Entrevista sobre a Canonização dos
ex-Papas
Entrevista feita por mim com Dom Hélder Câmara sobre a
canonização dos papas João XIII e João Paulo II.
Estava acompanhando a
consagração dos papas João XXIII e João Paulo II, à condição de santos da Igreja
Católica. O senhor estava por lá?
- Sim. E saí de lá para o nosso compromisso
semanal.
Estava uma festa bonita, aliás, uma missa prestigiada.
- Claro.
Os nossos João XXIII e João Paulo II são figuras muito queridas entre nós da
Igreja Católica e também a muitos outros que não abraçam a nossa fé. São figuras
carismáticas e que serviram à causa do Cristo com destemor e alegria. É justo o
reconhecimento.
Já foi escrito neste espaço que o senhor tem uma visão
diferente sobre a questão da santidade, e eles?
- Pelo que eu sei eles
acompanham o meu raciocínio. Eles não estão fazendo questão do título que agora
recebem. Eles querem continuar a serviço do Cristo e não se sentem na
responsabilidade de serem santos. São homens comuns como nós, sem nenhuma pompa,
mas sentem-se alegres por serem agraciados. São obedientes, ainda, as
determinações do Vaticano em alguns aspectos, este é um deles.
Eles vão se
comportar como santos?
- Não. Como disse, eles se comportam como homens
comuns, não se vêem numa posição de destaque ou mais especial que os outros
homens. Apenas homens e não santos consagrados.
Mas eles serão reverenciados,
os pedidos vão chegar aos montes de agora em diante, imagino.
- É verdade,
mas nada que já não acontece.
O que eles fazem com estes pedidos?
-
Entregam tudo para Deus. São solidários aos que pedem e apenas “repassam” as
solicitações.
Os milagres que foram atribuídos a eles, é verdade?
- Não.
Eles hoje vêem isto com muito respeito, mas sabem que não possuem uma força
acima da natureza humana. Tudo que é feito possui uma explicação, nada que fuja
ao controle natural das coisas, algumas desconhecidas ainda pelos homens, mas
não há qualquer coisa de sobrenatural nestes fatos. Muito pode ser atribuído à
própria fé dos beneficiados.
Eles estão acompanhando a cerimônia?
- Sim.
Estavam em cadeiras separadas, cada um ao lado do papa Francisco. Sérios,
compenetrados, e em atitude de reverência. Nada de ostentação. Submissos, como
sempre, à vontade do Pai.
Como é que a Igreja Católica é organizada do lado
espiritual, o senhor pode nos responder isto?
- Posso, sim! Somos uma
organização eclesiástica plural. Não temos um papa como aí. Há diversas ordens
que se encontram permanentemente para debater as principais questões da Igreja.
Notadamente, os papas possuem posição de destaque neste colegiado, mas ninguém é
superior a ninguém. Periodicamente, são escolhidos os representantes do
Colegiado, não é algo fixo como o Colégio dos Cardeais e, entre eles, uma
espécie de coordenador geral, mas sem poderes maiores que os outros.
Fale-me
mais sobre João Paulo II e João XXIII, o que eles fazem?
- Continuam
trabalhando para o bem e para o Cristo. São servidores do “Carpinteiro”. Nada se
acham melhores que ninguém. João Paulo II rejuvenesceu, está mais parecido com a
imagem que chegou ao seu papado. João XXIII continua aquela doçura de sempre. É
um homem muito procurado pelos padres e outros da Igreja por aqui para
aconselhamentos. Muita gente, inclusive eu, vou me aconselhar com ele. É
considerado como o papa bom por aqui também. Irradia paz e tranquilidade a quem
o procura.
O senhor possuía diferenças de conceito de Igreja com João Paulo
II. O papa foi contrário, desde o início do seu papado, à Teologia da
Libertação. Foi ele quem desconstruiu muito do que havia feito, ou tudo. Como
fica a sua relação com ele agora?
- Muito boa, muito boa. Há coisas que não
podemos dizer por enquanto a vocês e que aqui nós vemos com olhos mais nítidos.
