguns chegam ao ponto de
radicalizar na defesa desta fé. Não estão certos, é verdade, mas possuem um grau
de tolerância menor do que deveriam.
Lógico que poderiam ter evitado aquilo,
mas o exagero, o despropósito das mensagens do jornal francês, repetidamente,
insuflou o ódio daquela gente. Poderia tudo ser evitado se o bom senso
prevalecesse parte a parte.
O Papa Francisco exaltou que as pessoas reagem
imediatamente contra aquilo que defendem como ponto de fé. Disse que as
religiões devem ser respeitadas e, definitivamente, esta não era a prática
daquele jornal. Brincou-se com fogo o tempo inteiro e o incêndio, apesar dos
avisos, acabou ocorrendo.
Nossos irmãos muçulmanos merecem respeito com Alá e
Maomé. Os nossos irmãos judeus merecem respeito com Javé e Moisés. Nós merecemos
respeito com Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo.
A liberdade não nos dá o
direito da agressão gratuita e repetida. A liberdade, em todos os compêndios de
Direito, vem sempre associada ao conceito de responsabilidade.
Ora, houve
irresponsabilidade das duas partes, um excedeu, o outro respondeu, ambos em
desequilíbrio.
Quando iremos entender que o homem deve respeitar outro
homem?
Quando iremos compreender que devemos buscar a tolerância como
princípio básico das relações humanas para sua harmonia?
Quando nos
comportaremos como irmãos de verdade e não faremos ao outro aquilo que não
desejaríamos que o outro nos fizesse?
São estas regras básicas de convivência
humana que devemos aprender e exercitar no nosso dia a dia.
A fé de cada um,
qualquer que seja, até mesmo a ausência de fé, deve ser respeitada e
incentivada. Cada qual ao seu modo encontra a Deus e exerce a sua fé, isto é o
que é mais importante.
Peço aos franceses e ao mundo que reflitam mais sobre
todo este episódio e tire as lições fundamentais para que tenham uma convivência
sadia e pacífica com quem quer que seja.
A liberdade também se conjuga com
fraternidade, aprendamos esta lição imprescindível, meus irmãos.
Um
abraço,
Helder Camara
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