RAIMUNDO da Mota de AZEVEDO Correia *
O vento corre uivante e desempedra
Alvo seixo engastado na montanha
A pedra solta cai sobre outra pedra,
Brotam faíscas de uma luz castanha...
Novo golpe do vento e o fogo medra
Na alfombra ressequida, em doida sanha...
Há luta que se alteia e se desmedra
No incêndio arrasador em fúria estranha..
Mais forte zune o vento e a tudo encrispa,
10. Sobem chamas cruéis de chispa em chispa...
O homem chora a perdida sementeira...
Também no mundo é assim... Por bagatela
13. Surge a paixão que se desencastela,
14. Queimando a safra de uma vida inteira
...
(*) Para Manuel Bandeira, RC “certamente é o maior artista do verso que já tivemos”. “O maior dos parnasianos”, afirma Agripino Grieco – “e um dos poucos que tiveram íntima sensibilidade, foi Raimundo Correia”. Exerceu cargos de magistratura, administração e diplomacia, e foi professor da Faculdade de Direito de Ouro Preto. Membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Ronald de Carvalho (Pequena Hist. Lit. Bras., pág. 295) declara que o poeta, “por suas tendências à meditação e seu entranhado amor aos problemas íntimos da consciência, ficou mais perto da anima rerum que os seus companheiros. “Em sua arte poética existia algo de nobre e superior, dentro de uma emoção nunca transbordante, mas sempre vigiadas pelo senso crítico.” (A. Lins e A. B. Hollanda, Rot. Lit., II, pág. 611). (A bordo do vapor brasileiro San’Luiz, barra de Mangunça, Município de Cururupu, Maranhão, 13 de maio de 1859 – Paris, 13 de setembro de 1911).
BIBLIOGRAFIA: Primeiros Sonhos; Sinfonias; Versos e Versões; etc.
10. Observe-se a onomatopéia, acentuando a idéia de incêndio: “chamas cruéis de chispa em chispa.../ O homem chora...
13. “Surge a paixão que se desencastela”. Este decassílabo sáfico com acento secundário na 8ª sílaba, conquanto venha de um parnasiano, não constitui inovação na poética de Raimundo Correia. Pelo menos é o que depreendemos dos exemplos seguintes, colhidos em sua Poesia Completa e Prosa:
- “Por sobre as águas indolentemente” (Verso 14º do soneto “Ofélia”, páginas 145-146);
- “De escuma, e raios e fosforescências...” (Verso 18º do poema “O Dia acorda”! Deus por uma fresta”, de Versos e Versões, pág. 190)
- “Vi-te no céu; e enamoradamente,” (Verso 2º do soneto “Beijos do Céu”, pág. 301)
14.O tema deste soneto – “Bagatela” – corresponde às características apontadas por Péricles Eugênio da Silva Ramos, sobre a poesia de RC: “As características de sua poesia são, pelo fundo, um agudo sentimento da transitoriedade das coisas e insolúvel pessimismo; e, pela forma, perceptível senso das virtualidades vocabulares. Sempre foi considerado um dos grandes do parnasianismo; e não há por que rever essa posição” (Pan. III, págs. 77-78)
Livro Antologia dos Imortais - Francisco C. Xavier e Waldo Vieira
O vento corre uivante e desempedra
Alvo seixo engastado na montanha
A pedra solta cai sobre outra pedra,
Brotam faíscas de uma luz castanha...
Novo golpe do vento e o fogo medra
Na alfombra ressequida, em doida sanha...
Há luta que se alteia e se desmedra
No incêndio arrasador em fúria estranha..
Mais forte zune o vento e a tudo encrispa,
10. Sobem chamas cruéis de chispa em chispa...
O homem chora a perdida sementeira...
Também no mundo é assim... Por bagatela
13. Surge a paixão que se desencastela,
14. Queimando a safra de uma vida inteira
...
(*) Para Manuel Bandeira, RC “certamente é o maior artista do verso que já tivemos”. “O maior dos parnasianos”, afirma Agripino Grieco – “e um dos poucos que tiveram íntima sensibilidade, foi Raimundo Correia”. Exerceu cargos de magistratura, administração e diplomacia, e foi professor da Faculdade de Direito de Ouro Preto. Membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Ronald de Carvalho (Pequena Hist. Lit. Bras., pág. 295) declara que o poeta, “por suas tendências à meditação e seu entranhado amor aos problemas íntimos da consciência, ficou mais perto da anima rerum que os seus companheiros. “Em sua arte poética existia algo de nobre e superior, dentro de uma emoção nunca transbordante, mas sempre vigiadas pelo senso crítico.” (A. Lins e A. B. Hollanda, Rot. Lit., II, pág. 611). (A bordo do vapor brasileiro San’Luiz, barra de Mangunça, Município de Cururupu, Maranhão, 13 de maio de 1859 – Paris, 13 de setembro de 1911).
BIBLIOGRAFIA: Primeiros Sonhos; Sinfonias; Versos e Versões; etc.
10. Observe-se a onomatopéia, acentuando a idéia de incêndio: “chamas cruéis de chispa em chispa.../ O homem chora...
13. “Surge a paixão que se desencastela”. Este decassílabo sáfico com acento secundário na 8ª sílaba, conquanto venha de um parnasiano, não constitui inovação na poética de Raimundo Correia. Pelo menos é o que depreendemos dos exemplos seguintes, colhidos em sua Poesia Completa e Prosa:
- “Por sobre as águas indolentemente” (Verso 14º do soneto “Ofélia”, páginas 145-146);
- “De escuma, e raios e fosforescências...” (Verso 18º do poema “O Dia acorda”! Deus por uma fresta”, de Versos e Versões, pág. 190)
- “Vi-te no céu; e enamoradamente,” (Verso 2º do soneto “Beijos do Céu”, pág. 301)
14.O tema deste soneto – “Bagatela” – corresponde às características apontadas por Péricles Eugênio da Silva Ramos, sobre a poesia de RC: “As características de sua poesia são, pelo fundo, um agudo sentimento da transitoriedade das coisas e insolúvel pessimismo; e, pela forma, perceptível senso das virtualidades vocabulares. Sempre foi considerado um dos grandes do parnasianismo; e não há por que rever essa posição” (Pan. III, págs. 77-78)
Livro Antologia dos Imortais - Francisco C. Xavier e Waldo Vieira
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