C´est la Vie!

Por que pensar que tudo termina no anoitecer da vida?
Por que não imaginar, o que é mais lógico, que a curva seguinte pode nos levar a outra esfera do viver?
Eu tenho pensado, cá onde estou, o porquê cremos que o fim da matéria é o fim de tudo. Logo me vem a mente que a nossa perspectiva predominante, quando estamos vestidos na carne, é crer que tudo começa e termina nela.
Há, no íntimo de todos, um desejo profundo de sobrevivência e continuidade.
Há, no imo de cada ser, uma vontade legítima de manter-se ativo.
Há, na profundeza da alma, uma certeza inaudita de jamais deixar de existir.
Então, por todas estas razões e muitas outras, por que não admitir que a esquina próxima, aquela que ninguém mais no vê, nos leva a outros caminhos?
Onde estou somente encontro vida e vida pulsante.
Vida em abundância como prometia o mestre Jesus.
Aquele que diz que tudo acaba depois da aventura na carne é porque ainda não se deu conta em si mesmo que pode transcender as coisas.
Eu estou aqui falando com vocês e dizendo bem alto da vida eterna e mesmo assim muitos duvidarão da minha fala dizendo que isto é coisa delirante de um fascinado.
Que posso fazer diante da incredulidade reinante senão ter paciência para que estes um dia acordem para sua realidade interior.
Eu sei que a morte para muitos é horripilante, coisa maldita, mas teremos que enfrenta-la em algum momento, seja a nossa, seja de alguém mais próximo, então por que não enfrenta-la com serenidade e paz?
Dia virá, possivelmente, que maioria das gentes encararão a morte como algo natural no processo da vida, vida que apenas se transmuta.
Alguém poderá dizer, usando um clichê bem materialista, que até o momento ninguém veio dizer como era depois do muro da vida física.
Bobagem!
Quem não deseja ver o óbvio envolve-se em desculpas sem qualquer condição de sustentação.
Eu vejo, porém, um outro lado da morte, a morte em vida.
Quantas pessoas morrem em vida?
Há pessoas que já morreram em vida e caminham por aí à semelhança dos zumbis.
A morte existencial, gente, é morte sim que se preocupe.
Morte em vida é aquela em que se perde a razão para viver.
Ora, isto é morte verdadeira, porque é a ausência do querer viver. Isto é terrível.
Por isso, essa loucura manifestada em depressão sem fim.
Esse embotamento humano também ocorre do lado de cá da vida. Há, portanto, pessoas que nascem predispostas a morrer. Este é um trabalho de recuperação que os terapeutas da vida têm que se preocupar – e o pior é que não são poucos os zumbis em vida.
Agora que vejo a vida com olhos mais límpidos, desejo reafirmar o meu compromisso com a beleza da vida. Como é lindo e estonteante o ato de viver.
Veja vida pulsante nas árvores, nos pássaros, no ar, no céu, nas pessoas.
Veja vida delirante na música, num desenho, numa expressão artística qualquer.
Veja vida arrepiante no abraço de alguém, no olho no olho pela alegria do reencontro, no sorriso de uma pessoa que sente saudade de você.
Ah, como eu vivo alegremente nos dias de hoje, mais do que vivia quando estava entre vocês.
Por isso, vivam cada dia e cada momento como uma dádiva divina, porque de fato o é, graças de Deus.
Se somos imagem e semelhança do Criador e sendo o Criador a vida então somos vida, somente vida, e vida que chama mais vida.
Vida que floresce.
Vida que engrandece.
Vida que renasce.
C´est la vie!
Rubem Alves - Blog de Carlos Pereira
Texto recebido durante aula do módulo Tanatologia, do curso de Pós-graduação de Psicologia Transpessoal, em 6 de junho de 2022.