28.4.14

Entrevista sobre a Canonização dos ex-Papas

Entrevista feita por mim com Dom Hélder Câmara sobre a canonização dos papas João XIII e João Paulo II.
Estava acompanhando a consagração dos papas João XXIII e João Paulo II, à condição de santos da Igreja Católica. O senhor estava por lá?
- Sim. E saí de lá para o nosso compromisso semanal.
Estava uma festa bonita, aliás, uma missa prestigiada.
- Claro. Os nossos João XXIII e João Paulo II são figuras muito queridas entre nós da Igreja Católica e também a muitos outros que não abraçam a nossa fé. São figuras carismáticas e que serviram à causa do Cristo com destemor e alegria. É justo o reconhecimento.
Já foi escrito neste espaço que o senhor tem uma visão diferente sobre a questão da santidade, e eles?
- Pelo que eu sei eles acompanham o meu raciocínio. Eles não estão fazendo questão do título que agora recebem. Eles querem continuar a serviço do Cristo e não se sentem na responsabilidade de serem santos. São homens comuns como nós, sem nenhuma pompa, mas sentem-se alegres por serem agraciados. São obedientes, ainda, as determinações do Vaticano em alguns aspectos, este é um deles.
Eles vão se comportar como santos?
- Não. Como disse, eles se comportam como homens comuns, não se vêem numa posição de destaque ou mais especial que os outros homens. Apenas homens e não santos consagrados.
Mas eles serão reverenciados, os pedidos vão chegar aos montes de agora em diante, imagino.
- É verdade, mas nada que já não acontece.
O que eles fazem com estes pedidos?
- Entregam tudo para Deus. São solidários aos que pedem e apenas “repassam” as solicitações.
Os milagres que foram atribuídos a eles, é verdade?
- Não. Eles hoje vêem isto com muito respeito, mas sabem que não possuem uma força acima da natureza humana. Tudo que é feito possui uma explicação, nada que fuja ao controle natural das coisas, algumas desconhecidas ainda pelos homens, mas não há qualquer coisa de sobrenatural nestes fatos. Muito pode ser atribuído à própria fé dos beneficiados.
Eles estão acompanhando a cerimônia?
- Sim. Estavam em cadeiras separadas, cada um ao lado do papa Francisco. Sérios, compenetrados, e em atitude de reverência. Nada de ostentação. Submissos, como sempre, à vontade do Pai.
Como é que a Igreja Católica é organizada do lado espiritual, o senhor pode nos responder isto?
- Posso, sim! Somos uma organização eclesiástica plural. Não temos um papa como aí. Há diversas ordens que se encontram permanentemente para debater as principais questões da Igreja. Notadamente, os papas possuem posição de destaque neste colegiado, mas ninguém é superior a ninguém. Periodicamente, são escolhidos os representantes do Colegiado, não é algo fixo como o Colégio dos Cardeais e, entre eles, uma espécie de coordenador geral, mas sem poderes maiores que os outros.
Fale-me mais sobre João Paulo II e João XXIII, o que eles fazem?
- Continuam trabalhando para o bem e para o Cristo. São servidores do “Carpinteiro”. Nada se acham melhores que ninguém. João Paulo II rejuvenesceu, está mais parecido com a imagem que chegou ao seu papado. João XXIII continua aquela doçura de sempre. É um homem muito procurado pelos padres e outros da Igreja por aqui para aconselhamentos. Muita gente, inclusive eu, vou me aconselhar com ele. É considerado como o papa bom por aqui também. Irradia paz e tranquilidade a quem o procura.
O senhor possuía diferenças de conceito de Igreja com João Paulo II. O papa foi contrário, desde o início do seu papado, à Teologia da Libertação. Foi ele quem desconstruiu muito do que havia feito, ou tudo. Como fica a sua relação com ele agora?