O papa João Paulo II sabe que houve alguns equívocos na condução de sua gestão à
frente da Igreja, mas tudo que fez tinha um propósito dentro da sua visão de
mundo. Ele avançou em muitos pontos, mas dentro da sua visão de mundo, repito.
Ele não queria ver, por hipótese alguma, a menor lembrança de Marx na Igreja.
Compreenda que ele veio de um país marcadamente comunista por muito tempo.
Embora a Teologia da Libertação nada tivesse a ver com Marx, na sua essência,
mas com o próprio Cristo, era considerada assim por muitos componentes da
Igreja. Ele apenas quis cortar pela raiz aquela movimentação.
O que é que
existe no lado que o senhor está que não pode ser dito?
- Muito, ainda. Há
informações que devem paulatinamente chegar ao mundo. Eu mesmo já fui chamado a
atenção por revelar coisas que não deveria, apesar de toda esta minha precaução.
Temos que obedecer ao que é decidido sob pena de não podermos mais falar em nome
da Igreja e ser apenas uma questão de ordem pessoal.
Mas vocês não estão
livres do compromisso da Igreja...
- Sim e não. O espírito quando deixa o
corpo físico e toma consciência posterior de sua condição escolhe o que vai
fazer. Se vai continuar a obedecer a Igreja e fazer parte de seus quadros ou vai
seguir uma caminhada livre. Eu e muitos outros optamos por continuar servindo a
Igreja nos dois lados da vida.
Continua obedecendo a ordens.
- Não é bem
assim, pois aqui compartilho das decisões tomadas e concordo com elas. Nada faço
que não tenha concordado antes. Se falei algo a mais é responsabilidade minha,
mas tenho me disciplinado a falar o que deve ser falado, por enquanto.
Qual a
relação de vocês com o papa Francisco?
- A melhor possível. Ele é um homem
afável, bom, compromissado com a Igreja. Ouve muito, mas é firme nas decisões.
Corre contra o tempo para fazer o que quer e precisa ser feito. Trabalha
incessantemente, sabe que seu tempo é breve para tudo que precisa ser feito. É
um homem de visão e bom estrategista, além de alguém simples e direto. Gostamos
muito dele por aqui.
Há divisões na Igreja como temos no mundo físico?
-
Há, sim. As divisões aqui são muito claras e reveladas. Diferente daí há
respeito entre nós sobre as posições uns dos outros. Compartilhamos, porém, da
maioria das decisões.
Sei que há ordens que trabalham fora deste script.
-
Há e muitas, mas elas não fazem parte deste colegiado. Há muitas que trabalham
para o Cristo de maneira equivocada. Refletem – e muito – pensamentos arcaicos
que não mais pertencem ao seio da Igreja. Não se desposaram das referências de
poder e mando do passado. Vivem na Idade Média da Igreja em suas mentes.
São
ligadas ao mal?
- São. Estas organizações se desviaram de Deus e de Jesus
porque não entenderem a proposta do bem e do amor que o Senhor Jesus nos trouxe.
Atendem mais a objetivos pessoais e não se aliam à política do Cordeiro na Terra
há bastante tempo.
Continuam vestindo os hábitos da Igreja Católica, a
batina?
- Continuam. É um símbolo de poder para eles. Suas roupas, no
entanto, são abarrotadas, gastas, e seus aspectos de aparência dão profundo
pesar. Todos, entretanto, são objetos de recuperação em Cristo. Há missões neste
sentido, recuperar os seguidores do Cordeiro para a sua seara.
O senhor quer
falar mais.
- Quero. A Terra passa por profundas transformações, muitas
invisíveis aos olhos humanos. Os papas em referência são trabalhadores argutos
do Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiramente incansáveis. O título de santidade
em nada alterará os seus comportamentos e a maneira de ver as coisas.
Respeitamos estes títulos, mas o único que nos cabe, que desejamos com todas as
nossas forças, é continuar servindo ao Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Por Carlos Pereira
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