30.8.20

O Poder da Fé


De todas as histórias que já ouvi, uma me parece mais original.
Certa vez, contaram-me, um ancião buscava guarida para passar a noite. Seus passos trôpegos, um a um, parecia uma eternidade. Mas ele, resoluto, seguia ao destino que lhe esperava, ou seja, aquele que pudesse albergar lhe a cabeça naquela noite.
Numa subida íngreme, avistou uma casa ao longe. Era ali a sua última esperança. Ou ficaria ali durante a noite ou teria que dormir ao relento.
Foi lá o nosso bom velhinho ao encontro da sua última esperança.
Ao chegar a sua hospedaria desejada, depois de muito esforço, bateu a porta e esperou para ver quem atendia.
Uma moça, bem distinta, abriu a porta e lhe desejou boa noite.
Ele respondeu em seguida e disse de seu intento.
A moça, de sorriso nos dentes, disse que já estava esperando-o e que entrasse e se sentisse em casa.
Surpreso e alegre, ele adentrou aquela choupana e foi muito bem recebido.
Trouxeram-lhe uma bacia com água para lavar e acalmar os pés doloridos. Deram-lhe uma outra bacia para refrescar o corpo. Em seguida, lhe serviram um jantar delicioso, simples, mas extremamente delicioso.
Logo após, levaram o velhinho para um quarto, mostraram a cama que dormiria aquela noite e se despediram.
Ao amanhecer, os primeiros raios do sol o acordaram. Espreguiçou-se e se levantou para um novo dia. Sentia-se disposto e contente com tudo que havia acontecido na noite anterior. Agradeceu a Deus em suas preces matinais e ao abrir a porta deparou-se com uma mesa bem posta para o café-da-manhã.
Perguntou pelas moças. Ninguém o atendeu.
Abriu portas, saiu para ver lá fora se estavam lá. Ninguém.
Pensou consigo: devem ter ido trabalhar cedinho e não quiseram me acordar. Tomou seu café, esperou um pouco e como ninguém aparecera, saiu, foi embora.
Depois de muito tempo ficou a imaginar o que acontecera. Agradeceu novamente a Deus pela hospedaria e continuou a sua caminhada ao destino desejado.
Uma légua e pouco mais, parou numa espécie de comércio. Pediu água e falou da noite maravilhosa que tivera.
O senhor o olhou de alto a baixo e disse resolutamente:
- Meu senhor, vou lhe respeitar o que diz pelos seus cabelos brancos. Conheço bem aquelas paragens e posso lhe assegurar que ninguém mora naquele lugar há algum tempo. Ali moravam duas senhoras e suas filhas. Seus maridos haviam morrido de uma doença que passou por estas partes e elas ficaram viúvas com suas filhas, mas elas deixaram aquele lugar faz muito tempo. As moçoilas se casaram e partiram. As mães as acompanharam com seus maridos. Tenho certeza em dizer que ninguém mora por lá.
O velho ouviu aquelas palavras e ficou cheio de perguntas. Tudo aquilo era bastante real. O que comeu, o que viu, todas as sensações.
Pois bem, o que acontecera?
Foi aí que um moço que tudo ouvia lhe disse:
- Perdão pela intromissão, mas não é a primeira vez que ouço esta história de acolhimento naquela casa. Muitos outros viajores já deram depoimento semelhante ao seu. Creio que o que o senhor viu foram fantasmas.
- Fantasmas?
- Sim, fantasmas do bem.
- Será que estas mulheres viram fantasmas depois de dormir? Pareciam tão reais. A moça me disse que já estava me esperando e eu nem perguntei porquê.
Foi embora com a mente em ebulição.
Fantasmas, conversei com fantasmas. E como elas me aprontaram tudo aquilo? As perguntas pulavam na sua cabeça.
Em todo caso, agradeceu a assistência e reforçou ainda mais a sua fé em Deus.
Um dia, já esquecido desse episódio, encontrou com a tal moça que havia visto na hospedaria improvisada.
Espantou-se com a semelhança, só podia ser ela.
Aproximou-se, pediu licença, e contou a história.
A moça sorriu, balançou a cabeça, e lhe falou:
- Quando partimos daquela casa e sem com quem deixá-la, pedimos a Jesus que nada faltasse a alguém que procurasse ajuda naquele lugar. Meu pai sempre fez isso com os viajantes que nos procurava e nos ensinou que deveríamos ajudar a todos que nos procurasse. Eu acho que fui que estive lá, embora não me recorde de nada. Acho que Jesus ouviu as nossas preces.
Que incrível história, pensou o bom velhinho, e esta foi a sua experiência inusitada que consolidou a sua fé no Altíssimo, Todo Poderoso, e em Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Por que gosto tanto desta história que nem sei direito se ela realmente é verdadeira?
Acho que ela representa uma alegoria sobre o poder da fé.
A fé transporta montanhas - disse Jesus, então por que não pode dar uma boa dormida a quem precisa? Isto é café pequeno para quem tem fé.
Essa história, pela sua singeleza, desperta em mim bons pensamentos e sentimentos.
A força da fé é tamanha que nem imaginamos como ela funciona. E em tudo está a marca inconfundível do apelo a Deus em forma de prece, de uma rogativa sincera e cheia de certeza.
A fé que transporta montanhas é a mesma fé que pode tirar alguém da depressão, do desemprego, do desespero, da doença profunda, dos distúrbios de toda ordem.
A fé inquebrantável não se explica. É um depositório cego de confiança. Algumas meio desprovidas de bom senso, outras eivadas de elevadas intenções.
Tudo é fé e tudo faz mover na direção que a colocarmos.
Seja a sua fé aquilo que te abasteça de forças para o bem, para o bom seguir na vida, para que te faça feliz.
E lembrou Jesus que se a tivéssemos do tamainho de um grão de mostarda...
Helder Camara - Blog Novas Utopias

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