- Muito boa, muito boa. Há coisas que não podemos dizer por enquanto a vocês e que aqui nós vemos com olhos mais nítidos. O papa João Paulo II sabe que houve alguns equívocos na condução de sua gestão à frente da Igreja, mas tudo que fez tinha um propósito dentro da sua visão de mundo. Ele avançou em muitos pontos, mas dentro da sua visão de mundo, repito. Ele não queria ver, por hipótese alguma, a menor lembrança de Marx na Igreja. Compreenda que ele veio de um país marcadamente comunista por muito tempo. Embora a Teologia da Libertação nada tivesse a ver com Marx, na sua essência, mas com o próprio Cristo, era considerada assim por muitos componentes da Igreja. Ele apenas quis cortar pela raiz aquela movimentação.
O que é que existe no lado que o senhor está que não pode ser dito?
- Muito, ainda. Há informações que devem paulatinamente chegar ao mundo. Eu mesmo já fui chamado a atenção por revelar coisas que não deveria, apesar de toda esta minha precaução. Temos que obedecer ao que é decidido sob pena de não podermos mais falar em nome da Igreja e ser apenas uma questão de ordem pessoal.
Mas vocês não estão livres do compromisso da Igreja...
- Sim e não. O espírito quando deixa o corpo físico e toma consciência posterior de sua condição escolhe o que vai fazer. Se vai continuar a obedecer a Igreja e fazer parte de seus quadros ou vai seguir uma caminhada livre. Eu e muitos outros optamos por continuar servindo a Igreja nos dois lados da vida.
Continua obedecendo a ordens.
- Não é bem assim, pois aqui compartilho das decisões tomadas e concordo com elas. Nada faço que não tenha concordado antes. Se falei algo a mais é responsabilidade minha, mas tenho me disciplinado a falar o que deve ser falado, por enquanto.
Qual a relação de vocês com o papa Francisco?
- A melhor possível. Ele é um homem afável, bom, compromissado com a Igreja. Ouve muito, mas é firme nas decisões. Corre contra o tempo para fazer o que quer e precisa ser feito. Trabalha incessantemente, sabe que seu tempo é breve para tudo que precisa ser feito. É um homem de visão e bom estrategista, além de alguém simples e direto. Gostamos muito dele por aqui.
Há divisões na Igreja como temos no mundo físico?
- Há, sim. As divisões aqui são muito claras e reveladas. Diferente daí há respeito entre nós sobre as posições uns dos outros. Compartilhamos, porém, da maioria das decisões.
Sei que há ordens que trabalham fora deste script.
- Há e muitas, mas elas não fazem parte deste colegiado. Há muitas que trabalham para o Cristo de maneira equivocada. Refletem – e muito – pensamentos arcaicos que não mais pertencem ao seio da Igreja. Não se desposaram das referências de poder e mando do passado. Vivem na Idade Média da Igreja em suas mentes.
São ligadas ao mal?
- São. Estas organizações se desviaram de Deus e de Jesus porque não entenderem a proposta do bem e do amor que o Senhor Jesus nos trouxe. Atendem mais a objetivos pessoais e não se aliam à política do Cordeiro na Terra há bastante tempo.
Continuam vestindo os hábitos da Igreja Católica, a batina?
- Continuam. É um símbolo de poder para eles. Suas roupas, no entanto, são abarrotadas, gastas, e seus aspectos de aparência dão profundo pesar. Todos, entretanto, são objetos de recuperação em Cristo. Há missões neste sentido, recuperar os seguidores do Cordeiro para a sua seara.
O senhor quer falar mais.
- Quero. A Terra passa por profundas transformações, muitas invisíveis aos olhos humanos. Os papas em referência são trabalhadores argutos do Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiramente incansáveis. O título de santidade em nada alterará os seus comportamentos e a maneira de ver as coisas. Respeitamos estes títulos, mas o único que nos cabe, que desejamos com todas as nossas forças, é continuar servindo ao Nosso Senhor Jesus Cristo.
Por Carlos Pereira

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